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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Concílio: envolvimento eclesial

Artigo Família Cristã – Fevereiro de 2012 – Sobre o Concílio
D. Demétrio Valentini
No próximo mês de outubro se completam 50 anos da abertura oficial do Concílio Vaticano II, acontecida em 1962.
A celebração deste jubileu se apresenta como preciosa oportunidade para recuperar a memória deste acontecimento tão importante para a Igreja em nosso tempo, e para retomar o processo de renovação eclesial que ele desencadeou.
Um primeiro aspecto importante já foi identificado. Não se entende o Concílio sem o contexto eclesial que o precedeu. As décadas anteriores ao Concílio foram marcadas por intensa vivência eclesial, que se expressava sobretudo por movimentos que marcaram época, como a Ação Católica e diversos outros movimentos, que encontraram depois no Concílio o contexto ideal para a consolidação dos valores que eles cultivavam.
A proposta de um concílio ecumênico, encontrou a Igreja, providencialmente, preparada e disposta a assumir organicamente muitos valores eclesiais que estavam se manifestando, mas que ainda não tinham encontrado o seu espaço adequado.
Depois de 50 anos do Concílio, é importante fazer esta constatação: o Concílio foi uma surpresa para a Igreja, mas na verdade esta surpresa foi produzida pela própria caminhada eclesial em nosso tempo, que tinha encontrado no pontificado de Pio XII a sua expressão mais completa.
O Concílio, portanto, não foi um fato estranho para a Igreja. Ao contrário, podemos agora identificar com clareza o processo eclesial que o precedeu e causou.
Prosseguindo agora a empreitada de “revisitar o Concílio”, para conferir como ele aconteceu, convém lembrar o intenso envolvimento eclesial, que foi se desencadeando rapidamente, a partir do anúncio do Concílio, acontecido no dia 25 de janeiro de 1959, até a abertura oficial, ocorrida em 11 de outubro de 1962.
Foram quase quatro anos de intensa atividade e de firme determinação para viabilizar o sonhado Concílio Ecumênica, cuja causa ia envolvendo sempre mais todas as esferas da Igreja.
O processo era conduzido firmemente pelo Papa João 23, que demonstrava serenidade em tomar as providências de organização do Concílio, mas ao mesmo tempo transmitia o sentimento da urgência em consolidar o processo conciliar, de modo a torná-lo irreversível, também em vista de sua idade avançada, fato que servia de evidente estímulo para concatenar as iniciativas.
Já em maio de 1959, no dia de Pentecostes, João 23 anunciava a criação da “Comissão ante-preparatória”, incumbindo-a de tomar as primeiras providências de preparação efetiva do concílio.
A primeira tarefa desta Comissão era elencar os assuntos que deviam ser levados ao debate conciliar. Acontece que pela primeira vez na historia da Igreja, tinha sido convocado um concilio, sem ter um problema concreto a resolver. Era, então, necessário identificar os assuntos que poderiam fazer parte do concílio. Esta era a incumbência confiada à Comissão.
Aí aconteceu o primeiro fato que iria compor o clima de abertura e de participação que ira caracterizar este Concílio. Acontece que a Comissão, em vez de ela mesma elencar os assuntos, teve a feliz idéia de pedir a opinião de todos os bispos do mundo, dos reitores de universidades católicas, e dos superiores de congregações religiosas com mais mil membros.
No mês de junho de 1959, a Comissão enviou a estes destinatários uma carta, pedindo sugestões. E elas choveram em abundância. Houve 1998 respostas, numa porcentagem de 77% dos destinatários, índice que demonstrava o grande interesse suscitado pela proposta conciliar.
Recolhidas as respostas, resultaram doze volumes, contendo dez mil páginas. Já no seu início, o Vaticano II tinha desencadeado sua verdadeira dimensão ecumênica.
De tal modo que havia abundante material, a ser analisado, para dele explicitar os assuntos a serem analisados pelo Concílio.
Para isto era preciso distribuir tarefas. Foi o que fez o Papa João 23, ao criar, no dia 06 de junho de 1960, as “Comissões Preparatórias”, que seriam presididas pela “Comissão ante-preparatória”, transformada agora em “Comissão Central” de preparação do Concílio.
Estava desencadeado o processo. As Comissões começaram logo seu trabalho, dedicando-se com afinco à tarefa recebida. Tanto que produziram nada mais nada menos do que 75 “esquemas preparatórios” que foram colocados à disposição do Concílio, quando ele começou oficialmente o seu trabalho.
De tal maneira que,já no ano seguinte ao início do trabalho das comissões, no Natal de 1961, o Papa pôde convocar oficialmente o Concílio, pela bula “Humanae Salutis”, estabelecendo que começaria em 1962, em data ainda a ser indicada. Depois foi confirmado o dia 11 de outubro de 1962.
Esquematizando as datas, percebemos os passos rápidos e firmes da Igreja, conduzida por João 23, em direção ao Concílio:
- 25 de janeiro de 1959 o anúncio do Concílio;
- Maio de 1959, no dia de Pentecostes, a criação da “Comissão ante-preparatória”;
- Junho de 1959: carta-consulta a todos os bispos;
- 05 de junho de 1960: Criação das “Comissões preparatórias” e constituição da “Comissão Central”;
- Natal de 1961: convocação oficial do Concílio;
- 11 de outubro de 1962: abertura solene do Concílio Vaticano II
Tudo somado, de novo é preciso enfatizar: o Concílio envolveu toda a Igreja, de maneira intensa, consciente, organizada, responsável. Este vasto e profundo acontecimento merece agora nosso apreço e nossa atenção.

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