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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

PAPA MUDA INTERLOCUTORES DA IGREJA

Frei Betto/////////////////////////////////////////////////////////////////// Líderes de movimentos populares de vários países terão encontro com o papa Francisco nos próximos dias 27, 28 e 29 de outubro, em Roma. Do Brasil estarão presentes João Pedro Stédile, pelo MST e Via Campesina, e representantes da Central de Movimentos Populares, Levante Popular da Juventude, Coordenação Nacional de Entidades Negras, Central Única dos Trabalhadores, Movimento de Mulheres Camponesas e um indígena do povo Terena. A carta convite é assinada por Stédile e por Juan Grabois, que representa o Movimento dos Trabalhadores Excluídos e a Confederação de Trabalhadores da Economia Popular, da Argentina. O evento é um desdobramento do simpósio As emergências dos excluídos, realizado em dezembro de 2013, no Vaticano, do qual Stédile e Grabois participaram. Denominado Encontro Mundial de Movimentos Populares, contará ainda com a participação de 30 bispos, “de distintas regiões, que mantêm fortes vínculos com o trabalho social e os movimentos populares.” O evento resulta da articulação do Conselho Pontifício de Justiça e Paz, presidido pelo cardeal ganês Peter Turkson, com diversas organizações populares. Tem como objetivos partilhar o pensamento social de Francisco; elaborar uma síntese da visão dos movimentos populares em torno das causas da crescente desigualdade social e do aumento da exclusão no mundo; refletir sobre as práticas organizativas dos movimentos populares; propor alternativas populares para “enfrentar os problemas que o capitalismo financeiro e as transnacionais impõem aos pobres, com a perspectiva de construir uma sociedade global com justiça social, a partir da realidade dos trabalhadores excluídos”, frisa o convite. Enfim, “discutir a relação dos movimentos populares com a Igreja e como avançar nesse sentido.” Entre painéis e oficinas previstas, destacam-se: “Exclusão social e desigualdade”; “Desigualdade social à luz do documento Alegria do Evangelho”; “Doutrina social da Igreja”; “Meio ambiente e mudanças climáticas”; “Movimentos pela paz”; e “Articulação Igreja e Movimentos populares”. É a primeira vez na história da Igreja que um papa convoca líderes de movimentos sociais para um encontro de três dias, e não uma simples audiência protocolar, como a que monitorei em 1980, em São Paulo, ao levar um grupo de sindicalistas, entre os quais Lula e Olívio Dutra, para um encontro com João Paulo II, na capela do colégio Santo Américo. Há, nessa iniciativa, algo inédito: outrora os papas, ao debater a conjuntura mundial, convocavam banqueiros, empresários, homens de negócio. Francisco, coerente com a sua opção pelos pobres, quer ouvir aqueles que os representam, provocando uma mudança significativa na qualidade de interlocutores da Igreja Católica. Em seu documento Alegria do Evangelho (novembro 2013), Francisco considera o capitalismo intrinsecamente injusto: “Enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível erradicar a violência. Isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reação violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e econômico é injusto na sua raiz” (59).

terça-feira, 23 de setembro de 2014

NOTA DE REPUDIO CONTRA AÇÕES VIOLENTAS DA POLÍCIA MILITAR E A OMISSÃO DO PODER JUDICIÁRIO NA REINTEGRAÇÃO DE POSSE DA AVENIDA SÃO JOÃO 601, NO DIA 16 DE SETEMBRO DE 2014 E A VIOLÊNCIA PRATICADA CONTRA OS TRABALHADORES/AS INFORMAIS E A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA!

Desde meados dos anos de 1990, diversos Movimentos de Luta pela Moradia, a População em Situação de Rua e os Trabalhadores Informais, vêm realizando uma luta sem tréguas contra a especulação imobiliária e a higienização no centro de São Paulo. Nesta guerra contra os pobres, no território do centro da cidade, a especulação imobiliária se aliou ao poder judiciário, ao poder publico e a policia militar, com a finalidade de criminalizar os movimentos populares, agredindo e tentando expulsar os Sem Teto, os Trabalhadores Informais, a População de Rua e todos os excluídos/as da região. As vítimas do modelo excludente de cidade passaram a ser tratadas como responsáveis pelo caos urbano que tem origem na falta de democratização do acesso à cidade. As elites querem um centro higienizado e sem pobres, que satisfaça exclusivamente seus direitos individuais. Assim, vêm utilizando todas as formas de violência para atingir o seu objetivo. O que ocorreu no dia 16 de setembro de 2014, no centro de São Paulo, no despejo violento do hotel Aquarius, se sucedendo aos ataques da GCM e da PM na região da “Cracolândia”, contra os usuários de drogas e a população em situação de rua, somados ao assassinato de um trabalhador ambulante por um PM na região da Lapa, são apenas mais alguns dos tristes e perversos capítulos desta agenda de higienização e massacre da população pobre. Portanto, não são fatos isolados, fazem parte da mesma matriz higienista de violência. A REINTEGRAÇÃO DE POSSE DO HOTEL AQUARIUS retrata a violência institucional e a supressão de todos os direitos constitucionais da população pobre. Uma propriedade abandonada há dez anos foi protegida pelo Poder Judiciário e pela Polícia Militar em detrimento ao direito das famílias, é o direito individual se sobrepondo ao direito coletivo, mesmo que a Constituição Federal determine o contrário. Mas não foi apenas isso: a reintegração de posse foi executada MESMO SEM OS MEIOS NECESSÁRIOS, com o uso abusivo da força policial – muitas pessoas foram agredidas, crianças e mulheres foram atingidas por bombas dentro do prédio, pelo menos dois jovens tiveram os seus braços quebrados pela PM, diversas pessoas foram alvejadas e atingidas por balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogênio e, ao final, os despejados ainda foram submetidos a tratamento desumano, com detenção sem acusação formal, sem que pudessem ir ao banheiro, beber água ou se alimentar. A porta da ocupação, num ato de violência sem tamanho, foi arrombada pelo caminhão do choque. Homens, mulheres e crianças relataram que a PM, num “corredor polonês” os agrediu dentro da ocupação. Crianças de colo - bebês, inclusive uma criança cadeirante - foram detidas e conduzidas com seus pais e avós ao 3º Distrito Policial, ficando expostos por horas, no chão do posto de gasolina na esquina da Rua Aurora com a Avenida Rio Branco. Assim, Manifestamos aqui toda nossa solidariedade à FLM – Frente de Luta Por Moradia – pela resistência. Repudiamos todos os atos de violência militar nesta desocupação, repudiamos também, os atos violentos da GCM e da PM contra os usuários de drogas na Região da Cracolândia, no dia 18/09/14, repudiamos a morte de um trabalhador informal assassinado por um PM, na região da Lapa na mesma quinta feira, dia 18/09/14. Exigimos a apuração de todos os atos de violência da PM, com punição para os culpados. Pelo fim das ações violentas da GCM. Pelo fim da criminalização dos movimentos populares e dos defensores/as de direitos humanos. Abaixo a especulação imobiliária. Exigimos um judiciário que defenda a população e não a especulação. Pela desmilitarização da PM. LUTAREMOS PELA JUSTIÇA SOCIAL COM TODAS AS NOSSAS FORÇAS E ELES NUNCA ATINGIRÃO SEUS OBJETIVOS. PODEM NOS AGREDIR, MAS CONTINUAREMOS A RESISTIR! PELO DIREITO À CIDADE, LUTA CONTINUA! Frente de Luta Pela Moradia (FLM); Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos; Central de Movimentos Populares (CMP); União dos Movimentos de Moradia de São Paulo UMM); Movimento Sem Teto do Centro – MSTC; Movimento Moradia Para Todos; Fórum dos Trabalhadores Informais; Movimento de Moradia da Região Centro; Unificação das Lutas de Cortiços; Ouvidoria da Defensoria Publica do Estado de São Paulo; Comitê Popular da Copa; Escritório Modelo da PUC; Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico; Núcleo Direito à Cidade da USP; Movimento Nacional da População de Rua; Pastoral do Povo da Rua; Movimento Nacional dos Direitos Humanos; Serviço Pastoral dos Migrantes; Consulta Popular

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Os discípulos discutiam sobre quem, dentre eles, seria o maior

18.08.14 - Brasil///////////////// Nayá Fernandes//////////////////// Adital//////////////////////////////////// Em uma das vezes que Jesus fala do templo, exalta a pedra que os pedreiros rejeitaram (Sl 117), ou seja, aquilo que, na prática não foi escolhido para fazer parte do templo. Em uma de suas visitas à sinagoga, foi expulso (Lc 4,16ss), em outra, derrubou as mesas dos cambistas no templo (Mt 21). Importante lembrar também que, no pequeno povoado de Nazaré, onde Jesus vivia, possivelmente nem tivesse escola ou grandes construções. Igualmente em Carfanaum, afirma a arqueologia moderna, havia somente pequenas casas, bem próximas umas das outras. O motivo de existir da Igreja Católica e das demais Igrejas cristãs, Jesus, foi um mestre para poucos. Historicamente ele não construiu, com suas mãos ou mesmo dos seus discípulos, nenhuma estrutura física para se reunir com seus seguidores. Eles se encontravam nas casas, nas ruas, nas praças, nos campos cultivados, nas montanhas. Os seguidores do caminho eram reconhecidos pela partilha do pão, pela leitura das escrituras e pelas ações no meio do mundo. Com o tempo, e a instituição da Igreja, sobretudo depois que o Cristianismo se tornou a religião oficial do Império, a situação começou a mudar. Ocidente e Oriente investiram em arte para construção de grandes templos e ainda hoje, a Paróquia, seja no ambiente rural ou na cidade, é sinal da presença da Igreja Católica. A estrutura física tornou-se tão importante que, em determinados contextos, sobretudo urbanos, pode significar a não formação de uma comunidade cristã. A questão do templo e suas dimensões, voltou com toda a força dentro da Igreja Católica, devido à inauguração do "III Templo de Salomão”, no Brás, centro da capital paulista. Idealizado e mantido pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), entre outras notícias, salientou-se que a estrutura recém construída é três vezes maior que a Basílica Menor de Nossa Senhora Aparecida, na cidade de Aparecida (SP). Alguns membros do clero levantaram a voz para desmentir o que foi anunciado e tem se publicado notas, periódicos e artigos para provar que Aparecida é maior, inclusive em tamanho, atividades, números de fiéis etc. Contradição. Recentemente, a CNBB publicou um documento em que afirma que a Paróquia é uma "rede de comunidades”, ou seja, é formada por pequenos núcleos e funciona em rede, favorecendo assim, a partilha e comunhão entre os membros. Enquanto isso, surgem as mais diversas interpretações acerca do embate. Já ouvi biblistas afirmarem que a construção do templo de Salomão é uma nova "torre de Babel” e cobrando a manifestação, por exemplo, da comunidade judaica. "Que autoridade os judeus têm para pedir aos católicos que não pronunciem o tetragrama sagrado, Javé, se eles não se manifestaram acerca deste absurdo?”, questionou. Contudo, é preciso dosar bem. Entre judeus e católicos há um diálogo histórico, enquanto a recém criada IURD tem atitudes que não a classificam como uma religião constituída, mas como uma nova expressão de fé. Além disso, tais embates podem dificultar, ainda mais, o diálogo inter-religioso e dar razão para brigas entres vizinhos de igrejas diferentes. Afinal, a preocupação com tamanho, quantidade e sucesso nunca foi a preocupação de Jesus. Ele mesmo criticou os discípulos quando esses voltaram da missão afirmando que até os demônios os obedeciam e não cedeu quando alguns, entre os dele, queriam o fazer rei (Jo 6). Certamente o Reino de Deus não está nas dimensões físicas de uma igreja e, por mais que este espaço proporcione o encontro com Deus e algumas comprinhas no shopping, a briga para provar quem é o maior, está longe de ser a briga travada pelo mestre contra aqueles que se utilizavam da religião oficial na sua época para oprimir o povo e colocar sobre eles "pesadas cargas”. Qual é o questionamento mais oportuno? Não vamos aqui falar dos males que as igrejas também provocaram, para não acalentar aqueles que se satisfazem com estas críticas. Ainda assim, não é possível fechar o olhos e não se perguntar qual o direcionamento do dízimo pago no Templo de Salomão ou quais os mecanismos de dominação utilizados para persuadir e até mesmo amedrontar os fiéis. Questionar os métodos, os absurdos, todo tipo de corrupção e falsidade da IURD e seu fundador Edir Macedo, isso sim parece ser legítimo. Mas é tão legítimo quanto o deve ser na Igreja Católica. E não só quando se refere à aspectos financeiros, mas também morais e aqui entram todos os crimes no campo sexual, religioso e usurpação do poder concedido pela própria Igreja Católica. O contrário é defesa insegura, é medo de perder território, é uma falsa proteção. Para mim, proteger a Igreja, significa lutar pelos que sofrem, pelos que não têm voz, pelos que não têm quem os defenda. Não são as paredes que devem ser defendidas das calúnias, mas as pessoas, muitas delas mortas injustamente, simplesmente porque tiveram coragem de sair dos limites físicos que as protegiam. Aí, a lista é grande. Mas a mídia pouco fala, mas deles pouco se lembra. São pequenos, simples e nunca construíram nenhum templo. http://www.adital.com.br/site/noticia_imp.asp?lang=PT&img=S&cod=81999