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segunda-feira, 20 de junho de 2011

PADRE JOSIMO, 25 ANOS DE MÁRTIRIO, PRESENTE!

Zé Vicente


Nesse dia 10 de maio de 2011, celebramos 25 anos do assassinato do Pe. Josimo Morais Tavares, quando subia as escadas para a sala da CPT – Comissão Pastoral da Terra, em Imperatriz / MA. Era filho único da viúva, Dona Olinda e tinha então, 33 anos.

Naquele domingo das mães de 1981, eu era membro da CPT no Ceará e estava realizando um trabalho, juntamente com Luizinha Camurça, que também atuava na Secretaria do órgão do Regional, em Fortaleza. Ao recebermos a noticia, ligamos pra D. Aloísio Lorscheider, nosso arcebispo que nos orientou a elaborarmos uma pequena nota comunicando a todas dioceses do Regional NE I, o triste acontecido, lembrando a dimensão do testemunho pascal do mesmo.

Pe. Josimo sofreu várias ameaças, dois atentados e foi executado à bala, por um pistoleiro, a mando de um grupo de fazendeiros da região chamada Bico do Papagaio no Tocantins, onde ele acompanhava toda a situação de conflitos pela posse da terra e pelos direitos dos trabalhadores, como membro da coordenação da CPT.

Como cantor da caminhada, movido pelo testemunho de Josimo, compus a música “Renascerá” em sua homenagem.
“Renascerá, renascerá, o teu sonho, Josimo,
De um novo destino renascerá!
E chegará, e chegará tempo novo sagrado
Há tanto esperado, pra nós chegará!”

Por ocasião do décimo aniversário, em 1996, participei da programação. Este ano, fui convidado pela equipe formada por representantes da CPT, do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos), da Organização das Quebradeiras de Côco Babaçu, Sindicatos etc. para marcar presença, novamente, cantando num dos eventos da programação de mais uma Semana da Terra Pe. Josimo, em Augustinópolis / TO e em Imperatriz / MA.
Seminário sobre aquecimento global, oficinas, feira de agricultura familiar, pedágio, vivências, apresentações artísticas, missa, encheram a agenda dos dias 30 de abril a 08 de maio. “Não foi fácil motivar e conseguir apoios, inclusive de setores de nossas Igrejas” lamentava uma das mulheres participantes da coordenação em Imperatriz.

Confesso que vivemos momentos marcantes, tanto em Augustinópolis, na sexta, dia 06, quando cantamos na praça, numa noite chuvosa, com a participação calorosa de trabalhadores, militantes, vários padres, pastores, mulheres idosas, entre elas, Dona Olinda, mãe de Padre Josimo, que ainda vive e mora ali na região. Ao contemplar sua imagem tão pequena, cabelos brancos, silenciosa, vestindo a camiseta comemorativa, com a frase do testamento do filho: “morro por uma Causa justa!”, o nosso coração ardeu de emoção.

Em Imperatriz, cantamos com um público vibrante, no Ginásio da Paróquia de São Francisco, eu com a cantora Eliahne Brasileiro, o músico Heriberto Silva e mais vários artista da música e do teatro local. Foi realmente um belo mutirão de arte e memória. A presença do velho líder camponês, Manoel da Conceição, que veio com a família. Ele continua fiel e firme aos princípios da ética e da organização dos trabalhadores, desde muito jovem. Inclusive na última eleição presidencial, fez uma desafiante greve de fome, correndo riscos de vida, por conta da idade, protestando conta a imposição do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, que impôs ao Diretório do Maranhão o apoio a candidata Roseana Sarney.
Um dos momentos emocionantes foi quando convidamos Manoel no palco, para prestar nossa homenagem, dentro da memória pascal de Pe. Josimo. Ele não falou, apenas trocamos um longo abraço e recebeu nosso aplauso.

Na manhã do domingo, dia das mães, nos encontramos com o grupo de pessoas que promoveu o evento, na casa das Irmãs Teresianas, realizamos uma Vivência Mística, com dinâmicas, abraços, canções, poesias e um gostoso almoço compartilhado.
Denise, uma senhora militante, convidou a quem conheceu Josimo, para lembrar alguns traços do mesmo: “era um poeta, tocava violão, gostava de escutar as histórias das pessoas, tinha um jeito manso, gostava de usar aquelas chinelas havaianas...”
No final do dia fomos, com uma equipe menor, contemplar o pôr-do-sol na beira do grande Rio Tocantins. A lua nova também deu o ar de graça sobre nós.

A última estrofe do Samba pra Josimo voltou a minha lembrança, como utopia teimosa, assinada com seu sangue há 25 anos.

“Cada rio formoso lá do Tocantins
Levará teu sonho a todos os confins
E cada braço erguido, conquistando o chão
Terá as energias do teu coração!”

Assim seja!

Fortaleza, 10 de maio de 2011
Zé Vicente – poeta-cantor
e-mail: zvi@uol.com.br

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