As forças progressistas, da Teologia da Libertação, incluindo teólogos/as, pastorais sociais, Cebs, agentes de pastoral, religiosos/as, leigos e leigas, se mobilizaram para participar da Conferencia de Aparecida (2007) - uma des suas ações foi a Tenda dos Mártires, como espaço aberto, celebrativo, por 15 dias, enquanto durou a Conferência. A Tenda dos Mártires foi um alerta à toda Igreja para não esquecer seus mártires, sua caminhada, sua identidade de libertação.
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quarta-feira, 19 de junho de 2013
Por que o Brasil, e agora?
Juan Arias
Adital
Tradução: ADITAL
Gera perplexidade dentro e fora do país a crise criada repentinamente no Brasil com o surgimento dos protestos de rua, primeiro nas ricas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, que, agora, se estendem a todo o país e, inclusive, envolve brasileiros no exterior.
No momento, mais do que respostas, interessam as perguntas, para que se possa entender o que está acontecendo. Há um consenso de que o Brasil, invejado internacionalmente, vive uma espécie de esquizofrenia ou um paradoxo que ainda devem ser analisados e explicados.
Comecemos com algumas perguntas:
Por que surge agora um movimento de protesto como os que, em outros países, já quase deram a volta ao mundo; quando durante dez anos o Brasil viveu como que anestesiado por seu êxito partilhado e aplaudido mundialmente? O Brasil está pior do que há dez anos? Não, está melhor. Pelo menos é mais rico; há menos pobres; e cresce o número de milionários. É mais democrático e menos desigual.
Então, como se explica que a presidenta Dilma Rousseff, que tem um consenso popular de 75%, um recorde que chegou a superar o do popular Lula da Silva, possa ser vaiada repetidamente na inauguração da Copa das Confederações, em Brasília, por quase 80.000 torcedores de classe média que puderam dar-se ao luxo de pagar até 400 dólares por uma entrada ao jogo?
Por que saem à rua para protestar contra o aumento de preços dos transportes públicos jovens que, normalmente, não usam os meios, porque têm carro, algo impensável há dez anos?
Por que protestam estudantes de famílias que até há pouco tempo não teriam sonhado em ver seus filhos estudarem em uma universidade?
Por que a classe média C, chegada da pobreza e que por primeira vez em sua vida puderam comprar uma geladeira, uma máquina de lavar roupa, uma televisão e até uma moto ou um carro usado, aplaude aos manifestantes?
Por que o Brasil, sempre orgulhoso de seu futebol, parece estar agora contra a Copa do Mundo, chegando a empanar a inauguração da Copa das Confederações com uma manifestação que produziu feridos, detenções e medo nos torcedores que foram ao estádio?
Por que esses protestos, inclusive violentos, em um país invejado até pela Europa e pelos Estados Unidos, devido ao desemprego quase zero?
Por que protestam nas favelas, onde seus habitantes têm visto sua renda duplicada e recobrada a paz que o narcotráfico lhes havia roubado?
Por que, de repente, levantaram-se em pé de guerra os indígenas, que já possuem 13% do território nacional e têm o Supremo sempre ao lado de suas reivindicações?
Será que os brasileiros são mal agradecidos com os que os ajudaram a melhorar de vida?
As respostas para todas essas perguntas, que causam em tanta gente, começando pelos políticos, uma espécie de perplexidade e assombro, poderiam ser resumidas em poucas questões.
Em primeiro lugar, poderíamos dizer que, paradoxalmente, a culpa é de quem deu aos pobres um mínimo de dignidade: uma renda não miserável, a possibilidade de ter uma conta corrente em um banco e acesso ao crédito para poder adquirir o que sempre foi um sonho para eles (eletrodomésticos, uma moto ou um carro).
Talvez o paradoxo se deva a isso: ter colocado os filhos dos pobres na escola, oportunidade que os pais e avós não tiveram; ter proporcionado aos jovens –brancos, negros, indígenas; a todos, pobres ou não-, entrar na universidade; ter dado para todos acesso gratuito à saúde; ter tirado os brasileiros do complexo de culpa de "cachorros de rua”; ter conseguido tudo aquilo que, em somente 20 anos, converteu o Brasil em um país quase do primeiro mundo.
Os pobres chegados à nova classe média se conscientizaram de ter dado um salto qualitativo na esfera do consumo e agora querem mais. Querem, por exemplo, serviços públicos de primeiro mundo, que não são; querem uma escola que além de acolhê-los, lhes ensine com qualidade, que não existe; querem uma universidade não politizada, ideologizada ou burocrática. A querem moderna, viva, que os preparem para o trabalho futuro.
Querem hospitais com dignidade, sem meses de espera; sem filas desumanas; onde sejam tratados como pessoas. Querem que não morram 25 recém nascidos em 15 dias em um hospital de Belém do Pará.
E querem, sobretudo, o que ainda lhes falta politicamente: uma democracia mais madura, na qual a polícia não continue atuando como na ditadura; querem partidos que não sejam, na expressão de Lula um "negócio” para enriquecer; querem uma democracia onde exista uma oposição capaz de vigiar o poder.
Querem políticos com menor carga de corrupção; querem menos desperdício em obras que consideram inúteis quando ainda faltam moradias para oito milhões de famílias; querem uma justiça com menor impunidade; querem uma sociedade menos abismal em suas diferenças sociais. Querem que os políticos corruptos vão para a prisão.
Querem o impossível? Não. Ao contrario dos movimentos de 68, que queriam mudar o mundo, os brasileiros insatisfeitos com o já alcançado querem que os serviços públicos sejam como os do primeiro mundo. Querem um Brasil melhor. Nada mais.
Definitivamente, querem o que lhes ensinaram a desejar para ser mais felizes ou menos infelizes do que foram no passado.
Escutei alguns dizerem: "Porém, o que mais essa gente quer?”. A pergunta me recorda o de algumas famílias que, segundo eles, depois de dar tudo aos filhos, estes se rebelam da mesma forma.
Às vezes, os pais se esquecem de que a esse ‘tudo’ faltou algo que, para o jovem, é essencial: atenção, preocupação com o que ele deseja e não pelo que às vezes lhe oferece. Necessitam não somente ser ajudados e protegidos; levados pela mão; querem aprender a ser protagonistas.
E aos jovens brasileiros, que cresceram e se conscientizaram não só do que já têm, mas do que ainda podem alcançar, do que lhes está faltando justamente é que lhes deixem ser mais protagonistas de sua própria história, ainda mais quando demonstram ser tremendamente criativos.
Que o façam, porém, sem violência agregada, pois já sobra violência a esse maravilhoso país que sempre preferiu a paz, em vez da guerra. E que não se deixem cooptar por políticos que tentarão pegar carona em seus protestos, para esvaziar seu conteúdo/sentido.
Em um cartaz se podia ler: "País mudo é um país que não muda”. E também, dirigido à polícia: "Não disparem contra meus sonhos”. Alguém pode negar a um jovem o direito de sonhar?
http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=75917
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