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terça-feira, 26 de março de 2013

Um papa do sul e ‘um pouco de desordem’

22.03.13 - Mundo Selvino Heck Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República Adital Em março de 2005, às vésperas do Conclave que elegeu o papa Bento XVI, escrevi um artigo com o título ‘D. Cláudio Hummes’. "Morei com D. Cláudio em 1971/71 numa casa simples da rua Frei Germano, bairro Partenon, Porto Alegre. Ele era o Mestre da comunidade dos estudantes franciscanos de Teologia e Filosofia e professor de Antropologia Filosófica. D. Cláudio unia duas coisas. Ser um intelectual e professor brilhante (foi o primeiro a nos falar do marxismo sem ranço e preconceito nas aulas de Antropologia Filosófica) e ter sensibilidade pastoral e cuidado com os pobres e trabalhadores, mesmo sendo sempre um moderado com bom senso e conciliador.” D. Cláudio era citado como ‘papabili’ (daí a razão do meu artigo). Escrevi: "Alegra o fato de D. Cláudio dizer que o futuro papa deve preocupar-se com três coisas: é preciso a Igreja católica discutir as novidades da ciência na área da bioética e biogenética. O futuro papa deve ampliar o diálogo inter-religioso. (O Mestrado de D. Cláudio teve como tema o ecumenismo.) E deve preocupar-se com a pobreza no mundo, prioridade do governo Lula.” (Estávamos em 2005.) O artigo terminava assim: "Seria uma bênção se D. Cláudio, com sua história e vivência, fosse o futuro papa, um franciscano, um brasileiro, um latino-americano”. As profecias nem sempre se cumprem no tempo em que se espera. 2013 pode estar sendo 2005, com a eleição do papa Francisco, argentino, latino-americano, que escolheu o nome de Francisco de Assis, e teve grande apoio de D. Cláudio. Escrevi há algumas semanas em ‘Quero um Papa do Sul’: "Quero um papa do Sul para olhar para os pobres e trabalhadores/as e dizer: Vinde a mim, os pequeninos, porque de vocês é o Reino dos Céus. Quero um papa do Sul para olhar os continentes historicamente subjugados, inclusive pela Igreja católica, tratados apenas como terras a serem conquistadas e catequizadas e não como espaços de liberdade e construção de povos e nações. Quero um papa do Sul para olhar indígenas, negros/as, quilombolas, catadores/as de material recicláveis, população em situação de rua e todos os oprimidos como sujeitos de direitos. Quero um papa do Sul para olhar com outro olhar, tal como Jesus olhou e abençoou a samaritana, as mulheres, os homossexuais, todas e todos aqueles sempre desprezadas/os e jogadas/os à margem. Quero um papa do Sul para que o cristianismo retome as raízes das comunidades dos primeiros cristãos, onde a assembleia dos fiéis tinha um só coração e uma só alma e ninguém considerava como seu o que possuía e colocavam em comum tudo o que tinham. Quero um papa do Sul para que bispos tirem as mitras da cabeça, as vestes de ouro do corpo e a sua força esteja no seu ministério, no amor ao próximo e não na roupa suntuosa que vestem. Quero um papa do Sul para que o poder na Igreja seja partilhado. Quero um papa do Sul para que não se fale mais de pedofilia na Igreja, sem que nada seja feito, nada aconteça, para que não se fale mais de corrupção e ninguém sendo condenado, e se acabem com as mil hipocrisias como as do celibato de muitos padres. Quero um papa do Sul, mesmo sabendo que poderá ser mais um conservador, porque sei que a pressão vinda de baixo acabará sendo benéfica e seu olhar de Sul do mundo acolherá o novo e a profecia. Quero um papa do Sul capaz de dialogar com todas as igrejas e religiões, de judeus e muçulmanos, evangélicos e religiões de matriz africana, budistas e espíritas. Quero um papa do Sul amigo de povos e nações, chineses e palestinos, cubanos e vietnamitas, eslavos e indígenas, moçambicanos e neozelandeses. Quero um papa do Sul compreendendo os novos ventos que sopram na América do Sul e América Latina, os movimentos sociais e governos democráticos e populares da região. Quero um papa do Sul que seja humano, não um quase Deus longe do povo, da vida e do testemunho dos fiéis e da realidade vivida por cristãos e comunidades. Estou querendo muito? É sonho? Um dia, se não agora, irá acontecer. E em algum tempo da história, será uma mulher”. O papa é argentino, é latino-americano, é amigo de D. Cláudio e escolheu Francisco como nome e referência de seu pontificado. Vai acontecer tudo o que sonho? Não sei. Mas há uma esperança. D. Cláudio disse em entrevistas: "Será uma tarefa difícil, mas a reforma da Cúria está sendo pedida por todos. A Igreja não funciona mais. É preciso que seja reformada. Também acho importante que o papa tenha vindo da periferia ainda pobre, emergente. Isso é uma confirmação para todos os católicos. Temos agora um jesuíta que é Francisco. É realmente um programa de vida. A escolha do nome fala mais que muitos documentos”. O papa Francisco falou: "Ele, Cláudio Hummes, me abraçou, me beijou e disse: Não se esqueça dos pobres. Imediatamente lembrei de São Francisco de Assis. Ah como eu gostaria de uma Igreja dos pobres e para os pobres.” E segundo o pároco argentino, Alejandro Russo, quando ele saía a pregar em pastorais com D. Jorge Bergoglio, nas quais nem sempre dava para organizar os fiéis perfeitamente, Jorge dizia: "Façamos um pouco de desordem”. Quem sabe um pouco de desordem franciscana e latino-americana seja um santo remédio nesta quadra da história. Da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política. Em vinte e dois de março dois mil e treze. http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=74297

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