10.10.11 - Mundo - Adital
Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor
(50 anos de Concílio Vaticano II)
Para qualquer instituição, todo projeto de reforma soa como ameaça. Até na vida humana, as fases de mudança são épocas de crise e dor. Nestes dias, a Igreja Católica inicia o 50º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, em Roma, no dia 11 de outubro de 1962. Desta semana até o próximo ano, no mundo inteiro, diversos eventos recordarão aquele evento que deu início a uma renovação da Igreja e a pôs em diálogo respeitoso e construtivo com o mundo contemporâneo. Se a Igreja quer ser fiel ao que, hoje, o Espírito de Deus diz às comunidades e ao mundo, deve prosseguir, com coragem e determinação, o diálogo com a humanidade e o trabalho exigente da sua renovação interna para melhor testemunhar o projeto divino neste mundo.
Há 50 anos, na Igreja Católica, o apego a tradições dos séculos medievais e modernos, como se existissem desde os tempos evangélicos, era ainda mais forte do que é hoje. Por isso, a maioria dos católicos estranhou quando, na noite de 25 de janeiro de 1959, o papa João XXIII participou de um culto pela unidade das Igrejas cristãs e declarou ao mundo a decisão de convocar um concílio geral que reunisse todos os bispos do mundo para renovar a Igreja Católica em vista de melhor se adequar ao caminho para a unidade com outras Igrejas cristãs.
João XXIII fazia uma distinção entre a Tradição (com t maiúsculo), memória da fé que vem de Jesus e as tradições (com t minúsculo), costumes que, durante o decorrer dos séculos, foram se juntando como elementos culturais na forma da Igreja ser. Para a renovação, o papa propunha dois critérios: voltar às fontes da fé e, ao mesmo tempo, atualizar o modo de ser e a linguagem da Igreja.
O Concílio Vaticano II teve quatro sessões e se encerrou em dezembro de 1965. Ofereceu à Igreja e ao mundo 16 documentos que foram referência para a renovação eclesial e para o diálogo com o mundo. Desde esta época, o mundo viveu não apenas uma época de fortes mudanças, mas uma verdadeira mudança de época. Mais de 80% das invenções atuais que parecem normais nas casas e na vida das pessoas de hoje não existiam no começo dos anos 60. Em todo o mundo as sociedades de cultura agrária se urbanizaram. Mesmo quem vive no campo, convive com carro, assiste televisão e, de alguma forma, está dentro de uma cultura urbana. Nesta sociedade, o conhecimento experimental é fundamental. A sociedade se organiza através de uma permanente transformação. Um programa, hoje, atual, dentro de seis meses estará desatualizado. Em todas as ciências a mudança é contínua e progressiva. Dentro de um contexto cultural assim, mesmo uma sociedade religiosa não pode se mostrar simplesmente avessa a mudanças.
No Evangelho, ao falar sobre a religião, Jesus diz: "Não adianta colocar remendo novo em roupa velha. O remendo repuxa o pano e rasgão fica maior ainda. Ninguém coloca vinho novo em barris velhos porque o vinho novo arrebenta os barris velhos e tanto o vinho como os barris se perdem. Para vinho novo (que é o evangelho), temos de ter barris novos” (Mc 2, 21- 22). No Apocalipse, a única palavra que é escutada diretamente de Deus é: "Eu sou aquele que faço novas todas as coisas” (Ap 21, 5). Esta palavra de Deus ressoa hoje para cristãos e não cristãos como um novo apelo para nos abrirmos à permanente mudança inspirada pelo Espírito de Deus nas Igrejas e no mundo.
As forças progressistas, da Teologia da Libertação, incluindo teólogos/as, pastorais sociais, Cebs, agentes de pastoral, religiosos/as, leigos e leigas, se mobilizaram para participar da Conferencia de Aparecida (2007) - uma des suas ações foi a Tenda dos Mártires, como espaço aberto, celebrativo, por 15 dias, enquanto durou a Conferência. A Tenda dos Mártires foi um alerta à toda Igreja para não esquecer seus mártires, sua caminhada, sua identidade de libertação.
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terça-feira, 11 de outubro de 2011
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