IHU On-Line - Como será a articulação do governo Dilma com os movimentos sociais?
Rudá Ricci - Vamos tentar definir melhor, pois eu não chamaria de movimentos sociais, mas organizações populares. Isso porque grande parte não é movimento social. É o caso das pastorais sociais. Elas se articulam, mas não são movimentos sociais. As organizações populares hoje no Brasil podem ser divididas em dois grandes blocos. Umas são as organizações populares com uma concepção mais à esquerda. Estas são, talvez, 80% das organizações populares do Brasil, incluindo aí alguns movimentos sociais, como é o caso do movimento ambientalista. Essas organizações populares mais à esquerda podem ser divididas em dois campos: a primeira tem uma relação muito tensionada com o lulismo. As pastorais sociais ligadas à Teologia da Libertação têm uma dificuldade muito grande de se relacionar com o governo Lula. Ao mesmo tempo, por terem um compromisso mais à esquerda, no momento de crise eles acabam apoiando o governo, mas as relações do dia a dia são muito conflitivas por parte dos dirigentes que dizem que o Lula rasgou os compromissos históricos. Neste caso, vai ser como foi com o governo Lula.
O segundo bloco vive do financiamento público. Em tese, não é nada que deponha contra eles. O que ocorreu é que nos anos 1990 nós tivemos um fortíssimo corte de financiamento externo para as organizações populares no Brasil, o que vai continuar, e houve uma busca de estratégia de sobrevivência. E aí todos os governos entraram. O Kassab, por exemplo, contratou um monte de ONGs para terceirizar serviços. E grande parte dos técnicos contratados pelas ONGs hoje nem fala em política, falam em profissão.
O que me preocupa não é o campo da esquerda, mas o da direita. Creio que vai surgir no Brasil, a exemplo do que ocorre nos EUA e na Espanha, um movimento de classe média ultraconservador que já apareceu no final do primeiro turno. Nós já temos o discurso e a liderança e, por isso, é bem provável que no final do governo Dilma apareça um movimento social deste tipo. A Igreja ultraconservadora voltará a ter força no Brasil.
* Instituto Humanitas Unisinos (05.11.2011 - in Adital)
Rudá Ricci é graduado em Ciências Sociais pela PUC-SP. É mestre em Ciência Política e o doutor em Ciências Sociais pela Unicamp. Atua como consultor no Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal e do Instituto de Desenvolvimento. É diretor do Instituto Cultiva e professor da Universidade Vale do Rio Verde e da PUC Minas.
As forças progressistas, da Teologia da Libertação, incluindo teólogos/as, pastorais sociais, Cebs, agentes de pastoral, religiosos/as, leigos e leigas, se mobilizaram para participar da Conferencia de Aparecida (2007) - uma des suas ações foi a Tenda dos Mártires, como espaço aberto, celebrativo, por 15 dias, enquanto durou a Conferência. A Tenda dos Mártires foi um alerta à toda Igreja para não esquecer seus mártires, sua caminhada, sua identidade de libertação.
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segunda-feira, 8 de novembro de 2010
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