Benedito Ferraro
Assessor da Pastoral Operária de Campinas_SP
Queremos iniciar a reflexão com a palavra de um trabalhador presente no Concílio Vaticano II, ao falar sobre o esquema sobre o Apostolado dos Leigos/as: “O esquema é o resultado natural da nova consciência da Igreja de si mesma. É também o resultado da descoberta progressiva por homens e mulheres de sua responsabilidade e papel dentro de todo apostolado da Igreja. Todos aqueles que trabalham em diferentes campos do apostolado acolherá este debate como um grande reconhecimento dos seus esforços. A própria existência do documento em discussão é a prova que o apostolado dos leigos não é nenhuma moda luxuosa ou passageira. Isso significa que este apostolado é incorporado no novo dinamismo da Igreja, buscando novas maneiras de anunciar a mensagem do Evangelho, buscando novos meios adaptados às diferentes situações sociais, econômicas e culturais do homem moderno”[1].
Esta compreensão do papel dos trabalhadores/as na perspectiva da evangelização do mundo do trabalho tem sua raiz na mentalidade presente da década de 60 e expressa na palavra de João XXIII, o papa dos sinais dos tempos. Em sua encíclica Pacem in Terris (1963), ele afirmava que a emancipação da classe trabalhadora se configurava como um dos tres grandes fenômenos daquela época, ao lado do ingresso da mulher na vida pública e da busca pela independência nos diferentes países do mundo. Assim se expressa João XXIII: “Primeiro (fenômeno), a gradual ascensão econômico-social das classes trabalhadoras. Partindo da reivindicação de seus direitos, especialmente de natureza econômico-social, avançaram em seguida os trabalhadores às reivindicações políticas e, finalmente, se empenham na conquista de bens culturais e morais. Hoje, em toda parte, os trabalhadores exigem ardorosamente não serem tratados à maneira de objetos, sem entendimento nem liberdade, à mercê do arbítrio alheio, mas como pessoas em todos os setores da vida social, tanto no econômico-social como no da política e da cultura”(Pacem in Terris, 40).
Esta nova consciência da importância do trabalho humano está presente, sobretudo, na Gaudium et Spes (A Igreja no mundo de hoje -1965), nos números 63-72. Nestes números, se afirma que:
- A dignidade da pessoa humana deve estar presente na vida econômico-social (nº. 63).
- A finalidade fundamental da produção não é o mero aumento dos produtos, nem o lucro ou dominação, mas o serviço do ser humano (nº. 64).
- A exigência da justiça e da eqüidade mostra que as acentuadas diferenças econômico-sociais devem ser suprimidas (nº. 66).
- Com seu trabalho, o ser humano sustenta regularmente a própria vida e a dos seus e associa-se aos seus irmãos e os ajuda e colabora no aperfeiçoamento da criação divina (nº. 67).
- A terra , com tudo que ela contém, é para o uso de todos os seres humanos e todos os povos, de tal modo que os bens criados devem ser suficientes para todos. Aquele que se encontra em necessidade extrema tem o direito de procurar o necessário para si junto às riquezas dos outros (nº. 69).
- Os cristãos e cristãs que lutam pela justiça e caridade devem estar convencidos de que podem contribuir para o bem da humanidade e a paz no mundo (nº. 72).
Estas considerações indicam a importância dos trabalhadores/as na construção de uma sociedade onde todos e todas sejam tratados com a dignidade que merecem todas as pessoas. Apontam para a afirmação de que “o trabalho humano é uma chave, provavelmente a chave essencial, de toda a questão social, se procurarmos vê-la sob o ponto de vista do bem do ser humano” (Laborem Exercens, 3).
[1] Discurso de Patrick Keegan, no Concílio Vaticano II, no dia 13/10/1964. Foi o primeiro leigo auditor a falar em um Concílio. Também estava presente Bartolo Perez da JOC de São Paulo e, naquele momento, presidente da JOC Internacional
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