José Comblin deixou-nos no dia 27 de março último, depois de completar 88 anos de idade, vividos de modo despojado, fraterno e ecumênico. Pediu para ser enterrado em Solânea, PB, ao lado do grande apóstolo dos sertões nordestinos, o Pe. Ibiapina, para ele, um modelo para a missão, para a promoção humana, espiritual e apostólica dos pequenos e das mulheres e um verdadeiro santo, para nossos tempos.
Louvamos a Deus por sua vida e damos testemunho de sua entrega ao estudo e à formação a serviço dos pobres. Sua lúcida contribuição nos campos bíblico, teológico, pastoral e do compromisso cristão no mundo, sempre foi marcada pela busca da justiça e da transformação social. A partir dos últimos e excluídos, interpelava corajosa e profeticamente os grandes do mundo e da Igreja e as estruturas de opressão e exclusão.
A opção pelos pobres, que marcou sua vida, é um exemplo para nós. Por causa dos pobres, deixou a Bélgica e veio para a América Latina. Aqui, optou pelo nordeste, não o das capitais e sim o do sertão. Da experiência vivida entre os pobres, ele retirou o material básico para sua leitura da bíblia, sua espiritualidade, sua teologia, suas orientações pastorais. Nisso, tornou-se nosso mestre: nunca esquecer que o primeiro lugar no reino de Deus pertence aos pobres.
Comprometido com o projeto comunitário de igreja, Comblin dedicou especial atenção à formação de seminaristas em contato com o povo, visitando suas comunidades para com eles conviver e orientar nos estudos. Pensou num tipo de sacerdote nascido ou vivendo na zona rural, membro atuante de uma comunidade de base, e assim brotou a Teologia da Enxada que evoluiu para a fundação do Seminário rural. Para completar o quadro, Pe Comblin iniciou em Mogeiro-PB, o Centro de Formação para Missionárias do Meio Popular. Durante anos ele se desdobrou indo a pé ou de jipe para orientar a formação dos missionários do Campo e das missionárias do meio popular.
Escreveu muito. Fez inúmeras palestras e conferências. Assumiu uma enormidade de cursos formais ou intensivos para toda categoria de pessoas. Sua palavra foi dirigida a lavradores analfabetos e a doutores em teologia, mulheres da periferia e seminaristas, religiosas inseridas e bispos em assembléia, porque seu desejo era estar presente onde pudesse provocar ou renovar em seus ouvintes e leitores a conversão ao reino de Deus. Não poderemos jamais subestimar o valor dessa lição de disponibilidade como missionário e evangelizador.
Sua radical opção pelos pobres fez de Comblin um severo crítico do sistema capitalista e de seus instrumentos de dominação. Basta lembrar sua crítica lúcida e corajosa à lei de segurança nacional. Não contente com a crítica teórica, ele dedicou seu ministério presbiteral à construção de instrumentos de libertação dos pobres, como comunidades eclesiais de base, pastorais sociais e movimentos populares.
A maior lição do mestre Comblin talvez seja sua teimosa fidelidade à igreja. Foi nela e por meio dela que ele decidiu trabalhar a vida toda.
Este nosso testemunho é apenas pálido eco de milhares de pessoas, comunidades, dioceses e movimentos populares que estão agradecendo a Deus por sua vida e seus trabalhos. Sua palavra, seus escritos, sua coerência intelectual e pastoral são para a Igreja da Libertação uma verdadeira herança que devemos fazer frutificar.
(seguem inúmeras assinaturas)
As forças progressistas, da Teologia da Libertação, incluindo teólogos/as, pastorais sociais, Cebs, agentes de pastoral, religiosos/as, leigos e leigas, se mobilizaram para participar da Conferencia de Aparecida (2007) - uma des suas ações foi a Tenda dos Mártires, como espaço aberto, celebrativo, por 15 dias, enquanto durou a Conferência. A Tenda dos Mártires foi um alerta à toda Igreja para não esquecer seus mártires, sua caminhada, sua identidade de libertação.
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terça-feira, 5 de abril de 2011
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