Visualizações desde 2005

sábado, 30 de março de 2013

Padre José Comblin continua VIVO através do seu testemunho e dos seus escritos!

28.03.13 - Mundo Monica Maria Muggler Missionária leiga na Diocese de Barra (Paraíba) Adital Hoje celebramos os 33 anos do martírio de Monsenhor Romero. O quanto padre José Comblin reverenciava Romero a quem considerou um dos Santos Padres da América Latina! Dizia que "Oscar Romero nunca teria sido profeta se não tivesse sido arcebispo de San Salvador na época da ditadura militar no seu país.” e mais adiante conclui: "A missão profética começa quando se descobre a realidade da opressão e da violência, ou seja, a verdadeira condição dos pobres”(1). Certamente se regozijam juntos lá no céu e acompanham a jornada terrestre da Igreja à qual buscaram dar a feição de Jesus: uma igreja presente, compassiva, humilde e humana, acolhedora dos pequenos, defensora dos pobres. Dois anos se passaram desde a Páscoa de padre José Comblin. E como sentimos a sua falta... Sobretudo por ocasião da renúncia do Papa: quantos desejaram ouvir suas palavras, suas análises, sua opinião. E mais ainda com a eleição de Francisco. O que ele nos diria a partir do seu aguçado sentido da história? Ele sempre enxergava mais longe. Dizia que o que está em jogo é a necessidade de mudança no modo de exercício do ministério de Pedro. Dizia seguidamente que a Igreja precisa mudar. Na sua visão, o caminho seria o retorno à simplicidade das origens, simplicidade de vida, de relações, no exercício do governoe da autoridade. Retomar a simplicidade nocontexto atual sempre mais complexo edesafiante, que exige criatividade para atualizar as respostas. Voltar ao essencial, priorizar as relações humanas, a acolhida, a compaixão, o serviço, a solidariedade. Voltar-se aos pobres que continuam sendo bilhões e são os prediletos do Pai - sempre serão. E ter a coragem de demolir tudo o que esconde a face de Jesus e o Evangelho. Hoje cada vez mais são os gestos que falam, são as atitudes que autenticam qualquer palavra. A humanidade carece de gestos fortes, contundentes, que apontem outro rumo, o rumo da fraternidade, da irmandade, da prioridade da pessoa humana, da verdade e da justiça, do cuidado especialmente com os pobres e com a natureza, a mãe terra e água. E ele sempre dizia que é o Espírito que conduz e mostra os caminhos da missão, que leva ao encontro dos pobres. É preciso deixar-se conduzirpelo Espírito e ter como critério a lei maior que é o Amor. Assim ele mesmo pautou a sua vida quando afirmava: A Missão não se pode planejar: temos que deixar o Espírito Santo conduzir. Podemos, sim, decidir aonde iremos; mas ao chegar, se tivermos abertura e sensibilidade ao que encontrarmos, não mais podemos planejar: cada situação exige uma resposta, uma ação, uma continuação... será o Espírito que dirá o que fazer, como prosseguir! Foi assim que ele seguiu o seu sacerdócio, tornou-se missionário, veio para o Brasil e a América Latina, percorreu esse continente buscando ser presença nas Igrejas particulares onde ele percebia abertura ao novo, ao sopro do Espírito. A liberdade cristã é deixar-se conduzir pelo Espírito, sem itinerários pré-definidos, mas atentos aos apelos da realidade, às condições de vida dos pobres, descobrindo como intervir sem perder a hora. Certamente muito podemos aprender seguindo os percursos de sua vida(2). Sem dúvida ele viveu os tempos privilegiados do despertar da Igreja Latino Americana. Ele chegou pouco antes do Concílio Vaticano II. Acompanhou e contribuiu com as conferencias episcopais que desde Medellín em 1968- e, sobretudo, em Medellín - buscaram aplicar à realidade do continente as intuições conciliares. Foi incansável nas articulações, nas assessorias, nas análises elucidativas da realidade, das necessidades, da condição de vida do povo latino-americano, das necessárias respostas eclesiais. Secundou o nascimento da Teologia da Libertação, compartilhou os impasses, as incompreensões, alimentou as elaborações teológicas com perspicácia ímpar. Sempre destacava algo novo, muitas vezes incomodo, nem sempre compreendido, sua percepção fina da realidade muitas vezes era considerada pessimismo. Mas nós somos testemunhas da sua Fé, da sua Esperança, do seu Amor à Igreja e aos Pobres. Por ele fomos provocados e estimulados ao seguimento de Jesus. Ele nos ajudou a encontrar o Jesus dos Evangelhos que atraiu e segue atraindo discípulos, dois mil anos depois. Há poucos dias celebramos antecipadamente os seus noventa anos de nascimento, através de uma Romaria ao Santuário Padre Ibiapina, na Paraíba, onde ele se encontra sepultado. Cerca de 450 pessoas, amigos, discípulos, alunos e ex-alunos das Escolas e Centros de Formação Missionária vieram de todos os estados do Nordeste, também do Amazonas, Maranhão, Mato Grosso e até do Sudeste! Proclamamos através das Celebrações, vigílias, depoimentos, testemunhos e apresentações que A Esperança dos Pobres vive e viverá! Foram momentos ricos de memória e ação de graças, bebendo na fonte destes grandes mestres da Fé, da Esperança e da Caridade, os padres Ibiapina e José Comblin. Foi a 1ª Romaria Missionária, que desejamos repetir a cada cinco anos, retomando a memória e renovando nossa Fé - porta de entrada para a Esperança, como ele mesmo nos ensinava. A Esperança renasceu no coração de muitos que experimentaram nesse imenso encontro-reencontro de irmãos e irmãs, o quanto a Igreja Povo de Deus, a Igreja dos Pobres está viva, presente e atuante na marcha da Libertação. Humilde e pobre, presente e anônima nas galileias de nosso Brasil, seguimos firmes de olhos fixos em Jesus, nossa meta e nossa Esperança. Mas precisamos conhecer sempre mais o Jesus que se revela nos Evangelhos. E contar com a força do Espírito para atualizar a presença de Jesus em nosso mundo, em nossa sociedade, no chão onde vivemos e atuamos! Querido padre José Comblin, obrigada pelo seu testemunho e pelos seus ensinamentos que nos alimentarão para sempre! Interceda por nós para que sejamos fiéis e perseverantes, que escutemos o clamor dos pobres e não nos calemos! Monica Maria Muggler 24 de março de 2013 Martírio de Mons. Oscar Romero! Notas: (1) Cf. José Comblin, "Aprofecia na Igreja segundo o testemunho de Dom Oscar A. Romero” - artigo publicado em Convergência 429, Rio de Janeiro, março 2010 pp.180-192. (2) Nesse sentindo proponho um biografia iniciante: "Padre José Comblin - Uma vida guiada pelo Espírito”, Nhanduti Editora, São Paulo. http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=74389

terça-feira, 26 de março de 2013

Um papa do sul e ‘um pouco de desordem’

22.03.13 - Mundo Selvino Heck Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República Adital Em março de 2005, às vésperas do Conclave que elegeu o papa Bento XVI, escrevi um artigo com o título ‘D. Cláudio Hummes’. "Morei com D. Cláudio em 1971/71 numa casa simples da rua Frei Germano, bairro Partenon, Porto Alegre. Ele era o Mestre da comunidade dos estudantes franciscanos de Teologia e Filosofia e professor de Antropologia Filosófica. D. Cláudio unia duas coisas. Ser um intelectual e professor brilhante (foi o primeiro a nos falar do marxismo sem ranço e preconceito nas aulas de Antropologia Filosófica) e ter sensibilidade pastoral e cuidado com os pobres e trabalhadores, mesmo sendo sempre um moderado com bom senso e conciliador.” D. Cláudio era citado como ‘papabili’ (daí a razão do meu artigo). Escrevi: "Alegra o fato de D. Cláudio dizer que o futuro papa deve preocupar-se com três coisas: é preciso a Igreja católica discutir as novidades da ciência na área da bioética e biogenética. O futuro papa deve ampliar o diálogo inter-religioso. (O Mestrado de D. Cláudio teve como tema o ecumenismo.) E deve preocupar-se com a pobreza no mundo, prioridade do governo Lula.” (Estávamos em 2005.) O artigo terminava assim: "Seria uma bênção se D. Cláudio, com sua história e vivência, fosse o futuro papa, um franciscano, um brasileiro, um latino-americano”. As profecias nem sempre se cumprem no tempo em que se espera. 2013 pode estar sendo 2005, com a eleição do papa Francisco, argentino, latino-americano, que escolheu o nome de Francisco de Assis, e teve grande apoio de D. Cláudio. Escrevi há algumas semanas em ‘Quero um Papa do Sul’: "Quero um papa do Sul para olhar para os pobres e trabalhadores/as e dizer: Vinde a mim, os pequeninos, porque de vocês é o Reino dos Céus. Quero um papa do Sul para olhar os continentes historicamente subjugados, inclusive pela Igreja católica, tratados apenas como terras a serem conquistadas e catequizadas e não como espaços de liberdade e construção de povos e nações. Quero um papa do Sul para olhar indígenas, negros/as, quilombolas, catadores/as de material recicláveis, população em situação de rua e todos os oprimidos como sujeitos de direitos. Quero um papa do Sul para olhar com outro olhar, tal como Jesus olhou e abençoou a samaritana, as mulheres, os homossexuais, todas e todos aqueles sempre desprezadas/os e jogadas/os à margem. Quero um papa do Sul para que o cristianismo retome as raízes das comunidades dos primeiros cristãos, onde a assembleia dos fiéis tinha um só coração e uma só alma e ninguém considerava como seu o que possuía e colocavam em comum tudo o que tinham. Quero um papa do Sul para que bispos tirem as mitras da cabeça, as vestes de ouro do corpo e a sua força esteja no seu ministério, no amor ao próximo e não na roupa suntuosa que vestem. Quero um papa do Sul para que o poder na Igreja seja partilhado. Quero um papa do Sul para que não se fale mais de pedofilia na Igreja, sem que nada seja feito, nada aconteça, para que não se fale mais de corrupção e ninguém sendo condenado, e se acabem com as mil hipocrisias como as do celibato de muitos padres. Quero um papa do Sul, mesmo sabendo que poderá ser mais um conservador, porque sei que a pressão vinda de baixo acabará sendo benéfica e seu olhar de Sul do mundo acolherá o novo e a profecia. Quero um papa do Sul capaz de dialogar com todas as igrejas e religiões, de judeus e muçulmanos, evangélicos e religiões de matriz africana, budistas e espíritas. Quero um papa do Sul amigo de povos e nações, chineses e palestinos, cubanos e vietnamitas, eslavos e indígenas, moçambicanos e neozelandeses. Quero um papa do Sul compreendendo os novos ventos que sopram na América do Sul e América Latina, os movimentos sociais e governos democráticos e populares da região. Quero um papa do Sul que seja humano, não um quase Deus longe do povo, da vida e do testemunho dos fiéis e da realidade vivida por cristãos e comunidades. Estou querendo muito? É sonho? Um dia, se não agora, irá acontecer. E em algum tempo da história, será uma mulher”. O papa é argentino, é latino-americano, é amigo de D. Cláudio e escolheu Francisco como nome e referência de seu pontificado. Vai acontecer tudo o que sonho? Não sei. Mas há uma esperança. D. Cláudio disse em entrevistas: "Será uma tarefa difícil, mas a reforma da Cúria está sendo pedida por todos. A Igreja não funciona mais. É preciso que seja reformada. Também acho importante que o papa tenha vindo da periferia ainda pobre, emergente. Isso é uma confirmação para todos os católicos. Temos agora um jesuíta que é Francisco. É realmente um programa de vida. A escolha do nome fala mais que muitos documentos”. O papa Francisco falou: "Ele, Cláudio Hummes, me abraçou, me beijou e disse: Não se esqueça dos pobres. Imediatamente lembrei de São Francisco de Assis. Ah como eu gostaria de uma Igreja dos pobres e para os pobres.” E segundo o pároco argentino, Alejandro Russo, quando ele saía a pregar em pastorais com D. Jorge Bergoglio, nas quais nem sempre dava para organizar os fiéis perfeitamente, Jorge dizia: "Façamos um pouco de desordem”. Quem sabe um pouco de desordem franciscana e latino-americana seja um santo remédio nesta quadra da história. Da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política. Em vinte e dois de março dois mil e treze. http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=74297

terça-feira, 19 de março de 2013

OUTRA VEZ, A MÃO DE DEUS. OS SETE ESPANTOS DO PAPA FRANCISCO

2013.03.15 PAULO SUESS Missiólogo e assessor teológico do Cimi Adital Parecia que foi a mão de Deus –não como no caso de Maradona!- que escolheu com o novo papa um nome não esperado pela opinião pública. "Os cardeais me buscaram dos confins do mundo” declarou o recém-eleito. Alegria espontânea no meio do povo, não necessariamente por ser um ítalo-americano, mas por dar sinais para a renovação da Igreja, não baseada na tecnologia, mas em atitudes humanas e na opção pelos pobres. Primeiro espanto, aparição de um septuagenário que elegeu o nome "Francisco”. O verdadeiro espanto é que nessa longa história da Igreja nenhum papa teve a ideia ou a coragem de escolher esse nome que é um programa. Segundo espanto, o papa Francisco aparece na sacada do palácio "apenas” com a batina branca e não diz "laudetur Iesus Christus”, mas boa noite. Terceiro espanto, o novo papa se inclina diante da multidão na Praça de São Pedro e pede orações e a benção do povo, antes de ele dar a benção apostólica "urbi et orbi”, prevista na cerimônia. Quarto espanto, notícias da biografia de Jorge Mario Bergoglio que contam que o arcebispo e cardeal de Buenos Aires não atravessava sua metrópole com motorista e Mercedes, mas com transporte público, com ônibus e Metrô. Quinto espanto, outra notícia dessa mesma biografia de Bergoglio que se refera ao bispo cozinheiro. Desde a morte prematura de sua mãe aprendeu preparar seu almoço e outras comidas gostosas. Sexto espanto, este jesuíta e bispo de Buenos Aires, que pertence a uma família de classe média e adquiriu uma simplicidade franciscana e certa reserva contra a pompa curial. Por sua prática de pastoral e vida, Jorge Bergoglio pode hoje ser qualificado como "teólogo anônimo de libertação”, embora que nunca rezou pela cartilha da Teologia da Libertação. Seu colega de Companhia, Karl Rahner, saberia bem explicar o significado desse anonimato. Sétimo espanto, por conta de grupos que defendem os direitos humanos. A mídia nos informou que Bergoglio e sua Igreja argentina não mostraram atitudes proféticas durante a ditadura militar (1976-1983) como aconteceu em outras igrejas latino-americanas. Nessa época, Mário Bergoglio ainda não era bispo, mas provincial dos jesuítas da Argentina (1973-1979). Como provincial expulsou dois jovens jesuítas – Orlando Virgílio Yorio e Francisco Jálics – da Companhia de Jesus e dificultou a sua recepção na diocese de Morón do Salesiano Dom Miguel Raspanti. Entre expulsão e trâmites de recepção, dia 23 de maio de 1976, Yori e Jálics foram sequestrados pelas forças militares, torturados e, meio ano mais tarde (22.10.1976), expatriados. A sincronização entre expulsão e sequestro dos dois ex-jesuítas indica certo "entendimento” entre autoridade eclesiástica e militar. Definitivamente provado não foi. Bergoglio negou a sua colaboração com os militares. Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz de 1980, garantiu à BBC Mundo: "Não há nenhum vinculo que relacione Bergoglio com a ditadura”. Segundo o Ritual Romano, o novo papa deu uma indulgência plenária aos fieis, urbi et orbi. Certamente, o papa Francisco pediu também para si mesmo essa indulgência de Deus e o perdão de Orlando Yorio e Francisco Jálics, com quem agora partilha o nome. Quem poderia assumir a tarefa do papado, sem a misericórdia divina? Brasil e suas pastorais desejam ao papa Francisco que ele, como seu padroeiro de Assis, no abraço dos leprosos, que hoje se encontram não só na cúria romana, mas por toda parte do mundo, encontre sua missão profunda e conversão permanente. Desejamos que ele, como São Francisco, na oração diante do ícone da cruz na Igreja de São Damião, escute a voz de Jesus, que o convida para a reconstrução da Igreja em ruína da qual todos fazemos parte.

sexta-feira, 15 de março de 2013

[Novo Papa] A geopolítica do segredo

14.03.13 - Mundo================ Ivone Gebara Escritora, filósofa e teóloga ----------- Adital Passadas as primeiras horas do impacto da eleição do Cardeal Bergoglio de Buenos Aires, das emoções primeiras de termos um papa latino-americano, com expressão amável e cordial a vida presente nos convida a refletir. Apesar de seu valor, os meios de comunicação têm também o poder de amortizar as mentes e de impedir que perguntas críticas aflorem ao pensamento das pessoas. Nesses dois últimos dias que precederam a eleição papal, muitas pessoas no Brasil e no mundo foram tomadas pelas transmissões em direto de Roma. Sem dúvida um acontecimento histórico desses não se repete todos os meses! Mas, que interesses tiveram as grandes empresas de telecomunicações em transmitir os inúmeros detalhes da escolha do novo Papa? A quem servem os milhões de dólares gastos nas transmissões ininterruptas até a chegada da fumaça branca? Do lado de quem se situam esses interesses? Que interesses tem o Vaticano em abrir as possibilidades para essas transmissões? Essas perguntas talvez inúteis para muitos, continuam a ser significativas para alguns grupos preocupados com o crescimento da consciência humanista de muitos/as de nós. São em grande parte as empresas de telecomunicações as responsáveis pela manutenção do segredo nas políticas eleitorais do Vaticano. O segredo, os juramentos e as penalidades por não respeitá-los são parte integrante do negócio. Criam impactos e fazem notícia. Não se trata de uma tradição secular sem conseqüências para a vida do mundo, mas de comportamentos que acabam viciando a busca de diálogo entre os grupos ou excluindo grupos de um necessário diálogo. Nenhuma crítica a esse sistema perverso que continua usando o Espírito Santo para a manutenção de posturas ultraconservadoras revestidas de ares de religiosidade e bondosa submissão é feito. Nenhum espaço para que vozes dissonantes possam se manifestar mesmo com o risco de serem apedrejadas é aberto na oficialidade das transmissões. Uma ou outra vez se percebe uma pequena ponta crítica se esboçando, mas logo é abafada pelo "status quo” imposto pela ideologia dominante. Do novo papa Francisco se contou que usava transportes públicos, estava próximo dos pobres, fazia sua comida e que a escolha desse nome o assemelhavam ao grande santo de Assis. Foi imediatamente apresentado como uma figura simples, cordial e simpática. Na imprensa católica nada se falou das suspeitas de muitos em relação a sua postura nos tempos da ditadura militar, de suas atuais posturas políticas, de suas posições contrárias ao matrimonio igualitário, ou mesmo contra o aborto legal. Nada se falou de suas conhecidas críticas em relação à teologia da libertação e de seu desinteresse pela teologia feminista. A figura bondosa e sem ostentação eleita pelos cardeais assistidos pelo Espírito Santo encobriu o homem real com suas inúmeras contradições. Hoje os jornais (Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo) delinearam perfis diferentes do novo papa e temos uma percepção mais realista de sua biografia. Além disso, foi possível intuir que sua eleição é sem dúvida parte de uma geopolítica de interesses divididos e de equilíbrio de forças no mundo católico. Um artigo de Julio C. Gambina da Argenpress publicado via internet ontem (13 de março de 2013) assim como outras informações enviadas por grupos alternativos da Nicarágua, Venezuela, Brasil e, sobretudo da Argentina confirmaram minhas suspeitas. A cátedra de Pedro e o Estado do Vaticano devem mover suas pedras no xadrez mundial para favorecer as forças dos projetos políticos do norte e dos seus aliados do sul. O sul foi de certa maneira co-optado pelo norte. Um chefe político da Igreja, vindo do sul vai equilibrar as pedras do xadrez mundial, bastante movimentadas nos últimos anos pelos governos populares da América latina e pelas lutas de muitos movimentos entre eles os movimentos feministas do continente com reivindicações que atormentam o Vaticano. Se, é no sul que alguma coisa nova está acontecendo politicamente nada melhor do que um papa do sul, um latino-americano para enfrentar esse novo momento político e conservar as tradições da família e da propriedade intactas. Sem dúvida uma afirmação desse tipo quebra o encanto do momento da eleição e a emoção de ver a multidão na Praça de São Pedro irrompendo em aplausos e gritos de alegria diante da figura do papa Francisco. Muitos dirão que essas críticas tiram a beleza de um acontecimento tão emocionante quanto a eleição de um papa. Talvez, mas creio que são críticas necessárias. A tão badalada preservação da evangelização como prioridade da Igreja parece ser a preservação de uma ordem hierárquica do mundo onde as elites governam e os povos aplaudem nas grandes praças públicas, se emocionam, rezam e cantam para que as bênçãos divinas caiam sobre as cabeças dos novos governantes político-religiosos. O mesmo catecismo com poucas variações continua a ser reproduzido. Não há reflexão, não se despertam as consciências, não se convida ao pensamento, mas a conservação de uma doutrina quase mágica. Por um lado é a sociedade do espetáculo que nos invade para que entremos na disciplina da ordem/desordem contemporânea com certa dose de romantismo e por outro a sociedade assistencialista identificada à evangelização. Sair às ruas para dar de comer aos pobres e rezar com os prisioneiros embora tenha algo de humanitário não resolve o problema da exclusão social presente nos muitos países do mundo. Escrever sobre a "geopolítica do segredo” em tempos de euforia mediática é como estragar a festa dos vendilhões do Templo felizes com suas barracas cheias de terços, escapulários, vidros de água benta e imagens grandes e pequenas de muitos santos. O problema é que se abrimos o segredo desmancha-se o charme da fumaça branca, se quebra o suspense de um conclave secreto que fecha ao povo católico o acesso às informações às quais temos direito, se desnudam os corpos purpurados com suas histórias tortuosas. Quebrar o segredo é quebrar a falsidade do sistema político-religioso que governa a Igreja Católica Romana. É tirar as máscaras que nos sustentam para afinal abrir nossos corações para a real interdependência e responsabilidade entre todos nós. Os jogos de poder são cheios de astúcias, ilusões e até de boa fé. Somos capazes de nos impressionar com um gesto público de carinho ou de simpatia sem nos perguntarmos sobre o que de fato constituiu a história dessa pessoa. Nem nos perguntamos sobre as ações de seu passado, de seu presente e suas perspectivas de futuro. É apenas o momento da aparição da figura simpática vestida de branco que nos impressiona. Somos capazes de nos emocionarmos frente a um carinhoso "bona cerra” papal (boa noite) e irmos para cama como crianças bem comportadas abençoadas pelo bondoso papai. Já não somos mais órfãos visto que a orfandade paterna numa sociedade patriarcal é insuportável mesmo por poucos dias. Nós somos cúmplices da manutenção desses poderes tenebrosos que nos encantam e nos oprimem ao mesmo tempo. Nós, sobretudo os que têm mais lucidez nos processos políticos e religiosos, somos responsáveis pela ilusão que esses poderes criam na vida de milhares de pessoas, sobretudo veiculadas pelos meios de comunicação religiosos. Somos capazes de nos enternecer de tal forma que nos esquecemos dos jogos do poder, das manipulações invisíveis, da arte teatral cultivada e tão importante nessas ocasiões. Não podemos fazer previsões sobre os rumos do futuro da governança da Igreja Católica Romana. Mas à primeira vista não parece que podemos esperar grandes mudanças nas estruturas e políticas atuais. As mudanças significativas virão se as comunidades cristãs católicas assumirem de fato a direção do presente do cristianismo, ou seja, se elas forem capazes de dizer a partir das necessidades de suas vidas como o Evangelho de Jesus poderá ser traduzido e vivido em nossas vidas hoje. A geopolítica do segredo tem interesses altíssimos a defender. É parte de um projeto mundial de poder aonde as forças da ordem se vêm ameaçadas pelas revoluções sociais e culturais em curso em nosso mundo. Manter o segredo é justificar que há forças superiores às forças históricas da vida e que estas são mais decisivas que os rumos que podemos dar à nossa luta coletiva por dignidade, pão, justiça e misericórdia em meio aos muitos reveses e tristezas que nos acometem em meio do caminho. Termino essa breve reflexão na esperança de que possamos não apagar a luz da liberdade que vive em nós e seguirmos bebendo das fontes de nossos sonhos de dignidade com lucidez sem nos impressionarmos com as surpresas que podem parecer grandes novidades. Afinal é apenas mais um papa que inscreve seu nome nessa instituição que apesar de sua história de altos e baixos mereceria ser transformada e repensada para os dias de hoje. Mudanças podem sempre acontecer e é preciso estar abertos aos pequenos sinais de esperança que irrompem por todos os lados mesmo das instituições as mais anacrônicas de nosso mundo. 14 de Março de 2013. http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=74172

quarta-feira, 13 de março de 2013

La sombra de la dictadura argentina alcanza al papa Francisco

El país El nuevo Pontífice es acusado de haber denunciado a dos sacerdotes de la Compañía de Jesús ante el régimen militar ALEJANDRO REBOSSIO Buenos Aires 14 MAR 2013 - 02:53 CET Archivado en: La supuesta colaboración del nuevo papa Francisco I con la última dictadura de su país, Argentina (1976-1983), constituye el capítulo más oscuro de su vida. Organizaciones de defensa de los derechos humanos lo acusan de haber denunciado a dos sacerdotes de la Compañía de Jesús ante el régimen cuando él era provincial de esa congregación. Los dos curas jesuitas se llamaban Orlando Yorio, ya fallecido, y Francisco Jalics, que vive en Alemania. Ambos se habían ido a vivir a barrios de chabolas de Buenos Aires para comprometerse más de cerca con los pobres. Pero para las autoridades de la Iglesia esa opción era mal vista. “Mucha gente que sostenía convicciones políticas de extrema derecha veía con malos ojos nuestra presencia en las villas miseria”, cuenta Jalics en su libro Ejercicios de meditación, de 1995. ”Interpretaban el hecho de que viviéramos allí como un apoyo a la guerrilla y se propusieron denunciarnos como terroristas. Nosotros sabíamos de dónde soplaba el viento y quién era responsable por estas calumnias. De modo que fui a hablar con la persona en cuestión y le expliqué que estaba jugando con nuestras vidas. El hombre me prometió que haría saber a los militares que no éramos terroristas. Por declaraciones posteriores de un oficial y 30 documentos a los que pude acceder más tarde pudimos comprobar sin lugar a dudas que este hombre no había cumplido su promesa sino que, por el contrario, había presentado una falsa denuncia ante los militares”, añade Jalics. Ese hombre era Jorge Bergoglio, el entonces provincial jesuita y ahora papa, según contó Yorio en una carta de 1977 al asistente general de la Compañía de Jesús que obtuvo el periodista Horacio Verbitsky en una extensa investigación. Años después, cuando la democracia había regresado a Argentina, Yorio también comentó a otros sacerdotes que Bergoglio no los había “entregado”, pero sí los había “mandado al frente” (delatado) ante los militares, según relata a EL PAÍS un testigo directo de aquella confesión. El 23 de mayo de 1976 Yorio y Jalics fueron secuestrados por la dictadura. Padecieron cinco meses en la Escuela Mecánica de la Armada (ESMA), uno de los principales centros clandestinos de detención y tortura del régimen. Un interrogador le dijo a Yorio que sabían que no era guerrillero pero que con su trabajo en la villa unía a los pobres y eso era subversivo, según reconstruyó Verbistky. La Iglesia argentina, cuya jerarquía colaboró con la dictadura mientras una minoría ofrecía una valiente resistencia, intercedió para que los liberasen y así fue. Ambos fueron arrojados drogados en un bañado de una ciudad cercana a Buenos Aires, Cañuelas, un 24 de octubre. En el libro El jesuita, en 2010, Bergoglio contestó a las acusaciones: “Nunca creí que estuvieran involucrados en actividades subversivas como sostenían sus perseguidores, y realmente no lo estaban. Pero, por su relación con algunos curas de las villas de emergencia, quedaban demasiado expuestos a la paranoia de caza de brujas. Como permanecieron en el barrio, Yorio y Jalics fueron secuestrados durante un rastrillaje. La misma noche en que me enteré de su secuestro, comencé a moverme. Cuando dije que estuve dos veces con [el dictador Jorge] Videla y dos con [el jefe de la Armada, Emilio] Massera fue por el secuestro de ellos”. La justicia argentina citó a Bergoglio cuando era cardenal, arzobispo de Buenos Aires y jefe de la Iglesia argentina como testigo en el segundo juicio sobre los crímenes de la ESMA, que finalizó en 2011. Pero el ahora pontífice se excusó por su investidura de ir a los tribunales y fueron los magistrados los que tuvieron que ir a tomarle declaración en el edificio de la Curia porteña. Bergoglio también ha sido citado como testigo en una causa en Francia por el asesinato en la dictadura argentina del sacerdote de ascendencia francesa Gabriel Longueville. Una hermana y tía de desaparecidos pidió que además se le interrogara en Argentina por sus presuntos conocimientos sobre el robo de bebés de secuestradas por la dictadura. Bergoglio, en cambio, dice que durante aquellos años protegió, escondió y ayudó a exiliarse a perseguidos por el régimen. Claro que nunca se situó entre los pocos obispos y sacerdotes que asumieron un papel de abierta lucha contra las violaciones de los derechos humanos de aquellos años. http://internacional.elpais.com/internacional/2013/03/14/actualidad/1363224768_851250.html

DESAFÍOS INMEDIATOS (DEL NUEVO PAPA)

(...) Las intrigas por el poder en el Vaticano, los escándalos por la pedofilia de clérigos, la controvertida gestión del banco de la Iglesia católica, la difícil relación con el islam y las resistencias de los católicos derrotaron a Benedicto XVI que deja una herencia delicada a su sucesor, según los expertos. ABUSOS SEXUALES, PEDOFILIA: Es seguramente el asunto más grave. Benedicto XVI llegó con el deseo de apartar a todos los encubridores de abusos sexuales dentro de la Iglesia, pero no lo logró. Muchos obispos tienden a no colaborar con la justicia local, como exige el Papa y un cuarto de las conferencias episcopales no han elaborado las líneas de lucha contra la pedofilia . En Africa y Asia el tema es abordado tímidamente y las justicias locales suelen ser deficientes. La iglesia sigue recibiendo denuncias de abusos cometidos por curas, sobre todo en la década de los 60, 70 y 80. REFORMAS Y PROTESTAS: Una ola de protestas ha sacudido a la Iglesia en los últimos años. En numerosos países occidentales, entre ellos Austria, Alemania, Francia y Estados Unidos, las organizaciones de base, en las que participan religiosos, religiosas y misioneros, solicitan mayor democracia. Algunos sectores piden que se reforme el papado y se permita la ordenación de mujeres y hasta el matrimonio para los curas. Algunos teólogos han llegado a tildar de "cisma silencioso" el proceso de modernización que exigen algunos sectores. Entre los pedidos más urgentes es que se autorice la comunión a los divorciados que se vuelven a casar. Un impedimento que ha alejado de la Iglesia a un número elevado de creyentes. Otro problema es el de la caída de las vocaciones ante un mundo que cambia. FINANZAS DEL VATICANO Y CORRUPCION: Benedicto XVI lanzó una campaña a favor de la transparencia y contra el blanqueo de dinero a través del banco del Vaticano, el célebre IOR. El despido fulminante en 2012 del presidente del Instituto para las Obras de Religión (IOR), Ettore Gotti Tedeschi, nombrado para intentar limpiar la banca de la Santa Sede, fue interpretado como un fracaso en la batalla por la transparencia. La corrupción afecta a algunos congregaciones y diócesis, sobre todo en Africa y las cuentas del Estado del Vaticano están en rojo, debido a la crisis que afecta al sistema financiero mundial. TRADICIONALISTAS: Benedicto XVI no logró la reintegración de los ultraconservadores del movimiento lefebvristas que no aceptan la modernización de la Iglesia, aprobada durante el Concilio Vaticano II. Pese a los esfuerzos del Papa, la negociación está en un punto muerto. Los lefebvristas volvieron a decir que no a la mano tendida por el Papa para su inserción en la Iglesia. REFORMA DE LA CURIA: Es otro de los fracasos de Joseph Ratzinger, prestigioso teólogo, pero poco versado en asuntos administrativos. La Curia Romana, el órgano de gobierno de la Iglesia, se moderniza lentamente. La filtración de un centenar de documentos confidenciales e internos por parte del exmayordomo del Papa, Paolo Gabriele, el llamado escándalo de Vatileaks, a inicios del 2012, reveló las intrigas y luchas internas por el poder. Fue uno de los mayores escándalos de su pontificado e inclusive se llegó a cuestionar su liderazgo. CONTROVERSIAS CON EL ISLAM: Las relaciones con las autoridades religiosas musulmanas pasaron por un momento delicado en 2005, cuando asumió el cargo. El año siguiente impartió en la Universidad de Ratisbona, en Alemania, una platica en la que comparó fe y violencia desatando la ira de muchos líderes y clérigos musulmanes. Las relaciones con los judíos en cambio mejoraron mucho después de la histórica visita a Jerusalén en 2009 y con las continuas condenas públicas al antisemitismo. Pero entre las preocupaciones que el futuro Papa deberá enfrentar figuran las persecuciones que sufren los cristianos en el mundo, en particular en Africa. TEMAS SOCIALES: Eutanasia, aborto y matrimonio gay fueron para el Papa alemán "graves amenazas" para la paz. En el mensaje por la Jornada Mundial de la Paz , que se leyó en todas las parroquias el 1 de enero, el Papa exhortó a perseguir la paz, difundiendo los derechos fundamentales del hombre, como el trabajo y la libertad religiosa, y defendiendo los valores de la vida desde su concepción hasta la muerte natural y de la familia tradicional. Para el jefe de la Iglesia católica "son valores no negociables" y es posible que su sucesor mantenga la misma posición. Hay que ver si el nuevo Papa tendrá posiciones más conciliadoras frente a un mundo globalizado y una sociedad postomoderna, que pide a gritos mayor apertura. Ciudad del Vaticano/Buenos Aires, AFP/NA. http://www.noticiasargentinas.com/nuevosite/13851-el-cardenal-bergoglio,-entre-los-nombres-que-suenan-para-suceder-al-papa.html

terça-feira, 12 de março de 2013

Cristo e os pobres: sobre a entrevista de C. Boff na Folha

11.03.13 - Mundo Jung Mo Sung Diretor da Faculdade de Humanidades e Direito da Univ. Metodista de S. Paulo. Adital O jornal Folha de São Paulo publicou nesta segunda-feira, 11/03/2013, uma entrevista com Clodovis Boff criticando a Teologia da Libertação (TL) no contexto da eleição do novo papa. Sabemos que entrevistas publicadas em jornais nem sempre expressam corretamente o pensamento do entrevistado por conta da edição, tamanho reduzido da matéria etc. Porém, penso que algumas das afirmações atribuídas a ele parecem ser verdadeiras porque ele as tem manifestado também em seus escritos. Por conta dos limites do tamanho de um texto escrito para internet, vou propor algumas breves reflexões sobre 3 pontos da entrevista. Uma das críticas que ele faz à TL é que suas correntes hegemônicas não teriam entendido "a primazia da libertação espiritual, perene, sobre a libertação social, que é histórica” e por preferir não entender essa distinção se degeneraram em ideologia. Como essa distinção está explicitada no livro "Teologia da Libertação” de Gutierrez, é difícil imaginar quais seriam essas correntes hegemônicas. Em todo caso, uma das novidades da TL não foi negar ou afirmar a primazia da libertação espiritual sobre a histórica, mas propor uma nova forma de compreender a relação entre as duas. O que os principais teólogos/as da libertação sempre afirmaram é que, em situações de tanta injustiça e morte, a fé em Jesus se torna concreta, se encarna, na experiência espiritual de encontrar na face do pobre a face de Jesus, conforme nos ensina o evangelho de Mateus, cap. 25. Isso nos leva a outra crítica C.Boff: "Jon Sobrino diz: ‘A teologia nasce do pobre’. Roma simplesmente responde: ‘Não, a fé nasce em Cristo e não pode nascer de outro jeito’. Assino embaixo.” Na forma como está escrito é facilmente percebível que há dois temas em discussão: de onde nascem a teologia e a fé. É claro que a fé cristã nasce em Cristo, mas a teologia não é fé, é uma reflexão sistêmica sobre a nossa experiência de fé e, portanto, não necessariamente precisa começar com Cristo. Eu não sou especialista no pensamento de Sobrino, mas pelo que estudei dele posso afirmar que para ele o ponto de partida da reflexão teológica –que é diferente da fé– é o pobre enquanto nele encontramos a face de Cristo entre nós. Em outras palavras, o ponto de partida de teologia é a relação entre Cristo e o pobre. Sobrino diz isso explicitamente: "Existe na cristologia algo de metaparadigmático? A resposta é um ‘sim’ convicto, e o seu conteúdo central é a relação entre ‘Jesus e os pobres’, entre ‘Jesus e as vítimas’.” (A fé em Jesus Cristo, 2000). Como a história da teologia nos mostra que há muitas cristologias que começam discutindo Cristo e não chegam à vida concreta das vítimas e dos pobres, não basta começar só com Cristo. Assim como há muitas reflexões sociológicas que começam com os pobres e não chegam a Cristo ou à discussão sobre Deus porque não são teologias. A TL parte da relação entre Deus/Cristo e os pobres/vítimas. Fora disso não é TL. Pode ser que o jornalista tenha entendido mal a colocação de C. Boff, mas essa crítica tem sido algo constante nos últimos textos dele sobre a TL. Por fim, C. Boff diz: "O ‘cristianismo anônimo’ constituía uma ótima desculpa para, deixando de lado Cristo, a oração, os sacramentos e a missão, se dedicar à transformação das estruturas sociais” e endossa a afirmação de dom Rommer de que "Não basta fazer o bem para ser cristão. A confissão da fé é essencial". Eu realmente tenho dificuldade em achar que alguém tenha usado a tese rahneriana de "cristianismo anônimo” como desculpa, mas concordo que não basta fazer o bem para ser cristão. Pois, isso negaria que um budista ou um ateu pudesse fazer o bem sendo budista ou ateu, sem querer ser cristão, muito menos cristão anônimo. Aliás, na parábola do "juízo final” (Mt 25) a identidade religiosa ou ideológica das pessoas nem entra em discussão. Concordo que ser cristão é assumir uma identidade religiosa ou espiritual e isso requer menção explícita a Jesus Cristo que é nos transmitido pelos evangelhos. A confissão de fé em Jesus Cristo que se revela hoje no rosto e clamor do pobre faz diferença? Sim! É essa fé que nos permite "ver” a Deus, não através de afirmações filosófico-teológicas de onipotência ou outras categorias "divinas”, mas através da vida e obra de Jesus. É a fé em Jesus que nos faz afirmar juntamente com autor da 1ª carta de João: "ninguém jamais contemplou a Deus. Se nos amarmos (ágape, amor-solidário) uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu Amor em nós é realizado” (1Jo 4,12). E esse amor solidário aos pobres só sobrevive às frustrações, conflitos internos, vaidades e invejas que experimentamos na luta se for acompanhada de vida comunitária, oração, liturgias e sacramentos. Só assim conseguimos perseverar na nossa missão de anunciar Reino de Deus aos pobres e vítimas das opressões e não nos perdemos ao confundir Reino de Deus com alguma instituição religiosa ou política. Há textos considerados da TL que confundem RD com algum Estado ou partido? Ou que falam de pobres sem relacionar com a experiência de fé em Cristo? Ou que não conseguem articular lutas pelas libertações na história com a esperança da ressurreição? Certamente há textos que não explicitam essas relações, mas isso não quer dizer que as negam. E se negar, não é boa TL. [Jung Mo Sung, autor com Hugo Assmann do livro "Deus em nós: o reinado que acontece no amor solidário aos pobres” (Paulus). Twitter? @jungmosung)].

domingo, 10 de março de 2013

Vaticanista diz que futuro da Igreja está na descentralização do poder

fevereiro 26, 2013 Para Juan Arias, a primeira ação do próximo Pontífice deveria ser convocar novo concílio ... Há uma discussão frequente sobre os perfis dos papáveis, de conservadores a progressistas. Que diferença essas denominações podem fazer para os fiéis? Juan Arias: Pensamos nesses conceitos como se fossem categorias políticas. Se Papa progressista é aquele que vai permitir o uso de preservativos ou o divórcio, é pouco para os fiéis. Essas práticas já foram aceitas na consciência dos católicos. E o que seria um Papa conservador? Um Papa tem que ser conservador, porque ele deve manter as essências do cristianismo. O Papa mais conservador dos últimos anos foi João XXIII, um homem piedosíssimo e simples, que convocou o Concílio Vaticano II, chamou três mil bispos e provocou uma reviravolta da Igreja. Por isso, esses conceitos não têm sentido. O que precisamos é de um Papa profeta. Alguém com voz crítica, que se antecipe aos acontecimentos do mundo e promova mudanças radicais. Existe algum cardeal assim? Juan Arias: Aparentemente não, mas pode haver surpresas, porque ninguém esperava esse perfil também de João XXIII. Tamanho foi o espanto quando ele convocou o Concílio Vaticano II que quiseram depô-lo. O cardeal Giuseppe Siri, que era então arcebispo de Gênova, reuniu cardeais para estudar a possibilidade, segundo o Direito Canônico, de depor João XXIII. Dom Hélder Câmara e dom Eusébio Scheid teriam sido bons Papas profetas. Eles teriam tido coragem de fazer a Igreja voltar às origens. Que vantagem isso traria? Juan Arias: No primeiro século do cristianismo, o poder da Igreja estava dividido em patriarcados. Havia o patriarca de Constantinopla, o de Jerusalém, o bispo de Roma. Cada um tinha grande liberdade de ação. A única diferença era que o bispo de Roma, como representava Pedro, o maior dos apóstolos, era primus inter pares, o primeiro entre iguais. Quando surgia algum problema, era ele quem mediava, como um irmão mais velho. Aos poucos, isso foi desaparecendo, e tudo acabou centralizado na figura do Papa, com o privilégio da infalibilidade. Moderno seria voltar no tempo. Criar hoje o patriarcado da Europa, da América Latina, da América do Norte, da África… Os problemas da Igreja não são iguais em todas as regiões. É necessária uma descentralização, e não um Papa de idade avançada como único chefe. Imagine um presidente do mundo inteiro! Muitos teólogos falam sobre uma transformação ampla da Igreja. Por onde começar? Juan Arias: Só a reforma da Cúria não basta. Se o próximo Papa quiser ficar marcado na História, deveria convocar imediatamente um novo concílio. O último foi há mais de 50 anos. Estive lá. Mas o mundo mudou completamente desde então, e a Igreja continua a mesma. Os problemas que Bento XVI enfrentou de gestão, burocracia, intrigas e traições são em parte os mesmos desde a Idade Média. O novo Papa deveria chamar todos os bispos, mas não só: poderia ser uma oportunidade sem precedentes de ouvir os fiéis. Abrir-se também às redes sociais e descobrir como a Igreja pode dialogar com o mundo. O Papa deve retomar o papel de líder espiritual e renunciar ao de chefe de Estado. Há que se romper o hábito. O ambiente de política contamina a Igreja. Os fiéis estão preparados para isso? Como a Igreja mede essa necessidade? Juan Arias: Não só estão preparados como esperam uma mudança. As pessoas não sabem em que uma reforma da Cúria Romana afetaria suas vidas. Mas gostariam de um Papa próximo às pessoas, que não tenha que se deslocar em carro blindado. O problema da Igreja é que ela luta para defender a instituição. E quando fala em renovação, é sempre para renovar a instituição. Mas a Igreja é mais do que isso. Deveria aproveitar sua capacidade de ser o fermento do mundo, de orientar os fiéis. Mas não sabe o quanto ficou parada no tempo. A Igreja arriscaria esse novo passo hoje? Juan Arias: Ele só partiria de um Papa profeta. E ele pode aparecer, pois o conclave é sempre uma surpresa. Assisti a cinco e a única vez em que cheguei perto de acertar foi na escolha de Paulo VI. Desta vez, pode ser ainda mais difícil, porque temos um Papa vivo e não sabemos que influência ele vai exercer. Nem os cardeais, quando começam o conclave, têm um nome de consenso. Não é como na política, com candidatos em campanha. Os cardeais não começam pensando em outros nomes porque acham que o melhor são eles próprios. A eleição de um Papa não europeu seria um sinal de abertura da Igreja? Juan Arias: Não. Há cardeais latino-americanos e africanos que são mais fechados do que muitos europeus. Atrelar uma escolha por origem geográfica à maior abertura seria equivocado. Adoraria que surgisse um Papa brasileiro, mas não porque seria mais liberal. O que pode acontecer é um Papa de um país em desenvolvimento ter mais sensibilidade a problemas sociais, por conviver diretamente com eles. Mas pensar que, por isso, o novo Papa permitiria que mulheres exerçam o sacerdócio ou aceitaria preservativos e aborto é uma ilusão. Nenhum deles fará isso. http://www.escoladominical.net/blog/?p=2626

Ratzinger não calou a Teologia da Libertação

Publicado em 06/03/2013 Documento já tem duas mil adesões de teólogos católicos, dentre eles Leonardo Boff e o bispo d. Pedro Casaldáliga. “Cúria Romana necessita de uma reforma mais radical baseada nas instruções e na visão do Vaticano II”, diz texto de documento Saiu na Carta Maior: Veja o manifesto enviado por teólogos da libertação ao pré-conclave Documento assinado por teólogos como Leonardo Boff e o bispo d. Pedro Casaldáliga começou a ser elaborado em outubro do ano passado, simultaneamente na Europa, América Latina, EUA e Canadá. Texto diz que “Cúria Romana necessita de uma reforma mais radical baseada nas instruções e na visão do Vaticano II”. Dermi Azevedo Já chegam a duas mil as adesões de teólogos católicos de todo o mundo ao documento publicado por ocasião dos 50 anos do Concílio Vaticano II e cuja redação final está sendo encaminhada aos 115 cardeais que, a partir de segunda-feira (4), começam a escolher o sucessor do papa Bento XVI. O manifesto começou a ser elaborado em outubro do ano passado, simultaneamente, na Europa, na América Latina, nos Estados Unidos e no Canadá. Entre os seus autores, estão incluídos Leonardo Boff e o bispo d. Pedro Casaldáliga. O contexto de sua publicação (concebida em meio a uma grave crise na Igreja, poucos meses antes da renúncia de Bento XVI) reforçou a decisão dos teólogos de enviá-lo aos cardeais eleitores. Esta é a íntegra do documento: “Muitos ensinamentos do Concílio Vaticano II não foram concretizados ou apenas parcialmente traduzidos na prática. Isto é devido à resistência de alguns ambientes, mas também sobretudo, em certa medida, à não resolvida ambiguidade de alguns documentos conciliares. Uma das principais causas da estagnação moderna depende do não entendimento e dos abusos no exercício da autoridade na nossa Igreja. De modo concreto os seguintes temas exigem uma urgente reformulação. O papel do Papado necessita de uma clara redefinição baseada nas intenções de Cristo. Como supremo pastor, como elemento unificador e principal testemunha da fé, o Papa contribui de modo essencial para o bem da Igreja Universal. Mas a sua autoridade não deveria obscurecer, diminuir nem suprimir a autentica autoridade que Cristo deu diretamente a todos os membros do Povo de Deus. Os bispos são vigários de Cristo e não vigários do Papa. Eles possuem a responsabilidade direta sobre o povo de suas dioceses e uma responsabilidade compartilhada com os outros bispos e com o Papa, do âmbito da comunidade universal da fé. O Sínodo central dos bispos deveria assumir um papel mais decisivo no planejamento, na orientação e no crescimento da fé em nosso mundo tão complexo. Concilio Vaticano recomendou a colegialidade e a corresponsabilidade em todos os níveis. Isto não foi transformado em ação. Os vários organismos presbiterais e conselhos pastorais previstos pelo Concilio, deveriam envolver os fiéis de modo mais direto nas decisões relativas à doutrina ao exercício do ministério pastoral e à evangelização no âmbito da sociedade secular. O abuso de preencher os postos de guias da Igreja apenas com candidatos com uma determinada mentalidade é algo que deveria ser eliminado. Em vez disto, deveriam ser formuladas e monitoradas novas normas assegurando que as eleições para estas tarefas sejam conduzidas de modo correto, transparente e o mais democrático possível. A Cúria Romana necessita de uma reforma mais radical baseada nas instruções e na visão do Vaticano II. A Cúria deveria limitar-se aos seus úteis papéis administrativos e executivos. A Congregação para a Doutrina da fé deveria ser ajudada por comissões internacionais de peritos escolhidos independentemente em função de sua competência profissional. Essas não são todas as mudanças necessárias. Devemos considerar ainda que a implementação dessas revisões estruturais exigem uma elaboração detalhada e relacionada com as possibilidades e com as limitações das circunstancias presentes e futuras. Destacamos porém que as reformas sintetizadas a cima são urgentes e a sua concretização deveria iniciar-se imediatamente. O exercício da autoridade na nossa Igreja deveria seguir o padrão de abertura, responsabilidade e democracia encontrados na sociedade moderna. A liderança deveria ser correta e confiável, inspirada na humildade e no serviço, com uma transparente solicitude para com o povo, em vez de se preocupar com as normas e a disciplina; anunciar Jesus Cristo que liberta; ouvir o espirito de Cristo que fala e age por meio de todos e de cada um”. http://www.conversaafiada.com.br/politica/2013/03/06/ratzinger-nao-calou-a-teologia-da-libertacao/

quinta-feira, 7 de março de 2013

Uma Primavera Vaticana?

Se o próximo conclave eleger um papa que siga pela mesma velha estrada, o catolicismo poderá entrar em uma nova era do gelo, correndo o risco de encolher a ponto de se tornar uma seita, prevê teólogo 02 de março de 2013 | 16h 32 Hans Küng* A Primavera Árabe abalou diversos regimes autocráticos. Com a renúncia do papa Bento XVI, não seria possível ocorrer algo semelhante dentro da Igreja Católica Romana - uma Primavera Vaticana? Naturalmente o sistema da Igreja Católica se assemelha menos ao da Tunísia ou Egito que ao de uma monarquia absoluta como a Arábia Saudita. Tanto na Igreja como na Arábia Saudita não ocorreu nenhuma reforma autêntica, apenas concessões de menor importância. Em ambos os casos, a tradição é mantida em oposição à reforma. Na Arábia Saudita, essa tradição remonta a apenas dois séculos. No caso do papado, a 20. Mas, trata-se de uma tradição real? Na verdade, durante um milênio a Igreja não teve um papado monarquista absolutista como conhecemos hoje. Foi somente depois do século 11 que "uma revolução de cima", a Reforma Gregoriana, iniciada pelo papa Gregório VII, estabeleceu três características distintivas do sistema católico romano: um papado absolutista centralizado, um clericalismo compulsório e a obrigação do celibato dos padres e outros do clero secular. As tentativas de reforma dos concílios no século 15, os reformadores do século 16, o Iluminismo, a Revolução Francesa nos séculos 17 e 18 e o liberalismo no século 19 obtiveram um sucesso apenas parcial em termos reformistas. Mesmo o Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965, embora tenha resolvido muitas questões levantadas por reformadores e críticos modernos, foi frustrado pelo poder da Cúria, órgão que governa a Igreja, e conseguiu implementar apenas algumas das mudanças requeridas. Até esta data a Cúria, que no seu atual formato é também um produto do século 11, tem sido o principal obstáculo a qualquer reforma profunda da Igreja Católica, a qualquer entendimento ecumênico honesto com outras igrejas cristãs e religiões, a qualquer atitude construtiva e crítica em relação ao mundo moderno. Sob a direção dos dois últimos pontífices, João Paulo II e Bento XVI, observamos um retorno fatal aos velhos hábitos monárquicos da Igreja. Em 2005, em uma das raras ações mais audaciosas de Bento XVI, ele manteve uma conversa amigável de quatro horas comigo em sua residência de verão em Castelgandolfo, em Roma. Fui seu colega na Universidade de Tübingen e também certamente seu mais severo crítico. Durante 22 anos, graças à revogação da minha licença para lecionar teologia por ter criticado a infalibilidade papal, não tivemos o menor contato privado. Antes da reunião, decidimos deixar de lado nossas diferenças e discutir temas sobre os quais poderíamos chegar a um acordo: o relacionamento positivo entre a fé cristã e a ciência, o diálogo entre religiões e civilizações, e o consenso ético através de crenças e ideologias. Para mim, na verdade para todo o mundo católico, o encontro era um sinal de esperança. Mas infelizmente o pontificado de Bento XVI foi marcado por crises e decisões equivocadas. Ele irritou as igrejas protestantes, judeus, muçulmanos, indígenas da América Latina, mulheres, teólogos reformadores e todos os católicos que defendem mudanças. Os maiores escândalos durante seu papado são conhecidos: o reconhecimento da arquiconservadora Sociedade do Santo Pio X, do arcebispo Marcel Lefebvre, que se opõe veementemente ao Concílio Vaticano II, como também de um clérigo que nega o Holocausto, o bispo Richard Williamson. Houve abuso sexual generalizado de crianças e jovens por parte de clérigos, e o papa fez-se responsável por encobrir os fatos, isso quando era apenas o cardeal Joseph Ratzinger. Mais tarde eclodiu também o chamado escândalo do "Vatileaks", que revelou uma assustadora quantidade de intrigas, lutas pelo poder, corrupção e deslizes sexuais na Cúria, o que parece ter sido a principal razão da saída de Bento XVI. A primeira renúncia de um papa em cerca de 600 anos deixa clara a crise fundamental que ameaça uma Igreja petrificada. E agora o mundo todo pergunta: apesar de tudo isso, o próximo papa conseguirá dar início a uma nova primavera na Igreja Católica? Impossível ignorar as necessidades desesperadas da Igreja. Há uma escassez catastrófica de padres, na Europa, na América Latina e na África. Um número enorme de pessoas vem abandonando a Igreja ou se decidiu por uma "migração interna", especialmente nos países industrializados. Há uma perda de respeito inequívoca pelos bispos e padres, alienação, particularmente por parte das mulheres mais jovens, e o fracasso para integrar os jovens na Igreja. Penso que não devemos nos deixar levar pela cobertura na mídia dos grandiosos eventos de massa em torno do papa, ou com os aplausos entusiastas de grupos de jovens católicos conservadores. Por trás dessa fachada, a casa inteira está desmoronando. Nessa situação dramática, a Igreja necessita de um papa que não viva intelectualmente na Idade Média, que não defenda nenhum tipo de teologia, liturgia ou constituição da Igreja que seja medieval. Ela precisa de um papa que esteja aberto aos desejos de reforma, à modernidade. Um papa que se levante em defesa da liberdade da Igreja no mundo não apenas fazendo sermões, mas lutando com palavras e ações pela liberdade e pelos direitos humanos dentro da Igreja, no que diz respeito aos teólogos, às mulheres e todos os católicos que desejem falar a verdade abertamente. Um papa que não mais obrigue os bispos a se conformarem com uma linha partidária reacionária, que ponha em prática uma democracia justa na Igreja, nos moldes da cristandade primitiva. Um papa que não se permita ser influenciado por um papa das sombras. baseado no Vaticano, como Bento e seus leais seguidores. De onde virá esse papa não é um fator crucial. O Colégio Cardinalício precisa simplesmente escolher o melhor. Infelizmente, desde a época de João Paulo II, um questionário tem sido usado de modo que todos os bispos sigam a doutrina católica romana oficial nos assuntos controversos, um processo selado por um voto de obediência incondicional ao papa. É por isso que até agora não temos dissidentes públicos entre os bispos. Mas a hierarquia católica vem sendo alertada do fosso existente entre ela e os leigos em importantes questões da reforma. Uma pesquisa recente na Alemanha mostra que 85% dos católicos são a favor de os padres se casarem, 79% são favoráveis a que pessoas divorciadas voltem a se casar na Igreja e 75% são pela ordenação de mulheres. Dados similares provavelmente seriam observados em muitos outros países. Poderemos ter um cardeal ou um bispo que não deseje simplesmente prosseguir na mesma rotina? Alguém que, em primeiro lugar, saiba quão profunda é a crise da Igreja e, em segundo, conheça os caminhos que poderiam tirá-la dessa crise? Essas questões precisam ser discutidas abertamente antes e durante o conclave, sem se impor um silêncio dos cardeais, como ocorreu no último conclave, em 2005. Sendo eu o último teólogo atuante que participou do Concílio Vaticano II (com Bento XVI), me pergunto se não haveria no início do conclave, como ocorreu no início daquele concílio, um grupo de cardeais corajosos que consiga encarar os católicos romanos radicais e exigir um candidato disposto a se aventurar em novas direções. Isso poderia ocorrer em um novo concílio de reforma ou, melhor ainda, uma assembleia representativa de bispos, padres e leigos. Se o próximo conclave eleger um papa que siga pela mesma velha estrada, a Igreja jamais viverá uma nova primavera, mas entrará numa nova era do gelo, com o risco de encolher a ponto de se tornar uma seita cada vez mais irrelevante. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO * HANS KÜNG É SACERDOTE, ESCRITOR, PROFESSOR EMÉRITO DE TEOLOGIA NA UNIVERSIDADE DE TÜBINGEN, ALEMANHA, PRESIDENTE DA GLOBAL ETHIC FOUNDATION. ESCREVEU ESTE ARTIGO PARA THE NEW YORK TIMES http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,uma-primavera-vaticana,1003634,0.htm

segunda-feira, 4 de março de 2013

domingo, 3 de março de 2013

Boff: renúncia de Bento XVI foi gesto de desespero e desmistificou figura do papa

Do Opera Mundi O teólogo Leonardo Boff afirmou nesta terça-feira (26) que a renúncia de Bento XVI é “o grande legado” de seu pontificado, devido a seu caráter inédito e por ter “desmistificado a figura do papa”. Em entrevista publicada hoje pelo jornal mexicano Reforma, Boff disse que a renúncia foi “um gesto de desespero pessoal” de Bento XVI, “em conjunto com suas limitações físicas e psicológicas” diante dos problemas enfrentados pela Igreja Católica. Entre os problemas que perturbaram o papa alemão, mencionou os impedimentos para que sacerdotes pedófilos fossem entregues à justiça civil, o vazamento de informações e documentos do “Vatileaks” e os escândalos do Banco do Vaticano. No final, disse, Bento XVI “recebeu um balanço altamente negativo da situação da cúria, pois tinha sido instalado, praticamente, um governo paralelo da Igreja” e “o seu mundo veio abaixo”. “O papa se deu conta de que já não conseguia dirigir a Igreja. Outro deveria vir para regular a situação. Renunciou com elegância, sem denunciar ninguém e fazendo menção somente às suas limitações de saúde. Mas foi uma advertência fortíssima à cúria vaticana, que deve agora esperar profundas reformas”, apontou. Para o teólogo, Bento XVI “é um intelectual refinado e um professor, não tem carisma e é extremamente tímido. Sentiu-se o sucessor de Pedro, mas não soube dirigir o governo da Igreja”. “Eu, que o conheci, sempre imaginei o quanto sofria quando tinha que enfrentar as multidões de fiéis. Sua grande preocupação era a secularização da Europa e o relativismo da modernidade”, comentou. “Para nós [latino-americanos], que estamos na periferia do mundo e no meio dos pobres, optar pela Europa significa, politicamente, optar pelos ricos”, destacou. Boff considerou que Bento XVI entrará para a história como “uma pessoa que enquanto era presidente do ex-Santo Ofício condenou mais de 100 teólogos, dos melhores, especialmente da Teologia da Libertação”, uma corrente de pensamento que “nunca entendeu”. Boff reprovou o fato de Bento XVI aceitar “a versão dos críticos” da Teologia da Libertação, “os militares e as elites opulentas [latino-americanas] que acusavam qualquer tentativa de mudança da realidade social, como livrar os miseráveis de sua pobreza, como coisa de comunistas”. Nascido em Concordia (1938), Boff é um dos mais destacados representantes da Teologia da Libertação e terminou abandonando a Igreja por suas divergências com o Vaticano. Hoje considera a Igreja Católica “muito ocidental, patriarcal, machista e antifeminista”, e afirmou que a instituição necessita “dialogar com o mundo” urgentemente. O ex-frade franciscano chegou a ser castigado com o silêncio pela Congregação da Doutrina da Fé do Vaticano quando esta era comandada pelo então bispo Joseph Ratzinger, atual pontífice que encerrará seu papado na próxima quinta-feira (28/02). http://www.sul21.com.br/jornal/2013/02/boff-renuncia-de-bento-xvi-foi-gesto-de-desespero-e-desmistificou-figura-do-papa/

sexta-feira, 1 de março de 2013

Renúncia do papa é efetivada e grupo pede ação da ONU contra abusos

Extra Online Publicado em 28/02/13 17:12Atualizado em 28/02/13 17:12 Reuters Por Naomi O'Leary ROMA, 28 Fev (Reuters) - No último dia do pontificado de Bento 16, um grupo de apoio a vítimas de abusos sexuais cometidos por clérigos pediu à ONU que repreenda o Vaticano por sua incapacidade de proteger fiéis menores de idade contra esses crimes. Numa entrevista coletiva a poucos metros dos muros do Vaticano, na quinta-feira, o presidente da Rede de Sobreviventes dos Abusados por Padres (Snap, na sigla em inglês) disse que seu grupo fez uma solicitação formal ao Comitê da Organização das Nações Unidas para os Direitos da Criança. "É uma longa apresentação de 30 páginas baseada em relatórios governamentais de cinco nações", disse David Clohessy a jornalistas, cercado por fotos de crianças que ele disse serem hoje integrantes adultos da sua organização de vítimas. "Esperamos que a ONU se pronuncie de forma muito incisiva, e diga que o Vaticano está em violação do tratado que concordou em honrar", afirmou. A Snap argumentou que a Santa Sé violou quatro itens da Convenção da ONU para os Direitos da Criança, que o Vaticano assinou em 1990. As violações incluiriam a não-proteção às crianças e a não-cooperação com investigações criminais. A crise por causa dos abusos clericais contra crianças, que levou à falência várias dioceses dos EUA, obriga a Igreja a gastar bilhões de dólares em indenizações no mundo todo, e assolou todo o pontificado de Bento 16. O assunto voltou à tona agora que os cardeais se preparam para iniciar um conclave que elegerá o sucessor dele. Ativistas católicos já pediram ao cardeal norte-americano Roger Mahony, que na década de 1980 protegeu padres sabidamente abusadores, para que se exima de participar da eleição do novo papa. Clohessy pediu que o próximo papa, que se espera ser escolhido até 26 de março, puna imediatamente bispos que tenham protegido padres abusadores nas suas dioceses. "Essa é a maior instituição religiosa do planeta, com imenso poder centrado bem aqui. Com uma canetada, o papa poderia fazer uma diferença enorme", disse Clohessy. Os casos de abusos sexuais começaram a vir à tona na década de 1980, mas só se tornaram uma crise grave em 2002, após reportagens na imprensa dos EUA. Quando ainda era cardeal, com o nome de Joseph Ratzinger, Bento 16 foi nomeado pelo então papa João Paulo 2o para liderar um órgão da Santa Sé encarregado de investigar os abusos. Como papa, Bento 16 fez mais do que qualquer antecessor seu para tratar da questão, reunindo-se várias vezes com as vítimas e pedindo perdão pelos abusos. Mas Clohessy disse que ele poderia ter ido mais longe. "Ele tinha tanto o poder quanto o conhecimento para fazer uma diferença enorme, e acreditamos que se recusou." http://extra.globo.com/noticias/mundo/renuncia-do-papa-efetivada-grupo-pede-acao-da-onu-contra-abusos-7702301.html