Visualizações desde 2005

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Uma Igreja Católica sem Papa?

21.02.13 - Mundo//// Eduardo Hoornaert////// Padre casado, belga, com mais de 5O anos de Brasil, historiador e teólogo, mais de 20 livros publicados. Mora em Salvador. Dedica-se agora ao estudo das origens do cristianismo//// Adital/////////////////////////////////////////////////////////////////////////// O anúncio da renúncia de Bento XVI me surpreendeu, como aconteceu a muitas pessoas. Impressiona-me a simplicidade com que ele expõe seus sentimentos e penso que, desse modo, ele desbloqueia a visão estática que temos do papado e abre um espaço para discussões em torno do governo da igreja católica. É isso que pretendo fazer neste texto. Minha pergunta é a seguinte: será que a igreja católica precisa mesmo de um papa? Vou por pontos. 1. O papado O papado não está ligado à origem do cristianismo. O termo ‘papa’, por exemplo, não aparece no novo testamento. Quanto aos versos do evangelho de Mateus (‘tu és Pedro e sobre essa pedra construirei minha igreja’: 16, 18), que costumam ser invocados para legitimar o papado, há de se lembrar que a exegese atual é taxativa em afirmar que não se pode isolar um texto de seu conjunto literário e transformá-lo em oráculo. Ora, os versos de Mateus funcionam, pelo menos na instituição católica, como um oráculo. Para quem lê os evangelhos em contexto fica claro que não dá para se imaginar que Jesus tenha planejado uma dinastia apostólica de caráter corporativo, baseada em sucessão de poderes. As palavras ‘tu és Pedro’ não condizem com a instituição do papado. Foi o bispo Eusébio de Cesareia, teórico da política universalista do imperador Constantino, que no século IV começou a redigir listas de sucessivos bispos para as principais cidades do império romano, em muitos casos sem verificar a veracidade dos nomes arrolados, na tentativa de adaptar o sistema cristão ao modelo romano da sucessão dos poderes. Esse bispo-historiador é o criador da imagem de Pedro-papa. Mas a pesquisa histórica aponta outro horizonte e mostra que a palavra ‘papa’ (pope), que pertence ao grego popular do século III, é um termo derivado da palavra grega ‘pater’ (pai) e expressa o carinho que os cristãos tinham por determinados bispos ou sacerdotes. O termo penetrou no vocabulário cristão, tanto da igreja ortodoxa como da católica. No interior da Rússia, até hoje, o pastor da comunidade é chamado ‘pope’. A história conta que o primeiro bispo a ser chamado ‘papa’ foi Cipriano, bispo de Cartago entre 248 e 258 e que o termo ‘papa’ só apareceu tardiamente em Roma: o primeiro bispo daquela cidade a receber oficialmente esse nome (segundo a documentação disponível) foi João I, no século VI. 2. O episcopado Em contraste com o papado, a instituição episcopal deita raízes sólidas na origem do cristianismo, pois se refere a uma função já existente no sistema sinagogal judeu. A palavra ‘bispo’ (que significa ‘supervisor’) se encontra diversas vezes nos textos do novo testamento (1Tm 3, 2; Tito 1, 7; 1Pd 2, 25 e At 20, 29), assim como o substantivo ‘episcopado’ (1Tm 3, 1). Nas sinagogas judaicas, o ‘epíscopos’ era responsável pela boa ordem nas reuniões e as primeiras comunidades cristãs nada mais fizeram que adotar e adaptar o nome e a função. 3. A luta pelo poder A partir do século III desencadeou-se, entre os bispos das quatro principais metrópoles do império romano (Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Roma), uma dura luta pelo poder. Essa luta era particularmente dramática na parte oriental do império, onde se falava a língua grega. Os bispos em litígio foram chamados ‘patriarcas’, um termo que acopla o ‘pater’ grego com o poder político (‘archè’, em grego, significa ‘poder’). O patriarca é ao mesmo tempo pai e líder político. Nos inícios, Roma participava pouco dessa disputa, por ficar longe dos grandes centros do poder da época e usar uma língua menos universal (apenas usada na administração e no exército do sistema imperial romano), o latim. Por sua vez, Jerusalém, cidade ‘matriz’ do movimento cristão, ficou fora do páreo por ser uma cidade de pouca importância política. Mesmo assim, Roma se fazia valer na parte ocidental do império. O já citado bispo Cipriano, de Cartago, reagiu com energia diante das pretensões hegemônicas do bispo de Roma e insistiu: entre bispos tem de reinar uma ‘completa igualdade de funções e poder’. Mas o curso da história foi implacável. Os sucessivos patriarcas de Roma conseguiram ampliar sua autoridade e elevaram o tom da voz, principalmente após a bem sucedida aliança com o emergente poder germânico no ocidente (Carlos Magno, 800). As relações com os patriarcas orientais (principalmente com o patriarca de Constantinopla) se tornaram sempre mais tensas até que aconteceu a ruptura de 1052. Aí começou a história da igreja católica apostólica romana propriamente dita. 4. O papa fica do lado dos mais fortes Uma vez ‘dona do pedaço’, Roma foi elaborando de forma sofisticada a ‘arte da corte’ que ela aprendera com Constantinopla. Ao longo dos séculos, praticamente todos os governos da Europa ocidental aprenderam por sua vez a arte diplomática com Roma. Trata-se de uma arte nada edificante, que inclui hipocrisia, aparência, habilidade em lidar com o povo, impunidade, sigilo, linguagem codificada (inacessível aos fiéis), palavras piedosas (e enganosas), crueldade encoberta de caridade, acumulação financeira (indulgências, ameaça do inferno, pastoral do medo etc.). A imponente ‘História criminal do cristianismo’, em 10 volumes, que o historiador K. Deschner acaba de concluir, descreve essa arte eminentemente papal em detalhes. Foi principalmente por meio da arte diplomática que, ao longo da idade média, o papado teve sucessos fenomenais. Sem armas, Roma enfrentou os maiores poderes do ocidente e saiu vitoriosa (Canossa 1077). Como resultado, a igreja foi afetada, no dizer do historiador Toynbee, pela ‘embriaguez da vitória’. O papa perdeu contato com a realidade do mundo e passou a viver num universo irreal, repleto de palavras sobrenaturais (que ninguém entende). Como bem observa Ivone Gebara, algumas dessas palavras ainda hoje estão em voga, como quando se diz que o Espírito Santo elegerá o próximo papa. Com o advento da modernidade, o papado perde paulatinamente espaço público. No século XIX, principalmente durante o longo pontificado de Pio IX, a antiga estratégia de se opor aos ‘poderes deste mundo’ não funciona mais. Não traz mais vitórias, registra apenas derrotas. Então, o papa Leão XIII resolve mudar a estratégia e inicia uma política de apoio aos mais fortes, uma estratégia que funciona durante todo o século XX. Bento XV sai da primeira guerra mundial ao lado dos vitoriosos; Pio XI apoia Mussolini, Hitler e Franco, enquanto Pio XII pratica a política do silêncio diante dos crimes contra a humanidade perpetrados durante a segunda guerra mundial, à custa de incontáveis vidas humanas. Após uma breve interrupção com João XXIII, a política de apoio silencioso aos fortes (e de palavras genéricas de consolo aos perdedores) prossegue até os nossos dias. 5. Hoje, o papado é um problema Por tudo isso, pode-se dizer hoje que o papado não é uma solução, é um problema. Não se diz o mesmo do episcopado, pois este registra, nos últimos tempos, páginas luminosas. Além dos bispos mártires (como Romero e Angelelli), tivemos aqui na América Latina uma geração de bispos excepcionais entre os anos 1960 e os anos 1990. Além disso, o concílio Vaticano II avançou a ideia da colegialidade episcopal, no intuito de fortalecer o poder dos bispos e limitar o poder do papa. Mas tudo esbarrou num muro intransponível feito de mistura entre preguiça mental (a lei do menor esforço), fascínio pelo poder (Walter Benjamin), disponibilidade do fraco diante do poderoso (Machiavelli) e arte cortesã (Norbert Elias). Mesmo assim, vale lembrar que o catolicismo é maior que o papa e que a importância dos valores veiculados pelo catolicismo é maior que o atual sistema de seu governo. 6. Pode a igreja católica subsistir sem papa? Pode a França subsistir sem rei, a Inglaterra sem rainha, a Rússia sem czar, o Irã sem aiatolá? A própria história se encarrega de dar a resposta. A França não se acabou com a destituição do rei Luis XVI e o Irã certamente não se acabará com o fim do reino dos aiatolás. Isso se aplica ao cristianismo, como comprova o surgimento do protestantismo no século XVI. Haverá certamente resiliências e saudosismos, tentativas de volta ao passado, mas instituições não costumam desaparecer com mudanças de governo. Em geral, o movimento da história em direção a uma maior democracia e participação popular é irreversível (ao que parece). Cedo ou tarde, a igreja católica terá de enfrentar a questão da superação do papado por um sistema de governo central mais condizente com os tempos que vivemos. Dentro dessa lógica pode-se dizer que a atual ânsia em fazer prognósticos acerca do futuro papa pode desviar a atenção do que é realmente importante. Pois não se trata do papa, mas do papado como forma de governo. Compreende-se que a mídia, nestes dias, se compraz em focalizar a figura do papa. Pois, para ela, o papa é negócio. O sucesso do enterro do papa João Paulo II, alguns anos atrás, mostrou aos planejadores da mídia as potencialidades financeiras de grandes eventos papais. Com prazer, a mídia se encarrega hoje de divulgar os pontos básicos do catecismo papal: o papa é o sucessor de Pedro, o primeiro papa; a eleição de um papa, em última análise, é obra do Espirito Santo; que ninguém perca a indulgência plenária concedida excepcionalmente por Deus por ocasião da primeira bênção do novo papa. Eis o que veremos nas próximas semanas. Talvez seja melhor não falar muito da eleição do futuro papa nestes dias, mas trabalhar sobre temas que preparem a igreja do futuro. Termino trazendo aqui dois exemplos recentes em torno dessa problemática. Poucas pessoas sabem que, nos idos de 1980, o cardeal Aloísio Lorscheider chegou a discutir com o papa João Paulo II acerca da descentralização do poder na igreja. Não existe registro escrito ou fotografado dessa discussão, mas parece que o papa se mostrou aberto às sugestões do cardeal brasileiro, conforme consta na encíclica ‘Ut unum sint’. Esse ponto foi comentado por José Comblin num de seus últimos trabalhos: ‘Problemas de governo da igreja’ (veja internet). Penso que o papa só não avançou porque não percebia na igreja uma real vontade política em avançar na direção da descentralização do governo. Nesse caso, ficou claro que o problema não é o papa, mas o papado. Um exemplo bem diferente, mas que aponta na mesma direção, é dado por outro bispo brasileiro, Helder Camara. Chegando a Roma para participar do Concílio Vaticano II (ele não tinha viajado à Europa antes), o bispo brasileiro estranhou os comportamentos na corte romana a ponto de ter alucinações, como conta em suas cartas circulares. Certa vez, por ocasião de uma sessão na basílica de São Pedro, ele teve a impressão de ver o imperador Constantino invadir a igreja montado num garboso cavalo a pleno galope. Outra vez, ele sonhou que o papa ficou louco, jogou sua tiara no Tibre e atou fogo no Vaticano. Ele dizia, em conversas informais: o papa faria bem em vender o Vaticano à Unesco e alugar um apartamento no centro de Roma. Pude verificar pessoalmente, em diversas ocasiões, que Dom Helder detestava o ‘sigilo papal’ (um dos instrumentos do poder de Roma). Ao mesmo tempo, o bispo brasileiro mantinha amizade com o papa Paulo VI, o que mostra, mais uma vez, que o problema não é o papa, mas sim o papado enquanto instituição.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Antiga entrevista com Leonardo Boff antes de posse de Bento XVI

(os grifos são nossos) *Entrevista dada a Paula Gobbi, jornalista do Los Angeles Times ///// 1) Quando o Sr. conheceu Joseph Ratzinger? Tenho entendido que ele foi seu supervisor de dissertaçao de Doutorado. Isso e correto? Como era sua relaçao, entao? Poderia descrever-lo? (era severo, amigavel, exigente?) R/Eu conheci Joseph Ratzinger na Alemanha como professor e grande conferencista nos fins dos anos 60 do século passado, teólogo que fazia críticas ao centralismo romano e que pedia mais liberdade para a teologia poder dialogar sem constrangimentos com as tendências da cultura contemporânea. Depois, quando terminei minha tese doutoral foi ele que a leu e se entusiasmou tanto que achou uma editora para publicá-la ajudando-me até financeriamente com uma substanciosa soma. Sempre foi uma pessoa afável e extremamente cortes. 2) Quando o chamou a aparecer frente o tribunal de doutrina? Qual era o motivo? Por que motivo o Sr. foi escolhido entre outros? R/ Em 1982 escrevi um livro Igreja: carisma e poder no qual aplicava as intuições da teologia da libertação às condições internas da Igreja. Ai denunciava a opressão da mulher, o atropelo dos direitos humanos, a concentração de poder nas mãos do clero e o controle severo das doutrinas. Isso não agradou o Vaticano. Recebi um processo judicial junto a ex-Inquisição presidida pelo Cardeal J. Ratzinger. Em 1984 sentei na mesma cadeira onde sentou Galileo Galilei e Giordano Bruno e durante três horas fui interrogado pelo Cardeal. Depois fui punido, pois me impuseram o silêncio obsequioso, uma espécie de silêncio penitencial, fui deposto da cátedra de teologia sistemátia e ecumência e proibido de escrever e publicar. Mas onze meses depois fui liberado. Meu julgamento foi feito no contexto da publicação da Instrução contra a teologia da libertação que foi lançada três dias antes do meu julgamento. Assim se criou a atmosfera de julgamento e de condenação também da teologia da libertação que na época mobilizou a opinião pública mundial que apoiava este tipo de teologia porque se ocupava dos pobres do mundo e da justiça necessária, questões éticas de grande dignidade que comoveram as pessoas e as irritaram contra Roma. 3) Poderia descrever o procedimento do tribunal? Por exemplo foi dentro do Vaticano, quantos dias durou, e quantas pessoas o questionavam. Era um ambiente amigavel ou hostil? R/ Não tenho prazer em escrever sobre estas coisas, pois elas são psicologicamente muito traumatizantes. Fui introduzido no Palácio del Santo Oficio, a antiga Inquisição, onde se praticavam as torturas. Atravessei acompanhado pelo Cardeal vestido de forma oficial, uma imenso salão todo acarpetado e cheio de quadros renascentistas nas paredes. No final, havia uma pequena sala onde ocorreu o interrogatório. Ele se deu entre eu e o Cardeal frente a frente. Um notário ao lado anotava tudo. O ambiente era severo e pesado. O Cardeal fazia as perguntas e apenas escutava. Discutíamos alguns pontos que não cabe aqui detalhar. Assim foram três horas.. No final houve outra parte na qual participaram dois Cardeais Brasileiros Dom Paulo Evaristo Arns de São Paulo e Dom Aloisio Lorscheider que vieram a Roma para me apoiar e para dizer ao Cardeal Ratzinger que ele podia julgar doutrinariamente minha teologia mas que eles como Pastores queriam testemunhar que ela fazia bem aos fiéis e era boa para a Igreja. Mas isso não ajudou nada pois mesmo assim fui condenado. 4) Como era Ratzinger durante as audiencias? Era profesional ou impessoal, pastoral ou comprensivo, aumento o tom de voz ou foi afetuoso? R/ O Cardeal foi sempre afável e elegante. Nunca ergueu a voz. Era fácil ser benevolente pois tinha todo o poder em suas mãos.. Percebi que ele possui uma inteligente brilhante e conceitos claros e distintos como queria Descartes. Mas não possui a cordialidade do pensamento que vai ao encontro do outro para também aprender. Ele se sente o portador da verdade. Desde 1972 que tinha problemas com a Congregação para a Doutrina da Fe. Praticamente cada livro que publicava provocava cartas de explicação vindas de Roma. O julgamento do livro Igreja: carisma e poder representou uma culminância. Ai tive a nítida impressão que a lógica da Congregação é a mesma da antiga Inquisição. Mudaram os métodos, pois não mais torturam os corpos, mas a vontadde de condenar é a mesma o que tortura a psiqué pela marginalização, desmoralização e difamação que fazem do teólgo diante dos bispos, proibidos de lhe convidar para asessorias, retiros ou palestras. A Congregação não perdoa nada, não esquece nada e cobra tudo. Não me parece que tal atitude tem algo a ver com o espírito evangélico. 5) Porque o Sr. aceito a pena do "silencio obsequio"? Eles ameaçaram retirar-lo como padre? R/ Aceitei as penas e o silêncio obsequioso por um juizo político. Eu entendi e assim tambem o entenderam muitos bispos importantes da igreja brasileira que o objetivo da intervenção do Vaticano não era propiramente eu. Queria atingir a Igreja do Brasil, a igreja comprometida com o social, com as comunidades de base e com a libertação. Eu era pretexto para frear o entusiasmo pastoral da Igreja na luta ao lados dos pobres. Sabendo disso, eu acolhi o silêncio obsequioso e as demais punições para impedir que atingissem e condenassem as comunidades eclesiais de base e a teologia da libertação. E creio que o consegui, pois os do Vaticano ficarm surpresos com minha atitude de aceitação. 6) O que ocasionou sua saida do ministério em 1992? R/ Suspensas penas eu voltei ao meu trabalho de professor e de assessor de comunidades eclesiais de base e de apoio aos movimentos sociais. O controle de Roma continuou, pois cada escrito meu devia ser censurado por duas instâncias diferentes, uma da Ordem franciscana à qual pertencia e outra do bispo. Durante a Eco-92 no Rio de Janeiro, quando se reuniram os chefes de Estado do mundo todo para discutir a relação entre desenvolvimento e meio ambiente, veio o Cardeal Sebastião Baggio e me disse que eu não havia aprendido nada das punições. Que deveria de novo entrar em silencio obsequioso, que deveria agora sair da America Latina e do Brasil e que deveria escolher algum convento nas Filipinas ou na Coreia. Eu lhe perguntei se nestes paises eu poderia falar e escrever. Ele me respondeu que absolutamente não podia e que deveria ficar em silencio no convento. Como a posição de Roma era irredutível, tive que decidir, pois achava injusta esta punição. Escrevi dois dias apos uma carta onde dizia que mudava de trincheria mas não de luta em favor dos pobres. Deixava o ministério sacerdotal e a Ordem Franciscana e me autopromovi a leigos. Continuei meu trabalho de professor e de assessor dos movimentos sociais e tambem de professor de ética e filosofia da religião na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 7) O Sr. acha que Ratzinger, como novo Papa, será mais aberto à discussão de vários temas, como insinuou nas primeiras declarações, como Benedicto XVI? R/ Tudo indica que o novo Papa vai continuar a linha de seu predecessor. Como não tem o carisma dele, seguramente vai dar mais autonomia às igrejas locais e fazer um esforço de pacificar a Igreja internamente porque há muitas feridas, amargura e divisões provocadas pelas pesadas intervenções do Cardeal Ratzinger sobre 140 teólogos que foram punidos, conferências de bispos que foram humilhadas, bispos comprometidos com os pobres e os índios perseguidos coo Dom Pedro Casaldáliga no Brasil e Samuel Ruiz no Mexico e Leonidas Proaño no Equador e outros. Sem esta atmosfera fraterna não se pode viver a Igreja como comunidade. Eu acredito em milagres. Pode ser que agora, Bento XVI, livre da sombra de João Paulo II, volte a ser aquilo que foi como jovem professor, aberto, gerador de esperança e não de medo. Precisamos de uma Igreja que retome a Reforma Catolica iniciada pelo Vaticano II e enriquecida com as contribuições vindas das Igrejas da periferia do mundo e se abra à nova fase da humanidade, a fase planetária, atenta ao grito dos bilhões de oprimidos e do grito da Terra, das aguas, dos solos, das floresta devastadas e que faça da Igreja uma força de conclamação para a justica e a solidariedade todos..

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Renúncia do Papa dá esperanças a adeptos da Teologia da Libertação

14/2/2013 Novo pontífice pode criar atmosfera mais aberta, afirma teólogo brasileiro. Atual Papa Bento XVI não era simpático à linha teológica. Os representantes da Teologia da Libertação, corrente progressista da Igreja Católica com presença forte na América Latina, manifestaram esperança de que o Vaticano assuma um compromisso maior com os pobres e viva um processo de abertura, após o anúncio da renúncia do papa Bento XVI. Esperamos que outro Papa crie uma atmosfera mais aberta, que os cristãos possam dialogar com a cultura moderna sem as tantas suspeitas e críticas, afirmou o teólogo brasileiro Leonardo Boff em entrevista ao canal venezuelano Telesur. Boff, uma das figuras centrais da Teologia da Libertação, foi aluno de Bento XVI quando ele era o cardeal Joseph Ratzinger. O teólogo comentou que o Papa atual é uma figura muito controversa e complexa. O estilo com que o Papa administrou a Igreja nos últimos seis anos, que o teólogo brasileiro definiu como burocrático e duro, fez com que muitos não sintam mais a Igreja como um lar espiritual, diz ele. A Teologia da Libertação surgiu na América Latina após o concílio Vaticano II (1962-1965), e estimulou a opção preferencial pelos pobres, com um compromisso por sua emancipação social e política, afirmam agências internacionais. Esta postura, que em um determinado momento entusiasmou o Papa Paulo VI, não contou com a simpatia de João Paulo II e foi desautorizada pelo próprio Ratzinger como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, a antiga Santa Inquisição. Boff, que deixou a batina em 1992 em meio a fortes divergências com o Vaticano, elogiou Bento XVI por tomar uma decisão que nenhum pontífice havia tomado em 600 anos. No entanto, o teólogo afirmou às agências internacionais que o pontífice carrega um fardo negativo muito grande na história da teologia cristã. Entrará para a história como um Papa inimigo da inteligência dos pobres e de seus aliados. Ato de responsabilidade Em El Salvador, a comunidade jesuíta, ligada à Teologia da Libertação, elogiou a renúncia do Papa como um ato de responsabilidade, mas criticou o fato de não ter avançado com o processo de beatificação do arcebispo salvadorenho Oscar Romero, um emblemático defensor dos pobres e oprimidos. José María Tojeira, diretor pastoral da Universidade Centroamericana (UCA) de San Salvador, instituição de caráter jesuíta, lamentou a dívida que Bento XVI deixa com a comunidade católica salvadorenha. Romero foi assassinado em março de 1980 pelos esquadrões de extrema-direita, em resposta a seus constantes pedidos por justiça social e respeito pelos direitos humanos, em um desafio aberto ao poder político e militar da oligarquia salvadorenha. No mesmo ano explodiu uma guerra civil em El Salvador que durou 12 anos, e na qual os seguidores da Teologia da Libertação estiveram claramente identificados com as forças da insurgência. A controvérsia com o Vaticano prosseguiu após o fim da guerra: Jon Sobrino, jesuíta de origem espanhola e um dos teólogos mais próximos ao arcebispo Romero, foi punido pelo Vaticano em março de 2007 em uma resolução aprovada por Bento XVI, que o proíbe de dar aulas em instituições católicas. A punição, segundo a versão oficial, foi motivada por algumas obras de Sobrino. Nelas, segundo o Vaticano, o jesuíta enfatizou o caráter humano de Jesus Cristo e ocultou sua natureza divina. O poeta e sacerdote Ernesto Cardenal, 88 anos, destacada figura da Teologia da Libertação naNicarágua, não avaliou o legado de Bento XVI, mas disse que estava feliz com a renúncia. Durante a primeira visita do falecido Papa João Paulo II à Nicarágua, em 1983, Cardenal era ministro da Cultura no primeiro governo do presidente Daniel Ortega, desobedecendo uma ordem do Vaticano que pedia aos padres que separassem a sua militância política no sandinismo. Na ocasião, João Paulo II advertiu Cardenal diante das câmeras, em uma imagem que rodou o mundo. Fonte: G1

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Renúncia evidencia clima de 'guerra civil' no Vaticano

13/02/2013 - 04h00/// CLÓVIS ROSSI/// ENVIADO ESPECIAL A ROMA/// O dia seguinte ao anúncio da renúncia de Bento 16 evidenciou ainda mais o ambiente de guerra civil no Vaticano que boa parte dos especialistas aponta como a razão de fundo para a sua decisão, muito mais que o peso da idade. O melhor resumo está no editorial de capa do sóbrio "Corriere della Sera", assinado por ninguém menos que seu diretor, Ferruccio de Bortoli. Diz que o ato do papa "foi certamente encorajado pela insensibilidade de uma cúria que, em vez de confortá-lo e apoiá-lo, apareceu, por diversos de seus expoentes, mais empenhada em jogos de poder e lutas fratricidas". Reforça Massimo Franco, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres, autor do premiado "Era uma Vez um Vaticano": a renúncia do papa seria, para ele, "o sintoma extremo, final, irrevogável, da crise de um sistema de governo e de uma forma de papado". Bento 16 é apontado como um dos culpados por essa crise de sistema de governo até por quem, como o vaticanista Luigi Accattoli, elogia aspectos de seu papado: "Bento 16 iniciou uma grande obra de limpeza em matéria de escândalos sexuais e de finanças vaticanas, mas não conseguiu restabelecer a boa ordem na Cúria" (o órgão administrativo da Santa Sé, que coordena e organiza o funcionamento da Igreja Católica). A pergunta seguinte inescapável é esta: a renúncia será suficiente para pôr fim ao que Bortoli chamou de "lutas fratricidas" ou, ao contrário, servirá para acentuá-las de forma que o lado vencedor imponha seu preferido para ocupar o trono de Pedro? Paolo Griseri se atreve a responder, em texto para "La Repubblica", escolhendo a segunda hipótese: "O que esteve dividido durante o pontificado de Bento 16 permanecerá dividido no conclave e nos dias que o precederão". O mais paradoxal na guerra civil no Vaticano é que ela não se dá mais entre os chamados "progressistas" e os "conservadores". Estes venceram e reduziram o outro lado à impotência e/ou ao silêncio, para o que Joseph Ratzinger foi essencial, em seu longo período à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, antiga Inquisição. Os contornos do novo conflito são mais embaçados, até porque a Igreja Católica está impregnada de uma cultura do segredo. Mas parece tratar-se de uma disputa entre o velho e o novo. Um pouco nessa linha seguiu Juan Arias, o correspondente de "El País" no Brasil e que, em seu longo período no Vaticano, tornou-se um dos mais respeitados analistas da igreja no mundo. Arias minimiza a importância da discussão sobre se seria melhor "um papa latino-americano, africano, asiático ou de novo europeu e, mais concretamente, italiano". Para ele, "importante é que o sucessor de Bento 16 seja capaz de entender que o mundo está mudando rapidamente e que de nada servirá à igreja continuar levantando muros para impedir que lhe cheguem os gritos de mudança que provêm de boa parte da própria cristandade". É curioso que Arias, um leigo progressista, coincida com o próprio papa, notório conservador, que, no texto em que anunciou a renúncia, atribuiu-a à falta de forças para "o mundo de hoje, sujeito a mudanças rápidas e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé". É razoável supor que o papa estivesse se referindo a temas como a necessária limpeza dos pecados que a igreja acobertou (os padres pedófilos), o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o celibato dos padres, o papel da mulher na vida da igreja. Resta saber se um colégio cardinalício feito à imagem e semelhança de Ratzinger tem, entre seus membros, número suficiente de purpurados abertos ao mundo capazes de conduzir um dos seus ao trono de Pedro. http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1229942-renuncia-evidencia-clima-de-guerra-civil-no-vaticano.shtml

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Conflitos internos podem ter provocado renúncia do Papa

Conflitos internos podem ter provocado renúncia do Papa///// Enviado por luisnassif,/////qua, 13/02/2013 - 09:46 Do Estadão Disputa de poder na Igreja pode ter provocado renúncia de Bento XVI Fontes próximas ao Vaticano afirmam que exaustão declarada pelo pontífice está ligada aos confrontos internos, e não apenas à idade avançada; corrupção no Banco do Vaticano e roubo de documentos por seu ex-mordomo contribuíram para o desgaste Jamil Chade CIDADE DO VATICANO - Cansado e sem energia, mas também isolado politicamente. O papa Bento XVI de fato renunciou ao pontificado por conta de sua fragilidade. Fontes próximas ao Vaticano, porém, afirmam que a exaustão não tem a ver apenas com a sua saúde, mas também com a disputa de poder que marcou seus últimos meses no trono. A renúncia teria sido uma reação extrema ao que muitos classificam de governo paralelo, que teria se formado à sua sombra e sob comando do cardeal Tarcisio Bertone. Por seus aliados, Bento XVI optou por sacrificar seu próprio cargo, na esperança de recolocar a Igreja num caminho de maior coesão, forçando uma nova eleição. Fontes nas embaixadas estrangeiras junto à Santa Sé relataram ao Estado os bastidores dos últimos meses de Bento XVI. Dizem que o papa renunciou de livre vontade, mas consciente de que já não mandava sozinho na Santa Sé e, com os poucos anos que lhe restavam, não conseguiria fazer o que havia planejado diante de resistência de seus ex-aliados. De forma indireta, a Santa Sé confirmou que a fragilidade não vinha de sua saúde. "O papa é uma pessoa de grande realismo e conhece os problemas e as dificuldades", disse o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. "A renúncia foi uma mensagem à Cúria, mas também a todos nós", disse. "Foi um ato de humildade, sabedoria e responsabilidade." Segundo Lombardi, não havia um problema específico, mas sim uma visão "mais ampla da Igreja no mundo. "Não foi uma decisão improvisada. Foi algo muito lúcido." A possibilidade de renúncia era cogitada por Bento XVI desde abril de 2012, após viagem ao México e a Cuba. O papa chegou ao trono com a promessa de que conduziria uma limpeza na Igreja. O resultado, porém, foi o oposto e o equilíbrio de poder que havia durante os anos de João Paulo II ruiu. Suas decisões de punir cardeais simplesmente foram ignoradas ou levaram anos para serem cumpridas, em um desafio claro ao poder do papa. Foram os casos de Roger Mahony ou de Thomas Curry. Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, foi outro que acabou sendo protegido por anos, apesar das denúncias. Por mais que tenha tentado, Bento XVI jamais conseguiu implementar sua ideia "de tolerância zero" em relação à pedofilia. "Quanta sujeira na Igreja", chegou a declarar. Bento XVI também deu indicações de que poderia rever algumas de suas posições, como a questão do preservativo. Cardeais mostraram-se irritados e se apressaram em negar o debate. Esse não seria o único caso de desobediência. Bertone tomaria medidas à sua revelia, até mesmo punindo aliados do papa. Em uma ocasião, teria chorado. Amigo pessoal do papa, Bertone foi a pessoa que mais recebeu poder dentro da Igreja em 2005. Mas, em alianças com membros da Cúria, teria criado situações em que colocava Bento XVI contra esses cardeais. Para evitar uma disputa direta, o papa optou inicialmente por não questionar as decisões de seu ex-aliado. Mas isso teria ido longe demais. Um dos casos que revelou o poder de Bertone foi o do cardeal Carlo Maria Vigano, que alertou Bento XVI sobre suspeitas de corrupção nos contratos do Vaticano. O caso chegou até a imprensa italiana. Imediatamente, Bertone decidiu nomear Vigano como núncio nos Estados Unidos. Outros fatos. Também pesaram a revelação de corrupção no Banco do Vaticano, seguido pelo descobrimento de que próprio mordomo, pessoa que o vestia e estava em sua intimidade, havia roubado documentos que expunham a corrupção na Igreja. Para diplomatas, um indício de que Bento XVI não acreditava que o mordomo havia agido sozinho foi sua decisão de perdoá-lo, mesmo depois que um tribunal do Vaticano o condenou. Em agosto, Bento XVI foi à casa que o Vaticano dispõe nos arredores de Roma para descanso. Fontes no Vaticano confirmaram que já naquele momento ele estava isolado. Nos últimos meses, o papa abandonou o confronto. Aos que chegavam com alguma intriga doméstica, respondia: "Eu sou um papa velho". http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/conflitos-internos-podem-ter-provocado-renuncia-do-papa

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Mística e alegria

04.02.13 - Mundo - Adital/ Marcelo Barros, Monge beneditino e escritor /
Nesses primeiros dias de fevereiro, o mundo parece invadido pelo clima de alegria do Carnaval. Este envolve pessoas de todas as classes sociais. Suas danças e folguedos representam culturas que, a depender do lugar, revivem em expressões indígenas, negras ou europeias. Embora o Carnaval tenha origens religiosas, muitas vezes, as Igrejas cristãs ainda o olham com desconfiança, assim como suspeitam de todo tipo de diversão e prazer. É verdade que, cada vez mais, na estrutura atual do mundo, o Carnaval é dominado por interesses econômicos e expressa as contradições dessa sociedade. Entretanto, não se pode negar: de uma forma ou de outra, em todas as épocas e nas mais diferentes culturas, a atração pela festa e a busca da alegria fazem parte essencial da vocação humana. As religiões deveriam assumir e expressar isso. No Cristianismo, Evangelho significa boa notícia. No primeiro testamento, Deus se revela para libertar o povo oprimido do cativeiro, dar terra a quem não a tinha e criar na humanidade uma comunhão de vida. No Novo Testamento, cada vez que o Espírito de Deus se manifesta, a consequência imediata é a alegria. Sempre que Jesus fica cheio do Espírito, exulta de grande regozijo. Ele compara o projeto divino no mundo com uma festa de casamento. Conforme o quarto evangelho, o primeiro sinal que ele fez para revelar sua missão ao mundo foi fazer com que não falte vinho e, portanto, alegria, em uma festa de casamento na Galileia. Durante muito tempo, a doutrina da Igreja parecia dar mais valor à penitência, à reparação das faltas e à luta contra o pecado do que à graça divina e à alegria do amor. A visão sobre o ser humano e sobre nós mesmos era pessimista e predominantemente negativa. Hoje, as comunidades cristãs são chamadas a valorizar a natureza como criação divina, sinal da bênção amorosa de Deus e reflexo da divindade. Um comentário judaico do Gênesis diz que, quando o universo surgiu do útero do Criador, centelhas da divindade se espalharam por todas as criaturas. Estas não são divinas em si mesmas, mas são divinizadas pela luz do Criador. E o ser humano, criado à própria imagem divina, deve se tornar, pelo seu modo de viver, semelhante ao Espírito, cuidador amoroso do universo e dos seus outros irmãos, assim como de si mesmo. O objetivo da espiritualidade é nos ajudar a atingir essa divinização de todo o ser. Mesmo com métodos e formas que podem ser estranhas à educação da fé, o Carnaval pode recordar às Igrejas cristãs que a alegria e o espírito de festa são elementos essenciais do projeto divino no mundo. Na Carta aos Filipenses, Paulo escreveu: "Alegrem-se sempre em Deus. Eu insisto: alegrem-se, porque o Senhor está perto” (Fl 4, 4). Hoje, dizemos: ele está em nós.

Mística e alegria

04.02.13 - Mundo - Adital - Marcelo Barros Monge beneditino e escritor /
Nesses primeiros dias de fevereiro, o mundo parece invadido pelo clima de alegria do Carnaval. Este envolve pessoas de todas as classes sociais. Suas danças e folguedos representam culturas que, a depender do lugar, revivem em expressões indígenas, negras ou europeias. Embora o Carnaval tenha origens religiosas, muitas vezes, as Igrejas cristãs ainda o olham com desconfiança, assim como suspeitam de todo tipo de diversão e prazer. É verdade que, cada vez mais, na estrutura atual do mundo, o Carnaval é dominado por interesses econômicos e expressa as contradições dessa sociedade. Entretanto, não se pode negar: de uma forma ou de outra, em todas as épocas e nas mais diferentes culturas, a atração pela festa e a busca da alegria fazem parte essencial da vocação humana. As religiões deveriam assumir e expressar isso. No Cristianismo, Evangelho significa boa notícia. No primeiro testamento, Deus se revela para libertar o povo oprimido do cativeiro, dar terra a quem não a tinha e criar na humanidade uma comunhão de vida. No Novo Testamento, cada vez que o Espírito de Deus se manifesta, a consequência imediata é a alegria. Sempre que Jesus fica cheio do Espírito, exulta de grande regozijo. Ele compara o projeto divino no mundo com uma festa de casamento. Conforme o quarto evangelho, o primeiro sinal que ele fez para revelar sua missão ao mundo foi fazer com que não falte vinho e, portanto, alegria, em uma festa de casamento na Galileia. Durante muito tempo, a doutrina da Igreja parecia dar mais valor à penitência, à reparação das faltas e à luta contra o pecado do que à graça divina e à alegria do amor. A visão sobre o ser humano e sobre nós mesmos era pessimista e predominantemente negativa. Hoje, as comunidades cristãs são chamadas a valorizar a natureza como criação divina, sinal da bênção amorosa de Deus e reflexo da divindade. Um comentário judaico do Gênesis diz que, quando o universo surgiu do útero do Criador, centelhas da divindade se espalharam por todas as criaturas. Estas não são divinas em si mesmas, mas são divinizadas pela luz do Criador. E o ser humano, criado à própria imagem divina, deve se tornar, pelo seu modo de viver, semelhante ao Espírito, cuidador amoroso do universo e dos seus outros irmãos, assim como de si mesmo. O objetivo da espiritualidade é nos ajudar a atingir essa divinização de todo o ser. Mesmo com métodos e formas que podem ser estranhas à educação da fé, o Carnaval pode recordar às Igrejas cristãs que a alegria e o espírito de festa são elementos essenciais do projeto divino no mundo. Na Carta aos Filipenses, Paulo escreveu: "Alegrem-se sempre em Deus. Eu insisto: alegrem-se, porque o Senhor está perto” (Fl 4, 4). Hoje, dizemos: ele está em nós.