As forças progressistas, da Teologia da Libertação, incluindo teólogos/as, pastorais sociais, Cebs, agentes de pastoral, religiosos/as, leigos e leigas, se mobilizaram para participar da Conferencia de Aparecida (2007) - uma des suas ações foi a Tenda dos Mártires, como espaço aberto, celebrativo, por 15 dias, enquanto durou a Conferência. A Tenda dos Mártires foi um alerta à toda Igreja para não esquecer seus mártires, sua caminhada, sua identidade de libertação.
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domingo, 28 de outubro de 2012
Teologia da Libertação, M. Weber e capitalismo como religião
(Jung Mo Sung)
(Adital)///
Max Weber, um dos "clássicos” das ciências sociais modernas, famoso pela tese de desencantamento do mundo, escreveu um texto que merece ser retomado com seriedade hoje. Ele disse: "Tudo se passa, portanto, exatamente como se passava no mundo antigo, que se encontrava sob o encanto dos deuses e demônios, mas assume sentido diverso. Os gregos ofereciam sacrifícios a deus das cidades; nós continuamos a proceder de maneira semelhante, embora nosso comportamento haja rompido o encanto e se haja despojado do mito que ainda vive em nós. [...] O máximo que podemos compreender é o que o divinosignifica para determinada sociedade, ou o que esta ou aquela sociedade considera como divino. [...] A religião tornou-se, em nosso tempo, ‘rotina quotidiana’. Os deuses antigos abandonam suas tumbas e, sob a forma de poderes impessoais, porque desencantados, esforçam-se por ganhar poder sobre nossas vidas, reiniciando suas lutas eternas.” (Ciência e política: duas vocações).
Normalmente se pensa que a modernidade Ocidental expulsou a religião da esfera pública – secularização – e a reduziu ao campo do privado. Além disso, acredita-se que a compreensão religiosa do mundo e a fé foram substituídas pela cosmovisão fundada na ciência e pela racionalidade moderna que não admite, por ex, a crença nos milagres relatadas na Bíblia ou na religiosidade popular. Diante do mundo moderno compreendido dessa forma, uma boa parte das igrejas cristãs pensam que uma das tarefas fundamentais da teologia é resignificar os símbolos e ensinamentos cristãos de tal modo que sejam compatíveis com a cultura moderna. Ou então, se posicionar contra o mundo moderno e pós-moderno por serem ateus e secularizados e tentar recuperar o poder das instituições religiosas na sociedade.
Contudo, Weber –que é citado por muitos para justificar essa visão da modernidade– diz algo bem diferente. Para ele, não há grande diferença entre cidades gregas que ofereciam sacrifícios aos seus deuses e o nosso mundo. Os sacrifícios continuam sendo oferecidos, só que agora não mais a "deuses pessoais”, mas a deuses que se aparecem sob a forma de "forças impessoais”. Isso por dois motivos básicos: a) hoje não se acredita mais que a natureza, por ex., seja prenhe e movida por espíritos sobrenaturais – o que chamamos de "mundo encantado”–, por isso a concepção de deuses da sociedade mudou; b) o aumento da complexidade do sistema socioeconômico criou forças impessoais que regem a dinâmica da vida social.
A diferença de a quem os sacrifícios são oferecidos não apaga o mais fundamental: a continuidade dos sacrifícios. Hoje, os sacrifícios de vidas humanas e da própria "natureza” são exigidos e justificados em nome das "leis do mercado”, essas forças impessoais que assumiu a função do divino. Isso aparece claramente hoje nas declarações que justificam os ajustes econômicos que estão sacrificando os idosos (com corte nas pensões), os enfermos (corte na saúde) e nas crianças e jovens (corte na educação) nos países europeus em crise. Ajustes para salvar o sistema financeiro. Assim como foi na América Latina nas décadas de 1980 e 1990.
O que Weber "intuiu” no início do século XX nos mostra um lado muito "esquecido” ou ocultado da modernidade: o seu aspecto sacrificial, portanto, religioso. O mundo moderno, com o seu capitalismo, não é ateu ou secularizado (no sentido de a religião estar fora da esfera pública), mas é, no discernimento bíblico, idólatra. Isto é, é um sistema baseado em uma divindade – feita de forças impessoais – que exige sacrifício de vidas humanas. Um setor importante da Teologia da Libertação, na década de 1980, denunciou isso e fez desse tema um dos centrais da sua reflexão. (Dois livros de referência dessa crítica são "A luta dos deuses” e "Idolatria do mercado”).
Se não compreendermos bem o caráter idolátrico, portanto religioso (segundo Weber, religião na forma de "rotina cotidiana”) do capitalismo global não seremos capazes de ter clareza na missão do cristianismo no mundo de hoje. Para isso, continua atual o desafio para teólogos/as da libertação de dialogar com cientistas sociais que continuam refletindo a partir desta intuição de Weber, da teoria de fetiche em Marx e/ou da crítica de W. Benjamin ao "capitalismo como religião”.
[Autor, com J. Rieger e N. Miguez, de "Para além do espírito do império: novas perspectivas em religião e política”, Paulinas. Twitter: @jungmosung].
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Congresso Continental de Teologia – Assista aos vídeos das principais conferências e momentos do evento
23.10.12
Adital
De 7 a 11 de outubro, a cidade de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, sediou o Congresso Continental de Teologia. Foram cinco dias ricos em discussões que ofereceram um panorama dinâmico de como caminha, nos tempos atuais, a Teologia. O Congresso aconteceu em meio a dois marcos importantes: os 50 anos do Concílio Vaticano II e os 40 anos da publicação "Teologia da Libertação – Perspectivas”, de Gustavo Gutiérrez.
Abaixo, listamos todas as conferências e principais momentos do evento.
07 de Outubro
Discurso Inaugural Demetrio Valentini del Congreso Continental de Teología
Conferencia Inaugural con Rector de la Universidad de Unisinos
Contexto y Pretexto del Congreso
Geraldina Céspedes
Jon Sobrino
08 de Outubro
Pedro Ribeiro de Oliveira
Socorro Martínez y José Sanchez
Maria Clara Bingemer
Chico Whitaker
09 de Outubro
Andres Torres Queiruga
Homenaje a José Comblin
Gustavo Gutiérrez
10 de Outubro
Leonardo Boff
Peter C. Phan
Luis Carlos Susin
Andrés Torres Queiruga
11 de Outubro
Joao Batista Libanio
Marilú Rojas y Carlos Mendoza
Congreso Teológico Brasil
Narración Síntesis de los Talleres
Oración y Mensajes Finales
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
TEOLOGIA: A NECESSÁRIA REFLEXÃO
Informações da Diocese (
28/10/12)
D. Demétrio
Valentini
Foi surpreendente a participação no
Congresso Teológico Continental, realizado nas dependências da Unisinos, em
São Leopoldo , no Rio Grande do Sul. A expectativa era de
trezentos participantes. Mas o número
chegou a 750, e não foi maior por motivo de espaço no salão das conferências.
Foram cinco dias intensos, com programação
para cada dia, alternando grandes conferências de manhã e de noite, com
oficinas temáticas, painéis diversos, e apresentação de trabalhos teológicos na
parte da tarde. Todas as atividades sempre precedidas de momentos de
espiritualidade, que aconteciam também nas celebrações litúrgicas em horários
antecipados.
Um clima de grande interesse, de
atenção às temáticas apresentadas, e de esforço de captar bem a caminhada feita
por beneméritos teólogos e teólogas da América Latina, sobretudo a partir do
processo de renovação conciliar, que encontrou
por aqui uma generosa acolhida, mesmo em meio a contrariedades, que acabaram caracterizando não só a
renovação eclesial, mas também uma teologia própria, que procurou acompanhar e
dar respaldo à caminhada eclesial em nosso continente.
As datas simbólicas que motivaram a
realização deste Congresso Continental situavam bem o processo de caminhada
conjunta, entre renovação eclesial e reflexão teológica. O Congresso se situou
na marca dos 50 anos da abertura do Concílio Vaticano Segundo, e dos 40 anos da
publicação do livro do Pe. Gustavo Gutiérrez, Teologia da Libertação, que acabou dando nome à teologia latino
americana que procurou “dar as razões da esperança” deste Continente.
Olhando com serenidade este processo
de busca de sintonia entre vivência eclesial e reflexão teológica, se chega a
uma constatação simples, mas profunda. Toda caminhada eclesial necessita do
respaldo de um processo de reflexão, que ofereça referências consistentes e
motivações autênticas. Toda caminhada própria de Igreja requer uma teologia
própria, que dê razões adequadas para as situações que interpelam a fé e pedem
o suporte da razão.
Assim dá para dizer que fazia o
Cristo, de acordo com os relatos do Evangelho. Com frequência ele explicava em
particular as parábolas aos seus discípulos, ou se retirava à parte com eles, instruindo-os melhor a respeito do
Reino.
Assim fizeram Paulo e Barnabé, quando
se detiveram um ano inteiro com a comunidade de Antioquia, dando fundamento
consistente à incipiente vida eclesial, que em seguida se tornaria ponto de
partida para a missão no império romano.
Assim fizeram nos primeiros séculos da
Igreja, aqueles que hoje chamamos de “santos padres”, que sentiram a
necessidade de respaldar a fé cristã, que estava tomando forma explicita, com o
suporte da razão.
Daí resultaram os primeiros grandes tratados de teologia. E´
bom conhecê-los, não só porque iluminam ainda hoje nossa fé, mas para nos
incentivar a fazer como eles fizeram: na medida que percorremos novos caminhos,
e enfrentamos novas dificuldades, precisamos refletir, colocando em ação a
capacidade humana que Deus nos deu para pensar, e desta maneira fazer brilhar
melhor a fé, que continua iluminando também as realidades próprios de nosso
continente.
A urgência de pensar a fé, a partir de
nossa realidade, à luz da Palavra de Deus, em comunhão eclesial, foi certamente
um recado precioso deste grande Congresso Teológico.
Neste contexto soam bem as palavras de João
Paulo II, em carta dirigida à CNBB, em abril de 1986, afirmando bem claramente
que “a teologia da libertação é não só oportuna, mas útil e necessária”.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Crise e salvação da e na Igreja
22.10.12 - Mundo
Maria Clara
Lucchetti BingemerTeóloga, professora
e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-RioAdital
Figura polêmica na
Igreja por suas posições ousadas e provocativas, o teólogo católico suíço Hans
Küng não deixa de ser uma das cabeças teológicas inteligentes dos dias de hoje.
A teologia deve a ele algumas obras importantes de seu acervo de pensamento,
muito concretamente no que diz respeito ao papel das religiões no mundo de hoje
e às propostas para uma ética global. Antes disso, Hans Küng se ocupou com
questões candentes de eclesiologia, tendo escrito inclusive um livro questionando
a infalibilidade papal.
Chamado à ordem e
advertido inúmeras vezes pelo Vaticano, Küng perdeu a "missio canônica”,
ou seja, a permissão eclesiástica para ensinar em qualquer faculdade de
teologia católica. No entanto, continuou a publicar e permaneceu ligado à
Universidade de Tübingen, Alemanha, até sua aposentadoria. Apesar da idade
(mais de 80 anos), continua produtivo e dá conferências e entrevistas em várias
partes do mundo.
É assim que caiu-nos
nas mãos e sob os olhos uma entrevista recente, por ele concedida à revista Le
Point, de 27 de setembro de 2012. Ali fala sobre seu último livro intitulado A
Igreja tem salvação?, no qual critica severamente a Igreja Católica que teria,
segundo ele, traído suas origens. Essas mostram uma comunidade democrática e
não monárquica, governada por homens que não desejavam ser senhores, mas
servidores do povo de Deus. Segundo o teólogo, a Igreja hoje é centralizadora,
absolutista e clerical, em nada parecida à comunidade primeva.
Após essa primeira
afirmação, Küng critica outros pontos delicados da disciplina católica, como o
lugar da mulher na comunidade eclesial, impedida de receber o sacramento da
ordem e assumir funções de maior destaque; o celibato dos padres etc. Pela
interpretação de Hans Küng, o fato de tais reformas ainda não terem se
efetivado na Igreja se deve a uma traição ao Concílio Vaticano II levada a cabo
pelos pontificados posteriores a Paulo VI.
Em 2005, Küng foi
recebido pelo atual Papa –seu antigo colega de docência e amigo em Tübingen- para
uma conversa de quatro horas, gesto que ele até hoje agradece. No entanto, se
confessa decepcionado porque não se seguiu a essa conversa nenhuma mudança
substancial na orientação do pontificado de Bento XVI em questões de fé e
moral.
O mais belo dessa entrevista,
dada por um homem brilhante e amargurado em muitos aspectos, porém, encontra-se
em sua confissão de fé situada na parte final da mesma. Arguido pelo repórter
sobre o porquê de permanecer católico, Hans Küng confessa desassombradamente
sua fé: "Não sou católico por causa do papa, mas pelo Evangelho e o povo
cristão... A Igreja Católica é minha pátria espiritual, na qual tive uma
história às vezes difícil, mas apesar disso muito feliz. Há milhões de
católicos que partilham de minhas convicções”.
Küng toca aí –talvez
apesar de si mesmo– no coração do mistério da Igreja. Santa e pecadora,
"casta meretriz” que o Cristo desposa a cada dia. A comunidade eclesial
sempre estará atravessada de ambiguidades e contradições. E estas serão do
tamanho e da proporção dos homens e mulheres que a compõem, seus membros e
chefes, filhos amados do Pai, que faz nascer seu sol e cair sua chuva sobre
todos e todas em toda ocasião.
A entrevista de Hans
Küng não é carente de esperança e amor pela Igreja. Se ele não amasse essa
Igreja que chama ternamente de sua pátria espiritual, sofreria tanto pelos
males que a afligem? Estaria tão angustiado pelo fato de ver seus efetivos
decrescerem, seus templos se esvaziarem e tantas pessoas debandarem de suas
fileiras?
Ao final, perguntado
se Jesus, vindo ao mundo hoje, reconheceria seus ensinamentos diante do atual
Papa, Küng responde com alguma acidez, mas deixando entrever uma abertura
afetuosa em relação ao atual Pontífice Bento XVI, seu antigo colega e amigo
Joseph Ratzinger. Responde que Jesus não se reconheceria na riqueza das vestes
e adereços papais, nem veria nisto algo adequado ao sucessor de seu apóstolo
Pedro. Igualmente não se encontraria refletido no Cristo que o Papa descreve em
seus livros. Porém, termina, "está persuadido que, se ele olhasse no
interior do coração de Joseph Ratzinger, encontraria traços de seu
ensinamento”.
Enquanto o coração
humano for fiel a Jesus de Nazaré, reconhecido e proclamado Cristo de Deus, a
Igreja terá salvação. Ainda que entre todos os seres humanos espalhados pelo
planeta existisse apenas o coração de Joseph Ratzinger..., ou o de Hans
Küng..., batendo ao ritmo do coração amante de Jesus, Verbo Encarnado e
salvador do mundo.
[Maria Clara Bingemer
é autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e
poética" (Ed. Garamond), entre outros livros.
Copyright 2012 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)].
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quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Teologia em Congresso
16.10.12 - Mundo
Frei Betto
Escritor e assessor de movimentos
sociais
Adital
Na segunda semana de
outubro, a Unisinos, em São Leopoldo (RS), abrigou o congresso teológico que
comemora 50 anos do Concílio Vaticano II (1962-1965) e 40 anos da Teologia da
Libertação (TdL).
Convocado pelo papa
João XXIII, o Concílio reuniu em Roma quase todos os bispos católicos do mundo.
Os documentos ali aprovados representam uma profunda renovação na doutrina e na
prática da Igreja Católica.
À luz do Concílio, a
Igreja deixa de ser uma instituição triunfalista e clerical para ser
compreendida segundo o conceito dinâmico de povo de Deus a caminho na história.
A missa em latim dá lugar à liturgia em língua vernácula. A confissão auricular
entra em desuso e a comunitária passa a ser valorizada. As Igrejas protestantes
deixam de ser encaradas como inimigas ou concorrentes para serem acolhidas no
diálogo ecumênico.
Os judeus não são
mais acusados de deicídio, e tanto eles quanto os muçulmanos se tornam
parceiros dos católicos no diálogo inter-religioso. O papel dos leigos ganha
destaque na missão da Igreja. Teilhard de Chardin é reabilitado e a ciência é
vista como complemento à fé e não adversária.
A versão
latino-americana do Concílio foi a reunião dos bispos da América Latina em
Medellín, Colômbia, em 1968. Inaugurada com a presença do papa Paulo VI, a
conferência de Medellín aprovou documentos pastorais tidos como os mais
avançados na história da Igreja em nosso Continente.
Algo de novo já vinha
brotando no seio da Igreja antes mesmo do Concílio: as Comunidades Eclesiais de
Base (CEBs). Devido à carência de sacerdotes, o povo simples da periferia e da
roça, na ânsia de adubar sua vida cristã, começou a se organizar em CEBs,
ativadas pelo método Ver-Julgar-Agir e pela contribuição pedagógica de Paulo
Freire.
Em suas reuniões e
celebrações, os militantes das CEBs cotejavam fé e vida, Bíblia e realidade
social, prática de Jesus e desafios atuais aos cristãos. Dessa reflexão,
colhida por teólogos, nasceu a Teologia da Libertação.
A TdL não é,
portanto, um sumário de conceitos surgidos da cabeça de teólogos progressistas.
É a sistematização teológica da vivência de fé de militantes inseridos em
movimentos populares, sindicatos e partidos. Vivência de fé no interior de
lutas guerrilheiras das décadas de 1960 e 1970, e do martírio de padres
revolucionários como Camilo Torres, na Colômbia, e Henrique Pereira Neto, no
Brasil. A TdL é fruto do diálogo frutífero entre cristãos e marxistas engajados
em lutas libertadoras.
Ora, todo esse
processo, tão vigoroso na Igreja Católica latino-americana entre 1960 e 1990,
entrou em retrocesso a partir do pontificado de João Paulo II. Anticomunista
ferrenho, o papa polonês, instigado pelo cardeal Ratzinger, teve o cuidado de
não nomear bispos, padres progressistas, e não valorizar as CEBs como
alternativa pastoral.
Embora jamais tenha
condenado a TdL, como sugere certa mídia, João Paulo II apoiou as duas Instruções
do cardeal Ratzinger, então presidente da Congregação para a Doutrina da Fé,
contendo reservas e censuras a essa linha teológica. Iniciou-se um acelerado
processo de "vaticanização” da Igreja Católica latino-americana. Aos
poucos, ela perdeu seu caráter profético de "voz dos que não têm voz”.
Morto João Paulo II,
assumiu o papado, sob o nome de Bento XVI, o próprio cardeal Ratzinger.
Terminada a Guerra Fria e desabado o Muro de Berlim, a conjuntura da América
Latina também sofrera substanciais mudanças, como o fim dos movimentos
guerrilheiros, das ditaduras militares e da militância revolucionária em prol
do socialismo.
A TdL, apregoaram
seus críticos, morreu! Nem ela nem as CEBs morreram, apenas refluíram - na
Igreja, por falta de apoio da hierarquia; no noticiário, pelo desinteresse da
mídia.
Agora o congresso de
São Leopoldo faz o balanço dos frutos do Concílio e dos 40 anos de TdL. Hoje,
essa reflexão teológica abrange também os temas candentes neste início de
século XXI, como a questão ambiental, a astrofísica e a física quântica, as
relações de gênero, a leitura feminina da Bíblia etc.
O congresso na
Unisinos quer, em suma, apenas encontrar respostas a esta pergunta: em um
Continente com tanta opressão, o que significa, hoje, ser discípulo de Jesus
libertador e fazer teologia em meio a uma população cuja maioria padece pobreza
e falta de direitos humanos elementares?
[Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Leonardo Boff, de "Mística e espiritualidade” (Vozes), entre outros livros. http://www.freibetto.org - Twitter:@freibetto.
Copyright 2012 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato –MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)].
[Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Leonardo Boff, de "Mística e espiritualidade” (Vozes), entre outros livros. http://www.freibetto.org - Twitter:@freibetto.
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terça-feira, 16 de outubro de 2012
A 50 años del Concilio Vaticano II
Un aporte de hno. Ronaldo Lazarte. Atte. Enrique
DOMINGO, OCTUBRE 14, 2012
Vicente S. Reale
Sacerdote católico
Los Andes, 11 – 10 – 12
Aquel 11 de octubre de 1962 se abrían las sesiones del Concilio Ecuménico de la iglesia católica de nuestro tiempo. Al decir de Juan XXIII, su inspirador y propulsor, “se abrían las ventanas de la iglesia a fin de que entrara un nuevo aire desde el exterior que posibilitara una oxigenación y una renovación”.
Germinaban, también, las ansias y las esperanzas de muchos católicos (teólogos, biblistas, pastoralistas y laicos) que desde muchos años antes venían trabajando por una renovación en las estructuras bíblicas, de operatividad e institucionales de la iglesia.
En aquel mismo año (en el mes de mayo), fui ordenado como “ministro” (servidor) de la comunidad católica en lo referido a la predicación, a la catequesis y a la facultad de ofrecer los sacramentos. Podría decirse que mi servicio eclesial nació “marcado” por aquel tan esperado Concilio. A medio siglo de distancia, ofrezco mi reflexión sobre aquella asamblea: sus logros, lo que aún queda por concretarse y el camino que hoy debería transitar nuestra Iglesia.
Dos realidades fundamentales
Los acuerdos (documentos) del Vaticano II sobre la constitución interna de la comunidad-iglesia ('Lumen Gentium') y sobre la mutua relación entre la iglesia y nuestro mundo ('Gaudium et Spes'), constituyen la base sobre la que el Concilio deseaba que nuestra comunidad se oxigenara y renovara. Iglesia, comunidad de creyentes que ofrece la vida y el testimonio de Jesucristo, e iglesia que dialoga con las realidades de su tiempo y ofrece su servicio a las gentes de hoy.
Esos documentos vuelven a las raíces de las vivencias de las primeras comunidades cristianas, a la vez que indican senderos operativos para hacer presente, hoy, en nuestra cultura, el “camino de Jesús”.
Es del caso preguntarse en qué medida aquellas propuestas, deseos y esperanzas se han hecho realidad.
Cuando miramos la vida de la iglesia y los desafíos para la evangelización en los tiempos presentes, caemos en la cuenta de que hay temas que recién están empezando a estrenarse y otros que podrían desaparecer a causa de retrocesos y olvidos de lo querido y propuesto por el Concilio.
Sí. Se han dado pasos, pero mi impresión es que esos pasos han terminado siendo más de forma que de actitudes de fondo.
Un ejemplo: el espíritu de diálogo, tan característico del Concilio y del posconcilio, muestra síntomas de agotamiento, tanto hacia el interior de la iglesia como hacia las otras confesiones religiosas y hacia la cultura de nuestro tiempo. El diálogo en y con la iglesia fracasa, como en otros ámbitos, cuando una de las partes (o las dos) pretenden poseer toda la verdad y se rechaza la posibilidad de realizar un itinerario compartido de búsqueda y debate adulto, en el cual todos podamos aprender y enriquecernos mutuamente.
Otro ejemplo: el reconocimiento de la vocación laical con igual dignidad que las vocaciones del sacerdocio ministerial y la vida consagrada, y la participación activa de los fieles en diversas tareas eclesiales. Como contrapartida, se observa el comienzo de un proceso de alejamiento de la iglesia por parte de muchos laicos y laicas que no encuentran en ella espacios de libertad y participación para desarrollar su vocación.
¿Qué habría que hacer hoy?
1- Poner en funcionamiento, de verdad, una iglesia pobre y servidora de los pobres, renunciando al lujo, a los títulos y a los privilegios.
2- Ejercer una “colegialidad efectiva” entre el Papa y los obispos, evitando intermediaciones espurias que alejan a los responsables de las realidades concretas en que viven las comunidades.
3- La “búsqueda de la verdad”, en la iglesia, no debe ceñirse solo a los principios, sino que debe insertarse en la realidad cultural y social de tantos que esperan respuestas por parte de ella.
4- Terminar con la desconfianza y la excomunión a la cultura actual al afirmar que “esta crisis de civilización se debe a la descristianización”. Toda cultura tiene sus luces y sus sombras. Quien desee acompañar y ayudar a la gente de hoy no debe partir de preconceptos duros y cerrados, sino considerarse “prójimo” y caminante con ellos.
5- Volver a las “pequeñas comunidades” (en tamaño humano y geográfico) de manera que puedan ser mejor atendidas y que, a la vez, sean signos efectivos y eficaces en la labor evangelizadora.
6- Buscar personas que procedan del interior de esas comunidades, hombres casados, con cierta autoridad humana y espiritual que los habilite como personas idóneas para asumir la responsabilidad de ser los “ancianos” (presbíteros) de sus compañeros y capaces de incrementar la vitalidad espiritual de sus hermanos y sus hermanas.
7- Hacer realidad la plena igualdad de la mujer en la vida y en los ministerios de la Iglesia.
8- Estimular la libertad y el servicio reconocido de nuestros teólogos y teólogas, abriendo así las posibilidades de un diálogo intraeclesial maduro y respetuoso.
9- Insistir, en la línea de Jesús, en que “la autoridad” - dentro de la Iglesia - no es poder sino servicio. En este sentido habrá que repensar el funcionamiento de la curia vaticana; el Vaticano deberá dejar de ser estado y el Papa no será jefe de estado.
10- Rechazar, en todas las formas posibles, el capitalismo neoliberal, el neo imperialismo del dinero y de las armas y una economía de mercado y de consumismo que sepulta en la pobreza y en el hambre a la gran mayoría de la humanidad.
11- Exigir, imperiosamente, la transformación sustancial de los organismos mundiales (ONU, FMI, Banco Mundial, OMC, etc.) a fin de que no continúen siendo funcionales a los poderosos de turno, y se conviertan en defensores de la justicia - en todas sus formas - entre los pueblos, siendo garantes de una verdadera paz y convivencia.
A modo de conclusión, cabría esta reflexión: El Concilio Vaticano II intentó trazar un derrotero para que la iglesia católica, siendo fiel a Jesús y a sus orígenes, pudiese renovarse en su interior y, comprendiendo la cultura de nuestro tiempo, pudiese entablar un diálogo fructífero con ella a fin de contribuir evangélicamente al sano progreso - material y espiritual - de una humanidad que busca superar todo tipo de discriminación en procura de una existencia digna para todos, especialmente para quienes han sido deliberadamente excluidos de “la mesa de la vida”.
Un mundo distinto es posible.
Y una iglesia distinta, también.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
O que resta do Vaticano II
Nesta semana, celebramos o Jubileu do
Concílio Vaticano II. Hoje, 11 de outubro, especialmente, 50 anos do histórico
discurso de abertura, em 1962, pelo Papa João XXIII.
Celebrando esta data, oferecemos aos amigos e amigas, uma
reflexão do Pe. José Comblin, pouco antes de seu falecimento, no início de
2011.
O que resta do Vaticano II
Atualmente, as reformas alcançadas pelo Vaticano II nos
parecem muito tímidas e inadequadas pela sua insuficiência. Era preciso ter
avançado muito mais, pois o mundo mudou mais nos últimos 50 anos que nos dois
mil anos anteriores.
Do Vaticano II destacamos o seguinte, que deve permanecer
como uma base para as reformas futuras:
- O retorno à Bíblia como referência permanente da vida
eclesial, acima de todas as elaborações doutrinais posteriores, acima dos
dogmas e das teologias.
- A afirmação do Povo de Deus como participante ativo na
vida da Igreja, tanto no testemunho da fé como na organização da comunidade,
com uma definição jurídica de direitos e com recursos nos casos de opressão por
parte das autoridades.
- A afirmação da Igreja dos pobres.
- A afirmação da Igreja como serviço ao mundo e sem busca de
poder.
- A afirmação de um ecumenismo de participação mais próxima
entre Igrejas cristãs.
- A afirmação de um encontro entre todas as religiões ou
pensamentos não religiosos.
- Uma reforma litúrgica que utilize símbolos e palavras
compreensíveis aos homens e mulheres contemporâneos. As comissões formadas após
o Vaticano II deixaram muitas palavras e símbolos totalmente sem significado
para os cristãos de hoje e um obstáculo para a missão.
.....
É pouco provável que um Concílio que reúna unicamente bispos
possa descobrir as respostas aos desafios do tempo atual. As respostas não virão
da hierarquia, nem do clero, e sim de leigos que vivem o Evangelho em meio ao
mundo que entendem. Por isso, temos que estimular a formação de grupos de
leigos comprometidos ao mesmo tempo com o Evangelho e com a sociedade humana na
qual trabalham.
(Pe. José Comblin, in
Vaticano II: 50 anos depois, Revista Vida Pastoral, nov-dez 2012, n.287, pg. 9
e 10)
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Cinquenta anos carregados de recordações. O Congresso Continental de Teologia volta a ler a realidade à luz do Concílio Vaticano II [artigo]
09.10.12 - Mundo
José Guadalupe Sánchez Suárez
Centro de Estudios Ecuménicos / Observatorio Eclesial São Leopoldo
Adital
Tradução: ADITAL
O poeta uruguaio Eduardo Galeano nos lembra que "recordar” é mais do que rememorar; é voltar a passar, profundamente, pelo coração. Isso é o que está acontecendo no ainda jovem desenvolvimento do Congresso Continental de Teologia: 50 anos de caminhar eclesial, em um piscar de olhos, passaram pelos corações das/dos mais de setecentos congressistas, enchendo-os de gozos e esperanças, tanto quanto de angústias e tristezas, que moveram as igrejas católicas a abrir-se ao mundo naquela primavera no início dos anos sessenta; porém, também, foram as que, anos depois, provocaram no coração da igreja latino-americana o despertar de libertação frente à opressão e à injustiça; e, digamos, também as que hoje nos convocam por quatro dias, em São Leopoldo, Brasil; e urgem uma resposta das igrejas latino-americanas e caribenhas frente a um inesperado e catastrófico cenário mundial, onde a exclusão e a exploração da humanidade pela própria humanidade estão no ápice, levando-nos à beira de destruição global.
Após um dia do início do Congresso, há um alvoroço crescente entre os animados participantes. Ao calor primaveril do sul do continente, soma-se o calor humano da congregação, seu colorido, sua dinâmica. Definitivamente, esta não é uma igreja calada frente à violência sistêmica que nos assola. Entre a espada (do poder econômico mundial) e a parede (da instituição eclesiástica), levantou a voz para denunciar a voracidade dos poderosos e anunciar que outro mundo é possível, necessário e urgente. Com essa voz em aumento, diz que a teologia latino-americana continua viva, pois mais viva do que nunca está a pobreza e a necessidade de libertação; e para angústia das hierarquias vaticanas e latino-americanas, essas vozes do Congresso, como o barulho dos pássaros que nos despertam pela manhã, dizem também que não são de uma única teologia da libertação; mas, de muitas teologias que têm sido gestadas, reinventando frente à involução eclesial e à crise do mundo, nascendo das práticas de muitas mulheres e homens comprometidos com a justiça em nosso continente e no mundo. E agora congregaram-se muitas, apesar de que não estão presentes todas.
Vivida a primeira de quatro etapas programadas, a das interpelações e perguntas que o mundo atual faz às teologias da libertação, foram antecipadas importantes contribuições, múltiplas aproximações e leituras da realidade, certeiras interpretações das causas econômicas da débâcle mundial. Não havia acontecido ainda um encontro de tão ampla confluência e representatividade onde àqueles que viveram a experiência conciliar congregaram-se com os que lhe deram continuidade com criatividade na América Latina e com os que, atualmente, a mantêm viva. É alentador descobrir a presença de muitasõs jovens que a tantas décadas de distância, encontram-se contagiados pelas ideias conciliares e, melhor ainda, contagiam à teologia da libertação com novas forças, expressões, intenções. Exceto Gustavo Gutiérrez, Pilar Aquino e Ivone Gabara, ausentes por circunstâncias diversas, alheias a suas vontades, congregaram-se todas/os os considerados máximos representantes das teologias de libertação na América Latina: Leonardo Boff, Pedro Trigo, Jon Sobrino, Elsa Támez, Maria Clara Bingemer, Víctor Codina, Jung Mo Sung, Pablo Richard, Paulo Suess, Maricarmen Bracamontes, José Oscar Beozzo, Chico Whitaker, Carlos Mesters, Eleazar López, José María Vigil, João Batista Libanio… Bem como teólogos europeus e norte-americanos: Andrés Torres Queiruga, Juan Carlos Scanonne, Peter Phan, entre outros e outras, e mais que irão chegando e que convivem e intercambiam pensamento com as novas gerações de teólogos/as de hoje. É desse diálogo intergeneracional e intergênero que fecundam as teologias da libertação, abrem-se passo entre a gama de pensamentos sociais e científicos contemporâneos e pós-modernos e nos oferecem um colorido e inacabado tecido de propostas cristãs presentes no Congresso Continental de teologia e todo o continente latino-americano e caribenho. É cedo ainda para fazer uma avaliação desse importante acontecimento; porém, podemos dizer que o ânimo cresce, da mesma forma que as expectativas e o ambiente reflete igrejas vivas em meio ao desalento de muitas/os; definitivamente, em palavras de Pedro Trigo, é um momento de graça, kairós evangélico, signo de esperança para a práxis de libertação e para as teologias que dela nascem; oportunidade para que o mundo creia e a igreja não se esquive mais de seu compromisso por um mundo justo para tantas/os que, desde a mesma ou de diversas fés religiosas, ou sem elas, creem poder transformar o mundo (Andrés Torres Queiruga), realizar aqui e agora o outro mundo possível. Poderíamos afirmar sem equivocar-nos muito que o espírito ecumênico do Concílio Vaticano II está se derramando sobre a Assembleia, não só através da oração aberta e diversa de cada dia, mas, sobretudo, pela presença de diversas confissões cristãs, de movimentos e organizações sociais juntamente com sacerdotes, religiosas, leigas/os católicos; pela atitude de escuta, diálogo e abertura que se respira; também pela forma como enfrentamos o medo e nossas diferenças; e, no entanto, permanecemos juntas/os.
O terceiro dia do Congresso nos recebeu como uma espessa névoa que, longe de alimentar nossas incertezas, repara nossos corpos, refresca nossas mentes, nos coloca em alerta, pois falta ainda uma parte do caminho a percorrer; o melhor ainda está por vir para esse encontro, para nossas igrejas, para todas as pessoas de boa vontade.
Brasil, 9 de outubro de 2012.
José Guadalupe Sánchez Suárez
Centro de Estudios Ecuménicos / Observatorio Eclesial São Leopoldo
Adital
Tradução: ADITAL
O poeta uruguaio Eduardo Galeano nos lembra que "recordar” é mais do que rememorar; é voltar a passar, profundamente, pelo coração. Isso é o que está acontecendo no ainda jovem desenvolvimento do Congresso Continental de Teologia: 50 anos de caminhar eclesial, em um piscar de olhos, passaram pelos corações das/dos mais de setecentos congressistas, enchendo-os de gozos e esperanças, tanto quanto de angústias e tristezas, que moveram as igrejas católicas a abrir-se ao mundo naquela primavera no início dos anos sessenta; porém, também, foram as que, anos depois, provocaram no coração da igreja latino-americana o despertar de libertação frente à opressão e à injustiça; e, digamos, também as que hoje nos convocam por quatro dias, em São Leopoldo, Brasil; e urgem uma resposta das igrejas latino-americanas e caribenhas frente a um inesperado e catastrófico cenário mundial, onde a exclusão e a exploração da humanidade pela própria humanidade estão no ápice, levando-nos à beira de destruição global.
Após um dia do início do Congresso, há um alvoroço crescente entre os animados participantes. Ao calor primaveril do sul do continente, soma-se o calor humano da congregação, seu colorido, sua dinâmica. Definitivamente, esta não é uma igreja calada frente à violência sistêmica que nos assola. Entre a espada (do poder econômico mundial) e a parede (da instituição eclesiástica), levantou a voz para denunciar a voracidade dos poderosos e anunciar que outro mundo é possível, necessário e urgente. Com essa voz em aumento, diz que a teologia latino-americana continua viva, pois mais viva do que nunca está a pobreza e a necessidade de libertação; e para angústia das hierarquias vaticanas e latino-americanas, essas vozes do Congresso, como o barulho dos pássaros que nos despertam pela manhã, dizem também que não são de uma única teologia da libertação; mas, de muitas teologias que têm sido gestadas, reinventando frente à involução eclesial e à crise do mundo, nascendo das práticas de muitas mulheres e homens comprometidos com a justiça em nosso continente e no mundo. E agora congregaram-se muitas, apesar de que não estão presentes todas.
Vivida a primeira de quatro etapas programadas, a das interpelações e perguntas que o mundo atual faz às teologias da libertação, foram antecipadas importantes contribuições, múltiplas aproximações e leituras da realidade, certeiras interpretações das causas econômicas da débâcle mundial. Não havia acontecido ainda um encontro de tão ampla confluência e representatividade onde àqueles que viveram a experiência conciliar congregaram-se com os que lhe deram continuidade com criatividade na América Latina e com os que, atualmente, a mantêm viva. É alentador descobrir a presença de muitasõs jovens que a tantas décadas de distância, encontram-se contagiados pelas ideias conciliares e, melhor ainda, contagiam à teologia da libertação com novas forças, expressões, intenções. Exceto Gustavo Gutiérrez, Pilar Aquino e Ivone Gabara, ausentes por circunstâncias diversas, alheias a suas vontades, congregaram-se todas/os os considerados máximos representantes das teologias de libertação na América Latina: Leonardo Boff, Pedro Trigo, Jon Sobrino, Elsa Támez, Maria Clara Bingemer, Víctor Codina, Jung Mo Sung, Pablo Richard, Paulo Suess, Maricarmen Bracamontes, José Oscar Beozzo, Chico Whitaker, Carlos Mesters, Eleazar López, José María Vigil, João Batista Libanio… Bem como teólogos europeus e norte-americanos: Andrés Torres Queiruga, Juan Carlos Scanonne, Peter Phan, entre outros e outras, e mais que irão chegando e que convivem e intercambiam pensamento com as novas gerações de teólogos/as de hoje. É desse diálogo intergeneracional e intergênero que fecundam as teologias da libertação, abrem-se passo entre a gama de pensamentos sociais e científicos contemporâneos e pós-modernos e nos oferecem um colorido e inacabado tecido de propostas cristãs presentes no Congresso Continental de teologia e todo o continente latino-americano e caribenho. É cedo ainda para fazer uma avaliação desse importante acontecimento; porém, podemos dizer que o ânimo cresce, da mesma forma que as expectativas e o ambiente reflete igrejas vivas em meio ao desalento de muitas/os; definitivamente, em palavras de Pedro Trigo, é um momento de graça, kairós evangélico, signo de esperança para a práxis de libertação e para as teologias que dela nascem; oportunidade para que o mundo creia e a igreja não se esquive mais de seu compromisso por um mundo justo para tantas/os que, desde a mesma ou de diversas fés religiosas, ou sem elas, creem poder transformar o mundo (Andrés Torres Queiruga), realizar aqui e agora o outro mundo possível. Poderíamos afirmar sem equivocar-nos muito que o espírito ecumênico do Concílio Vaticano II está se derramando sobre a Assembleia, não só através da oração aberta e diversa de cada dia, mas, sobretudo, pela presença de diversas confissões cristãs, de movimentos e organizações sociais juntamente com sacerdotes, religiosas, leigas/os católicos; pela atitude de escuta, diálogo e abertura que se respira; também pela forma como enfrentamos o medo e nossas diferenças; e, no entanto, permanecemos juntas/os.
O terceiro dia do Congresso nos recebeu como uma espessa névoa que, longe de alimentar nossas incertezas, repara nossos corpos, refresca nossas mentes, nos coloca em alerta, pois falta ainda uma parte do caminho a percorrer; o melhor ainda está por vir para esse encontro, para nossas igrejas, para todas as pessoas de boa vontade.
Brasil, 9 de outubro de 2012.
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Decadência da Igreja Católica?
04.10.12 - Mundo
Eduardo Hoornaert
Padre casado,
belga, com mais de 5O anos de Brasil, historiador e teólogo, mais de 20 livros
publicados. Mora em Salvador. Dedica-se agora ao estudo das origens do
cristianismo
Adital
2 de outubro de 2012
Ouve-se falar hoje,
aqui e acolá, em decadência da igreja católica. Efetivamente, há sinais de que
essa igreja não esteja mais conseguindo corresponder aos anseios dos tempos em
que vivemos, algo que a médio ou longo prazo pode significar o fim do projeto
formulado 1500 anos atrás por Agostinho em sua obra ‘A cidade de Deus’, que
está na base da igreja católica tal qual a conhecemos hoje. O grande teólogo
apresentou, no século V, um dilema: ou você vive e milita na ‘cidade de Deus’,
ou pertence à 'massa damnata' marcada pelo 'pecado original'. O projeto
funcionou por longos séculos e agora chega ao fim.
O historiador inglês
Arnold Toynbee formulou uma lei da história que me parece interessante para a
discussão. É a ‘lei do desafio e resposta’, exposta no final de seu livro
monumental ‘Um Estudo de História’ (Martins Fontes, São Paulo, 1986). Depois de
estudar o surgimento, apogeu e declínio de 21 civilizações, Toynbee conclui:
todo projeto humano é formulado para responder a determinados desafios, o que
faz com que seja necessariamente incompleto, provisório e passageiro. Nenhum
projeto humano pode aspirar à eternidade. Ora, escreve Toynbee, o fato de o
papado ter reagido negativamente aos esforços de Cavour para unificar a Itália
(início século XIX) marca os primeiros sinais da passagem para a lenta
decomposição do sistema católico. O papa deixa de pensar no mundo e pensa em
preservar seus privilégios. Isso é fatal.
A questão, hoje,
consiste em ver se há condições de reformar o modelo, tornando-o capaz de
responder aos desafios do momento. Não se pode responder a tudo, há sempre
deficiência, mas penso que a atual situação consiste numa inaptidão
generalizada.
Comparemos a atitude
do papa diante da unificação da Itália (início século XIX) com os rumos que a
França tomou no final do século anterior. A revolução francesa constitui um
exemplo paradigmático de um projeto que responde de forma apropriada aos
anseios do tempo. Dai seu sucesso. Os povos querem ‘liberdade, igualdade e
fraternidade’, e a revolução responde positivamente. Uma postura totalmente
diferente é a do papa, que vai assumindo sempre mais posturas reacionárias.
Toynbee vê nessa
recusa do papa o início da decadência do sistema católico. Por encarnar o poder
supremo por tantos séculos, o papado não tem mais sensibilidade diante do que
se passa na realidade e isso constitui um sinal de decadência. Seguindo o
raciocínio de Toynbee, não se sabe o que pode acontecer com a igreja católica.
É possível que ela mude totalmente de feições ou mesmo desapareça do cenário
histórico. De qualquer modo, aqui não se trata de um drama. Os projetos passam,
a história passa. Os projetos humanos são todos provisórios.
O sonho de Agostinho
deu origem a um grande projeto, que moldou o Ocidente. Mas ficou na contramão
do desejo de liberdade hoje se manifesta de mil maneiras. Os tempos mudam e
isso é bom.
O importante consiste
em apoiar as energias positivas que atuam dentro do catolicismo, da mesma forma
em que se devem apoiar as forças vivas existentes no candomblé, na igreja
universal do reino de Deus, no pentecostalismo e em todos os projetos que
procuram trabalhar para melhorar a vida da humanidade.
Enquanto o papa se
afasta da vida vivida e se recolhe em seu 'Apartamento' e enquanto o vaticano
se vê enredado em escândalos, os cristãos conscientes não enxergam nada de
trágico em tudo isso. Só os que gostam de montar uma tragédia grega de paixões
pelo poder, intrigas, hipocrisias é que comentam o tempo todo esses
noticiários.
Os mais conscientes
preferem ocupar-se de outros assuntos. Eles pensam no real drama de nosso mundo
de hoje. Hoje, o drama é outro, o desafio é outro. O que importa é que o
cristianismo signifique algo para os 50% da população mundial que vive curvada
sob pobreza e miséria. No planeta em que vivemos, 25 mil pessoas morrem por dia
de inanição e 16 mil crianças de fome. 852 milhões de pessoas passam fome. As
fortunas das três pessoas mais ricas do mundo é superior ao PIB de 48 países.
Os 5 % mais ricos ganham 114 vezes mais que os 5 % mais pobres. As pessoas que
dormem na rua, as 864 favelas do Rio, as 20 a 25 pessoas que morrem por dia de
forma violenta, no Rio, e que nem merecem mais uma menção no noticiário. Isso
dá vergonha, isso é o drama. Que entre as 20 cidades mais desiguais do mundo, 5
são brasileiras (Goiânia, Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília e Curitiba), eis
o que dá vergonha. Que mais de 10 milhões de brasileiros vivem com menos de 39
reais por mês e que a Globo nunca dá esses números, eis a vergonha, eis o apelo
para o cristianismo. O drama é que 10% das pessoas que vivem neste país detêm
75% da riqueza que o país produz, que 5 mil famílias (1%) controlam 45% da
riqueza do país.
http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=71018
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Congresso Continental de Teologia terá transmissão via internet
04.10.12 - América Latina
7 de outubro – ABERTURA
16h30min – Centrando-se no Congresso: O Concílio Vaticano II e a Teologia da Libertação –Agenor Brighenti
17h00min – Conferência Inaugural: Um novo Congresso e um Congresso novo –Jon Sobrino eGeraldina Cespedes
8 de outubro – Novas interpelações
09h10min – Conferência de apertura: A situação sóciocultural, econômica e política no contexto mundial - Pedro Oliveira Ribeiro
11h – Painel: As Interpelações das Jornadas Teológicas Regionais - José Sánchez Sánchez e Socorro Martínez, Economia e Teologia - Jung Mo Sung
20h00min Conferência: Outro mundo possível e o contexto latino-americano -Francisco Whitaker
9 de outubro – Hermenêutica CRISTÃ
9h10min – Conferência: As Igrejas no Continente 50 anos depois: questões pendentes - Victor Codina
11h00 – Conferência: Teologia e novos paradigmas - Andres Torres Queiruga
20h00 – Conferência: A teologia Latino-Americana: Trajetória e Perspectivas -Gustavo Gutiérrez
10 de outubro – PRÁXIS e mística
09h10min – Conferência: O lugar e o papel da teologia nos processos de mudança do continente no contexto mundial -Leonardo Boff
11h00min – Painel: Mundialização, pluralismo religioso e teologia cristã - Peter C. Phan – Novos sujeitos e interculturalidade (Raúl Fornet)
11h00min – Painel: Obra e vida do Mestre Comblin - Luis Carlos Susin, Eduardo Hoornaert
20h00min – Conferência: Teologia americana e europeia: interpelações mútuas -Andres Torres Queiruga
11 de outubro – PERSPECTIVAS
09h10min Conferência: Novos desafios e tarefas para a teologia na América Latina e no Caribe hoje, a partir das contribuições do Congresso João Batista Libânio
11h00min – Painel: Teologia e Espiritualidade libertadora - Marilu Rojas– Extra pauperes nulla salus Carlos Mendoza-Álvarez
14h30min Síntese e projeções do Congresso
Adital
Começa no próximo domingo, dia 7, e segue até o dia 11 de outubro em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, o Congresso Continental Teológico, evento de grande importância para a região que acontece no marco de dois momentos históricos para a Igreja: os 50 anos do Concílio Vaticano II e os 40 anos da publicação de Teologia da Libertação, de Gustavo Gutiérrez. O Congresso acontecerá nas instalações da Unisinos e poderá ser acompanhado, ao vivo, através da internet, pelo link: www.ustream.tv/channel/congresoteologicobrasil
Entre alguns dos objetivos estão reunir a comunidade teológica do continente em torno ao Vaticano II e à teologia latino-americana, para discernir os novos desafios de uma época marcada por profundas transformações e as consequentes tarefas para uma teologia como serviço à Igreja e à humanidade, em um mundo pluralista e globalizado.
Além disso, contribuir para que a teologia latino-americana continue sendo instância retroalimentadora das comunidades eclesiais inseridas no mundo em perspectiva libertadora, frente aos novos desafios oriundos de um mundo pluralista e globalizado.
Para quem não puder estar presencialmente ao Congresso, há a possibilidade de assistir as chamadas "grandes conferências” ao vivo, via internet, pois elas serão transmitidas, através de uma iniciativa do Observatório Eclesial do México.
Para isso, basta ir no link: www.ustream.tv/channel/congresoteologicobrasil
Abaixo, as conferências que irão ao ar (horário de Brasília).
Abaixo, as conferências que irão ao ar (horário de Brasília).
7 de outubro – ABERTURA
16h30min – Centrando-se no Congresso: O Concílio Vaticano II e a Teologia da Libertação –Agenor Brighenti
17h00min – Conferência Inaugural: Um novo Congresso e um Congresso novo –Jon Sobrino eGeraldina Cespedes
8 de outubro – Novas interpelações
09h10min – Conferência de apertura: A situação sóciocultural, econômica e política no contexto mundial - Pedro Oliveira Ribeiro
11h – Painel: As Interpelações das Jornadas Teológicas Regionais - José Sánchez Sánchez e Socorro Martínez, Economia e Teologia - Jung Mo Sung
20h00min Conferência: Outro mundo possível e o contexto latino-americano -Francisco Whitaker
9 de outubro – Hermenêutica CRISTÃ
9h10min – Conferência: As Igrejas no Continente 50 anos depois: questões pendentes - Victor Codina
11h00 – Conferência: Teologia e novos paradigmas - Andres Torres Queiruga
20h00 – Conferência: A teologia Latino-Americana: Trajetória e Perspectivas -Gustavo Gutiérrez
10 de outubro – PRÁXIS e mística
09h10min – Conferência: O lugar e o papel da teologia nos processos de mudança do continente no contexto mundial -Leonardo Boff
11h00min – Painel: Mundialização, pluralismo religioso e teologia cristã - Peter C. Phan – Novos sujeitos e interculturalidade (Raúl Fornet)
11h00min – Painel: Obra e vida do Mestre Comblin - Luis Carlos Susin, Eduardo Hoornaert
20h00min – Conferência: Teologia americana e europeia: interpelações mútuas -Andres Torres Queiruga
11 de outubro – PERSPECTIVAS
09h10min Conferência: Novos desafios e tarefas para a teologia na América Latina e no Caribe hoje, a partir das contribuições do Congresso João Batista Libânio
11h00min – Painel: Teologia e Espiritualidade libertadora - Marilu Rojas– Extra pauperes nulla salus Carlos Mendoza-Álvarez
14h30min Síntese e projeções do Congresso
As informações são do site oficial do evento:
terça-feira, 2 de outubro de 2012
50 anos depois do Vaticano II. Indicações para uma semântica do mistério da Igreja, segundo José Maria Vigil
José Maria Vigil, teólogo espanhol naturalizado nicaraguense e que vive atualmente no
Panamá, proferirá a última conferência do XIII Simpósio
Internacional IHU. Igreja, Cultura e Sociedade: a semântica do Mistério da
Igreja no contexto das novas gramáticas da civilização tecnocientífica,
que ocorrerá de 2 a 5 de outubro de 2012, na Unisinos (São Leopoldo).
A temática dessa conferência será O
Concílio Vaticano II 50 anos depois: indicações para uma semântica do mistério
da Igreja hoje. Esse evento fará a ponte entre o Simpósio e o Congresso
Continental de Teologia, a ser realizado de 7 a 12 de outubro,
também na Unisinos, e que terá como um dos temas centrais os 50 anos da
inauguração do Concílio Vaticano II, celebrada pelo Papa João XXIII.
A reportagem é de Luís Carlos
Dalla Rosa, doutor em teologia.
Vigil, que é padre claretiano, tem formação em Teologia pela Universidad Pontificia de Salamanca. Na Universidade de Santo Tomás de Roma, licenciou-se em Teologia Sistemática. Em Salamanca, Madri e Manágua estudou Psicologia. É doutor em educação pela Universidade La Salle de San José, Costa Rica. Dentre seus livros, destaca-se Teologia do pluralismo religioso. Para uma releitura pluralista do cristianismo (Paulus, 2006). Vigil é o responsável pela Comissão Teológica na América Latina da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT/EATWOT). Também colabora com o sítio Servicios Koinonía.
Em entrevista concedida à revista IHU On-Line, falando sobre sua própria experiência de acompanhamento do Concílio e suas novidades na Igreja, Vigil expressa: “posso dizer que o Concílio Vaticano II faz parte de minha vida pessoal, como um dos acontecimentos que mais profundamente a marcaram. Sou daquela geração que chegou à maioridade da fé com o próprio Concílio. Tivemos a fortuna de ser formados na experiência religiosa anterior, no tempo de Pio XII, quando éramos meninos e adolescentes… Ou seja, pudemos conhecer o cristianismo pré-conciliar, que é quase o mesmo cristianismo medieval... No Concílio, a Igreja mudou em sete anos mais que nos sete últimos séculos. Por isso, para nós, os convencidos da mudança epocal que o Concílio supunha, a sua implementação constituiu-se na nossa tarefa para toda a vida, a nossa vocação. Foi maravilhoso! O acompanhamento do pós-concílio tem sido diferente, doloroso com certeza, mas cheio de esperança. Porque, como disse Neruda, ‘poderão cortar todas as flores, mas não poderão deter a primavera’. Nem o inverno mais longo...”
No artigo O Concílio Vaticano II e sua recepção na América Latina, publicado na Revista Eclesiástica Brasileira (n. 262), Vigil compreende que a recepção do Concílio teve dois momentos: um primeiro pós-concílio que compreende o período de 1965 a 1980, no qual as decisões conciliares foram recepcionadas de forma fiel e criativa, sobretudo na Igreja latino-americana; e um segundo pós-concilio, que se inicia em 1980 e prossegue até hoje, em que há uma ‘involução vaticana e mundial’ e que tem repercussão também na América Latina.
O teólogo entende que as dificuldades que impediram o avanço das decisões conciliares têm origem nos próprios setores conservadores da Cúria vaticana que estiveram presentes no tempo de Paulo VI e que, a partir do papado de João Paulo II, fortaleceram-se. Vigil afirma à IHU On-Line que “os historiadores deverão dizê-lo, mas eu acho que, ao menos em relação dos grandes concílios da Igreja, não houve na história um outro caso de concílio que fosse desfeito pela própria Igreja. Foi o Concílio que suscitou maior e mais entusiasta aceitação da parte do Povo de Deus, e também a maior resistência do próprio povo ao movimento de ‘restauração’, implementado pela hierarquia contra ele. Isso tudo já é história, religiosa e civil, pública e conhecida até pela sociedade civil”.
Tendo presente o atual momento da história da Igreja, Vigil defende que é necessário retomar o Concílio, pois ele “está na fé e no coração de toda uma geração que não pode voltar atrás. O Concílio não foi um livro, nem uma teologia, nem algumas ideias… Foi uma mudança epocal, foi um novo paradigma, uma nova forma de crer, não impulsionada por alguns teólogos ou bispos, mas por um novo Pentecostes… Isso não é reversível. O Concílio, então, está aí: reprimido, esquecido, marginalizado por muitas autoridades, mas está aí nos corações e na fé do povo e de infinidade de agentes de pastoral. Muita hierarquia não quer ver, nem escutar; olha para outro lugar. É uma situação de esquizofrenia na Igreja, que só será superada quando se voltar a reconhecer e acolher o que o Espírito fez pela Igreja no Concílio”.
Defendendo a retomada do Vaticano II, Vigil entende que não há necessidade imediata de um novo concílio. Isso não seria possível, nem conveniente, pois “essa situação de esquizofrenia [na Igreja] continua, e não é um ambiente sadio para fazer um concílio. Sobretudo porque, durante o último quarto de século, os bispos católicos foram eleitos confessadamente conservadores, reservando a representação e o governo da Igreja a só uma mentalidade, excluindo precisamente os cristãos mais representativos do espírito conciliar”.
Desse modo, a partir de um olhar crítico e, ao mesmo tempo, esperançoso, Vigil analisa as possibilidades da Igreja na perspectiva do Concílio Vaticano II, evento eclesial que celebra, em 2012, 50 anos de abertura.
Vigil, que é padre claretiano, tem formação em Teologia pela Universidad Pontificia de Salamanca. Na Universidade de Santo Tomás de Roma, licenciou-se em Teologia Sistemática. Em Salamanca, Madri e Manágua estudou Psicologia. É doutor em educação pela Universidade La Salle de San José, Costa Rica. Dentre seus livros, destaca-se Teologia do pluralismo religioso. Para uma releitura pluralista do cristianismo (Paulus, 2006). Vigil é o responsável pela Comissão Teológica na América Latina da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT/EATWOT). Também colabora com o sítio Servicios Koinonía.
Em entrevista concedida à revista IHU On-Line, falando sobre sua própria experiência de acompanhamento do Concílio e suas novidades na Igreja, Vigil expressa: “posso dizer que o Concílio Vaticano II faz parte de minha vida pessoal, como um dos acontecimentos que mais profundamente a marcaram. Sou daquela geração que chegou à maioridade da fé com o próprio Concílio. Tivemos a fortuna de ser formados na experiência religiosa anterior, no tempo de Pio XII, quando éramos meninos e adolescentes… Ou seja, pudemos conhecer o cristianismo pré-conciliar, que é quase o mesmo cristianismo medieval... No Concílio, a Igreja mudou em sete anos mais que nos sete últimos séculos. Por isso, para nós, os convencidos da mudança epocal que o Concílio supunha, a sua implementação constituiu-se na nossa tarefa para toda a vida, a nossa vocação. Foi maravilhoso! O acompanhamento do pós-concílio tem sido diferente, doloroso com certeza, mas cheio de esperança. Porque, como disse Neruda, ‘poderão cortar todas as flores, mas não poderão deter a primavera’. Nem o inverno mais longo...”
No artigo O Concílio Vaticano II e sua recepção na América Latina, publicado na Revista Eclesiástica Brasileira (n. 262), Vigil compreende que a recepção do Concílio teve dois momentos: um primeiro pós-concílio que compreende o período de 1965 a 1980, no qual as decisões conciliares foram recepcionadas de forma fiel e criativa, sobretudo na Igreja latino-americana; e um segundo pós-concilio, que se inicia em 1980 e prossegue até hoje, em que há uma ‘involução vaticana e mundial’ e que tem repercussão também na América Latina.
O teólogo entende que as dificuldades que impediram o avanço das decisões conciliares têm origem nos próprios setores conservadores da Cúria vaticana que estiveram presentes no tempo de Paulo VI e que, a partir do papado de João Paulo II, fortaleceram-se. Vigil afirma à IHU On-Line que “os historiadores deverão dizê-lo, mas eu acho que, ao menos em relação dos grandes concílios da Igreja, não houve na história um outro caso de concílio que fosse desfeito pela própria Igreja. Foi o Concílio que suscitou maior e mais entusiasta aceitação da parte do Povo de Deus, e também a maior resistência do próprio povo ao movimento de ‘restauração’, implementado pela hierarquia contra ele. Isso tudo já é história, religiosa e civil, pública e conhecida até pela sociedade civil”.
Tendo presente o atual momento da história da Igreja, Vigil defende que é necessário retomar o Concílio, pois ele “está na fé e no coração de toda uma geração que não pode voltar atrás. O Concílio não foi um livro, nem uma teologia, nem algumas ideias… Foi uma mudança epocal, foi um novo paradigma, uma nova forma de crer, não impulsionada por alguns teólogos ou bispos, mas por um novo Pentecostes… Isso não é reversível. O Concílio, então, está aí: reprimido, esquecido, marginalizado por muitas autoridades, mas está aí nos corações e na fé do povo e de infinidade de agentes de pastoral. Muita hierarquia não quer ver, nem escutar; olha para outro lugar. É uma situação de esquizofrenia na Igreja, que só será superada quando se voltar a reconhecer e acolher o que o Espírito fez pela Igreja no Concílio”.
Defendendo a retomada do Vaticano II, Vigil entende que não há necessidade imediata de um novo concílio. Isso não seria possível, nem conveniente, pois “essa situação de esquizofrenia [na Igreja] continua, e não é um ambiente sadio para fazer um concílio. Sobretudo porque, durante o último quarto de século, os bispos católicos foram eleitos confessadamente conservadores, reservando a representação e o governo da Igreja a só uma mentalidade, excluindo precisamente os cristãos mais representativos do espírito conciliar”.
Desse modo, a partir de um olhar crítico e, ao mesmo tempo, esperançoso, Vigil analisa as possibilidades da Igreja na perspectiva do Concílio Vaticano II, evento eclesial que celebra, em 2012, 50 anos de abertura.
30 de junho de 2012
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/511014-o-concilio-vaticano-ii-50-anos-depois-e-as-indicacoes-para-uma-semantica-do-misterio-da-igreja-uma-analise-a-partir-jose-maria-vigil
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